sábado, 28 de janeiro de 2012

Uma exibição eloquente do padrão 'Veja' de “jornalismo”

Reinaldo Azevedo: a encarnação do jornalismo de esgoto

Peço desculpas por conspurcar este espaço novamente com o que virá a seguir, mas não poderia deixar passar a exibição de desonestidade intelectual e de mau jornalismo que o blogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo protagonizou em matéria que pretendia “desmascarar” os que relatam os horrores ocorridos no Pinheirinho.

Na última quinta-feira, o portal Terra relatou que ONGs que atuam por lá haviam divulgado nomes de pessoas que, segundo as suas famílias, estavam desaparecidas. Nem na matéria do Terra nem nas outras que dela decorreram – inclusive na que este blog publicou – houve qualquer afirmação de que os desaparecidos estariam mortos.

Todavia, devido ao fato de que alguns veículos da dita “grande imprensa” não buscam informar seu público, mas manipulá-lo, o tal blogueiro da Veja acaba de fornecer uma das provas mais contundentes do tipo de “jornalismo” que seu empregador pratica e que ele mesmo adota por razões óbvias.

Se você, leitor, for a uma escola do ensino fundamental e perguntar a uma criança de dez anos qual é a diferença entre “desaparecido” e “morto”, ela saberá explicar. Provavelmente, esse blogueiro não deve ter frequentado o ensino fundamental e tampouco deve haver dicionários na Veja.

Essa pessoa que teve denúncia de desaparecimento feita por parentes se chama Gilmara. Durante a última sexta-feira, até por conta do noticiário, ela acabou sendo localizada.

O blogueiro da Veja, então, ligou para Gilmara e fez o que chamou de “entrevista” visando contestar um dos desaparecimentos. A “entrevistada”, no áudio que esse blogueiro divulgou, além de tudo revela que a informação sobre seu desaparecimento foi dada por sua família, o que mostra que ninguém inventou nada.

Nem vamos tratar do fato de que ainda podem surgir outras listas de desaparecidos além dos que ainda não foram encontrados – até a sexta-feira, ainda havia pelo menos dois. Isso sem falar que o IML, após quase uma semana, ainda não liberou a lista dos mortos que deram entrada de domingo passado para cá, conforme informação do advogado das famílias.

No áudio em que aparece conversando com a mulher, o tal Azevedo pergunta se havia alguma taxa cobrada por sindicalistas e militantes de partidos e a “entrevistada” diz que contribuía com “dez reais por mês”, sim, mas que era uma contribuição espontânea, contrariando ilações sobre partidos e sindicalistas extorquirem aquela população.

Fica, assim, um desafio ao blogueiro da Veja: que ele diga, exatamente, onde foi que viu a afirmação de que a senhora Gilmara estaria morta, porque não consegui achar tal afirmação em outra parte que não na página desse mesmo blogueiro. Aliás, essa deve ser a razão pela qual a sua matéria não dá nomes aos bois, como sempre faço aqui.

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