O que leva a Globo a ser tão detestada?
Vi
o vídeo acima no Facebook, e ele é expressivo. Mesmo numa manifestação
que não o dedo do PT e dos petistas, a Globo provoca repulsa. E isso
quando o repórter que a representa tem a estatura e o relativo prestígio
de Caco Barcellos.
O problema
está no passado. Roberto Marinho, o homem que fez a Globo ser o que é,
adquiriu uma imagem poderosa de aproveitador. Na percepção
generalizada, o regime militar favoreceu Roberto Marinho – a começar
pela concessão que permitiu a criação da TV Globo — e recebeu em troca
um copioso apoio editorial.
A
rejeição à Globo se origina nisso – e diversos esforços feitos sobretudo
depois da morte de Roberto Marinho fracassaram no objetivo de melhorar a
imagem da Globo.
É um paradoxo
que, sendo tão odiada, a Globo seja tão vista – ainda que sua audiência,
na Era Digital, venha minguando. (Uma reportagem da Folha mostrou que,
desde o começo das medições, jamais foi tão baixo o público da Globo
como em 2011.) O virtual monopólio da Globo como que forçou o espectador
a sintonizar nela em muitas ocasiões, ainda que tapando o nariz. No
futebol, por exemplo.
Que a
audiência não se traduziu em prestígio fica claro quando se vê a
influência da Globo sobre os eleitores. A má vontade da Globo em relação
a Lula e a Dilma – o diretor do telejornalismo Ali Kamel, um dos
“aloprados” da emissora, é fanaticamente antipetista, bem como
comentaristas como Merval Pereira e Arnaldo Jabor, para não falar no
âncora William Waack – não impediu que o PT vencesse as últimas eleições
presidenciais.
A Globo,
indiretamente, sempre se beneficiou da brutal inépcia dos concorrentes
na televisão quer em conteúdo, quer em gestão. É uma aberração que a
Record, movida pelo dinheiro fácil extraído dos crédulos, simplesmente
copie a Globo em vez de fazer coisa nova e superior. Se inovasse, em vez
de imitar, a Record atalharia a disputa pela liderança, ajudada pelo
cansaço da programação da Globo, expressa em programas como o
Fantástico. Mas os bispos parecem muito entretidos com seus sermões
caçaníqueis para ver a programação de emissoras como a BBC, de onde
poderia ver a inspiração para um salto de qualidade.
A
falta de opções do telespectador ajudou a Globo a seguir adiante mesmo
atraindo tanto ódio. Mas agora a festa tende a acabar por causa da
internet. Se a concorrência não oferece alternativa, a internet dá às
pessoas possibilidades infinitas de se livrar da Globo.
Para
a Globo, ontem foi melhor que hoje e hoje vai ser melhor que amanhã. No
futuro, as pessoas tentarão explicar como uma emissora tão antipatizada
pôde ter a audiência que um dia teve.
Paulo Nogueira
No Diário do Centro do Mundo, via Com Texto Livre
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