Descobriram, na Espanha, uma cópia idêntica da Mona Lisa do Leonardo da Vinci. O que provocou várias especulações:
1 — O xerox e o scanner são mais antigos do que se pensava.
2 — O autor da pintura foi o próprio Da Vinci, que fez várias cópias da sua Gioconda para vender no mercado paralelo.
3 — O autor foi um discípulo de Da Vinci que copiou a obra do mestre.
A
última hipótese é a mais provável, mas as especulações não ficarão por
aí. O fascinante em descobertas como esta é que, como é impossível saber
exatamente o que aconteceu há séculos, tudo é especulação e a
imaginação se solta. A pintura revelada agora tem seus mistérios. A Mona
Lisa copiada parece mais jovem do que a original. Seu sorriso é mais
inocente do que enigmático — é o de uma Mona Lisa antes de saber das
coisas da vida.
Um fundo preto
que distinguia a cópia do original foi retirado e apareceu um fundo
igual ao pintado por Da Vinci. Por que o discípulo teria camuflado a
paisagem toscana do mestre? Outros discípulos fizeram cópias parecidas, e
que fim estas levaram?
A imaginação se solta. No seu livro “A mouthful of air”,
Anthony Burgess lembra uma tese, ou uma lenda, que se espalhou sobre a
feitura da versão inglesa da Bíblia encomendada pelo rei James I e
publicada em 1611. O rei convocou um time de quarenta e sete tradutores
do grego e do hebraico, alguns para traduzir o Velho Testamento, outros
para traduzir o Novo, alguns para as partes proféticas e outros para as
partes poéticas.
E, segundo a
lenda, provas das escrituras poéticas teriam sido distribuídas entre os
poetas profissionais da época para darem uma polida no texto, desde que
não desvirtuassem a tradução. O que explicaria a presença do nome de
Shakespeare no Salmo 46 — “shake” a 46ª palavra a contar do princípio,
“speare” a 46ª palavra a contar do fim.
Segundo
Burgess, sem nenhuma esperança de ter algum tipo de posteridade com
seus versos, o poeta teria ao menos deixado seu nome, mesmo cifrado,
numa obra histórica. Mas o próprio Burgess não acreditava na lenda.
O
passado, já disse alguém, é uma terra estranha. Só se pode conhecê-lo
pela especulação e visitá-lo pela imaginação. E se a Mona Lisa da
Espanha for a verdadeira e a do Louvre uma cópia? Como a presença ou não
do Shakespeare entre os tradutores dos salmos, jamais saberemos.
Luís Fernando Veríssimo
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