sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Herdeira da Daslu, Eliana Tranchesi morre aos 56 anos em SP

Morreu no início desta madrugada, aos 56 anos, a empresária Eliana Piva de Albuquerque Tranchesi, ex-dona da Daslu, maior butique de luxo do país. Ela estava internada no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Segundo nota do hospital, a empresária morreu em decorrência de um câncer pulmonar, contra o qual lutava desde 2006, complicado por pneumonia. 

O velório do corpo começou ao meio-dia. Depois, será encaminhado para o cemitério do Morumbi, na zona sul da capital paulista, onde o enterro acontece às 15h.

Eliana foi casada como o médico Bernardino Tranchesi e tinha três filhos: Bernardo, 26, Luciana, 23, e Marcela, 20.

Religiosa, tinha o hábito de ir à missa aos domingos. Na Daslu há até uma capela, onde uma missa, fechada aos mais íntimos, serviu de cerimônia de "passagem". Eliana apontou para Deus quando tentou traduzir o segredo do sucesso. "Acho que o segredo do meu sucesso é Deus e trabalhar feliz, em um astral bom", disse a empresária dias antes de inaugurar a Villa Daslu na zona sul de São Paulo, em 2005.

O câncer acabou por afastá-la do comando da Daslu.

Em setembro de 2006, quando revelou que havia retirado um tumor do pulmão e que iniciaria sessões de quimioterapia e radioterapia, ela afirmou que "a crise da Daslu [leia mais abaixo] e mais o câncer me fizeram sentir como se eu fosse uma criança deixando abruptamente a Disney. Até então, eu imaginava a vida como uma grande brincadeira [...]. A Daslu é a Disney, onde tudo é lindo, as vendedoras são lindas, o cabelo é lindo, a roupa é linda, é tudo bonito. É tudo agradável. Então, de repente, você sai desse mundo da Disney e cai lá dentro do [hospital Albert] Einstein já com um monte de pacientes com câncer". 

DASLU

A loja nasceu quando Tranchesi tinha apenas um ano de idade, na sala da casa de sua mãe, Lucia Piva. O nome vem da junção dos nomes das primeiras sócias da loja, Lucia e Lourdes Aranha, ambas apelidadas de Lu.

Eliana herdou a Daslu após a morte da mãe. Ela sempre afirmou que gostava de comprar, mas nunca havia pensado em tocar os negócios. Ao assumir o controle da butique, deixou de lado o sonho de ser artista plástica. Começou a trajetória como vendedora, prática na loja entre as atuais diretoras e gerentes. Desde o início, ela contou com a ajuda dos irmãos no negócio.

A loja virou uma grife e, a partir dos anos 90, começou a trabalhar com importados, quando as importações foram liberadas pelo então presidente Fernando Collor de Mello. Eliana foi para a Europa e voltou com a mala abarrotada de marcas famosas que caíram no gosto dos endinheirados brasileiros. A partir daí, a Daslu virou referência para quem tinha dinheiro para gastar e queria ver e ser visto.

Em 2005 a Daslu movimentava ao ano mais de R$ 400 milhões em vendas, segundo a conta de especialistas. Eram mil empregados, sendo 200 "dasluzetes" - apelido das vendedoras que recebem até R$ 15 mil (incluindo comissão) por mês. Entre 75% e 80% das pessoas que vão à Daslu não vão embora da loja sem comprar alguma coisa. Já em shoppings, essa taxa varia de 15% a 30%.

Em investimentos, os volumes também são altos. Para a inauguração da nova Daslu - o espaço de 20 mil metros quadrados, incluindo o terraço, aberto ao público em junho de 2005 -, foram gastos R$ 200 milhões. Estima-se que R$ 40 milhões tenham sido bancados pela própria Daslu, e o restante, rateado entre as grifes que estão na operação comercial.

De fevereiro de 2008 a fevereiro de 2010, A Villa Daslu - shopping com 70 lojas anexa à boutique de luxo Daslu - foi gerenciada pela BR Malls, maior empresa do setor de shoppings centers do país.

A Villa Daslu já foi fechada. Hoje a grife tem uma loja em São Paulo, no Shopping Cidade Jardim, e outra no Rio de Janeiro, no Fashion Malls. Uma terceira loja, em São Paulo, deverá ser inaugurada em abril. 

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Desde julho de 2010, a Daslu estava em recuperação judicial, mecanismo que substituiu a antiga concordata e que permite a suspensão do pagamento das dívidas enquanto é negociada uma saída para a crise. A loja passa por dificuldades desde 2005, quando foi alvo da operação Narciso, realizada por Receita, Ministério Público e Polícia Federal (leia mais abaixo).

Em fevereiro do ano passado, a grife foi comprada pelo Fundo Laep Investments, investidor do mercado de capitais que se tornou especialista em comprar empresas à beira da falência. O negócio foi aprovado pelos credores da butique há exatamente um ano, no dia 24 de fevereiro de 2011. O fundo oferecereu o valor simbólico de R$ 1.000 pela Daslu e se comprometeu a colocar R$ 65 milhões na empresa.

Esse valor inclui um crédito de R$ 44 milhões em dívidas da antiga Daslu e ainda um aporte de R$ 21 milhões - único dinheiro novo que entra na empresa.

Pela proposta, o novo dono assumiu toda a dívida de R$ 80 milhões - excluindo a pendência da Daslu com a Receita Federal, estimada em até R$ 500 milhões - que fez parte da recuperação judicial.

As dívidas da Daslu com o fisco paulista somavam cerca de R$ 500 milhões (incluindo multas por sonegação de ICMS), segundo advogados. Parte desse total (R$ 60 milhões) foi paga quando a Daslu aderiu ao programa de parcelamento do fisco. Com a Receita Federal, estima-se que as multas por sonegação somem R$ 400 milhões. Esses valores foram atualizados até julho de 2010. 

POLÍCIA FEDERAL

Em 13 de julho de 2005, teve início a operação Narciso, da Polícia Federal, onde Tranchesi era suspeita de cometer crime de sonegação fiscal nas importações da Daslu.

Ela foi detida e liberada no mesmo dia. Antonio Carlos Piva Albuquerque, irmão de Eliana e seu sócio na butique, e Celso de Lima, ex-contador da Daslu e dono da importadora Multimport (uma das principais da loja), ficaram presos durante cinco dias.

Segundo o Ministério Público Federal, as investigações sobre supostos crimes cometidos pela Daslu duraram cerca de dez meses.

Em março de 2009, Eliana e seu irmão foram condenados a 94,5 anos de prisão, sendo três anos por formação de quadrilha, 42 anos por descaminho consumado, 13,5 anos por descaminho tentado e 36 anos por falsidade ideológica.

Para Celso de Lima, a pena de 53 anos incluiu três anos por formação de quadrilha, 21 anos por descaminho consumado, nove por descaminho tentado e 20 por falsidade.

As sentenças levaram em conta a teoria do "concurso material", ou seja, que os crimes não foram cometidos em sequência e num mesmo momento, o que permite que se somem todas as penas.

Em sua decisão, a juíza Maria Isabel do Prado mencionou que a "organização criminosa" também devia ser presa por ter "conexões no estrangeiro" e ter dado prosseguimento aos crimes mesmo depois de descobertos a primeira vez (em 2005), mudando-se apenas o eixo de atuação de São Paulo para o sul do Brasil. "Os acusados praticaram crimes de forma habitual, como verdadeiro modo de vida, ou seja, são literalmente profissionais do crime", escreveu.

Fonte: Folha.com


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