Por Mair Pena Neto
A tentativa de decretar o fim da história, com o triunfo do
liberalismo e a extinção da luta de classes e do que seja esquerda e
direita no campo político, vai sendo enterrada pela prática como bom e
velho critério da verdade. Não é preciso se debruçar sobre conceitos e
análises elaboradas. Basta olhar o que aconteceu no despejo de 1.600
famílias no Pinheirinho, em São José dos Campos, para constatar os evidentes interesses de classe e as diferentes visões políticas.
O que estava em jogo era o destino de milhares de pessoas, pobres e
sem teto, que ocupavam há oito anos a área de uma fábrica falida, e os
interesses do megaespeculador Naji Nahas, o dono (?) do terreno, que tem
contas a prestar ao Estado e à Justiça. Uma questão social, e não de
polícia, como a direita sempre a encarou. Basta ver o protagonismo da
ação policial em São Paulo. Ela
se dá contra estudantes, dependentes de crack, sem teto, sempre em
defesa da ordem vigente, da propriedade privada e dos poderosos.
O litígio no Pinheirinho vinha se acirrando com decisões judiciais
controversas e passou a ter a presença direta do governo federal,
através da Secretaria Geral da Presidência, interessado numa solução
negociada, que preservasse as famílias, com a construção de moradias
populares no local. O governo federal estava disposto a se associar ao
estadual na compra do terreno, numa ação conjunta para encerrar o
impasse e evitar a violência prestes a explodir.
Mas não foi esse o entendimento do dono da área - aliás já um bairro,
com casas montadas e famílias instaladas -, interessado em faturar mais
com a valorização do local, que contou com os préstimos da Justiça
estadual e dos governos de São José dos Campos e de São Paulo para
atirar dois mil policiais, blindados e helicópteros sobre a massa, numa
demonstração desnecessária de selvageria e brutalidade, que macula o
estado de Direito e democrático. Justiça (apressada) e polícia
(violenta), mais uma vez, se tornaram instrumento dos poderosos contra
os desvalidos. E o poder público paulista amparando toda a ação é célere
ao enviar os tratores logo após o despejo, demolindo os imóveis sem
sequer dar tempo para que muitos retirassem os seus pertences.
A ação policial atropelou as tentativas de solução negociada em
curso, que incluíam a presença no local, no momento do despejo, de um
representante da Secretaria Geral da Presidência, atingido por balas de
borracha. O ministro-chefe da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho,
tratou de sublinhar as diferenças entre governo federal e estadual: "Esse
não é um método nosso, do governo federal. Nós achamos que tinha alguma
coisa que poderia ser esgotada ainda no diálogo e, sobretudo, uma saída
negociada e humana para as famílias, sem a necessidade daquela praça de
guerra que foi armada."
O governo de São Paulo e o PSDB também deixaram clara a sua visão.
Decisão judicial não se discute, por mais que não seja a de última
instância, envolva vidas humanas e que ainda existam canais abertos para
uma solução menos traumática. "O governo de São Paulo agiu em
cumprimento de determinação do Judiciário, e a operação foi comandada
diretamente pela presidência do Tribunal de Justiça paulista. Enquanto o
governo federal só agride, o governo paulista e a prefeitura do
município providenciam a ajuda necessária para minorar o sofrimento das
famílias desalojadas", disse o PSDB em nota.
Essa distinção na maneira de lidar com conflitos sociais é
fundamental para desmascarar os que tentam pregar a não existência entre
esquerda e direita, como se tanto fizesse escolher entre uma e outra
nos processos eleitorais. Esse é um discurso dissimulado do qual a
direita se vale para tentar atrair os mal informados e a pouco
politizada classe média ascendente. Mas, no fundo, ela continua a ser a
antiga e conservadora tendência, que deseja reduzir o papel do Estado,
entregando o país aos mercados, e está sempre pronta a tratar as
questões sociais como caso de polícia.
3 comentários:
QUEREM SAMPA, SENHORES VERMELHOS: TRABALHEM, VAGABUNDOS!
Cumpadi, penso o seguinte. A Direita puxou o gatilho e a Esquerda não levantou o escudo a tempo. Foi isso que aconteceu.
Segue o link de um texto do Vladimir Aras (Membro do Ministério Público Federal, Mestre em Direito Público pela UFPE e Professor de Processo Penal na UFBA):
O Pinheirinho e o naufrágio da Justiça
http://www.viomundo.com.br/politica/vladimir-aras-pior-que-o-naufragio-do-comandante-schettino.html
É um soco no estômago, um chute na cara do Poder Público, de todas as esferas, dos três poderes.
De quebra, mostra o braço togado da "Direita Oligárquica" agindo, sem medo, em todo o seu esplendor, numa manhã de domingo. Confira.
Gde abraço.
Esse "Anônimo" vem gastando o tempo ocioso dele enviando comentário que não publico.
Fico rindo da tabaquice desse cara... Vá arrumar uma lavagem de roupa, mané!kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Oh... Todas as vezes que vc digita, está perdendo seu tempo, pois eu estou deletando... kkkkkkkkkkkk
Cuidado com tendinite! kkkkkkkkkkk
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