Mário Augusto Jakobskind
Enquanto as mais diversas mídias de mercado continuam a
bombardear Cuba com antigos preconceitos da época da Guerra Fria, no
Atlântico Sul o velho colonialismo de um país, o Reino Unido, com
nostalgia de um passado de dominação forçada segue com toda a força. É o
que revelam as últimas notícias sobre o enclave das Malvinas, área onde
foram descobertas riquezas petrolíferas.
David Cameron, o conservador herdeiro de um país falido e que se
tornou um apêndice dos Estados Unidos na Europa, usa de retórica ao
atacar a Argentina como nos velhos tempos. Teve a ousadia de atribuir ao
governo de Cristina Kirchner “vocação colonialista”. É o tal fenômeno
da transferência, pois é notório que apesar de hoje não ter mais terras
de sol a sol, o ranço colonialista não foi abandonado, seja pelos
Partidos Trabalhista ou Conservador britânico.
Seguindo a tradição, o governo britânico enviou modernos navios de
guerra e de quebra está por lá nas Malvinas o príncipe Williams para
treinar pilotagem de helicóptero. Os britânicos ocupam desde o século
XVIII terras que pertencem aos argentinos e alegam primariamente que os
habitantes das ilhas apoiam a dominação.
Há quase 30 anos houve uma guerra mal conduzida pelos militares
argentinos, que se aproveitaram de uma causa justa para manterem-se no
poder. Madame Margareth Thatcher, depois de enviar navios de guerra com
ogivas nucleares aproveitou o embalo para se fortalecer internamente.
O tiro dos militares argentinos então saiu pela culatra, precipitando
o fim da ditadura. Sabem o motivo? Os militares tinham se especializado
em torturar argentinos opositores e não souberam enfrentar as forças de
ocupação, haja vista, por exemplo, o então capitão Alfredo Aziz, o Anjo
da Morte, que literalmente se borrou quando foi preso.
A derrota dos argentinos não significou a desistência de o país
retomar as terras roubadas pelo colonialismo britânico. Hoje, o
primeiro-ministro David Cameron usa argumentos que não resistem a menor
análise para justificar a continuidade da dominação da área que os
britânicos denominam Falklands.
A América Latina de 2012 é bem diferente daquele de abril de 1982
quando da guerra das Malvinas. Os que se colocavam mecanicamente contra a
Argentina por estar o país sob o jugo de uma ditadura cruel não podem
mais repetir a tese. Hoje, os governos democráticos do Mercosul -
Brasil, Uruguai, Paraguai – e demais do continente latino-americano têm a
obrigação de cerrar fileiras em defesa intransigente da Argentina,
felizmente vivendo na plenitude democrática.
É preciso mostrar ao mundo e as potências que utilizam as mesmas
táticas coloniais de sempre que a Argentina não está só em sua exigência
de retomada das Malvinas.
Em 1982, ignorando solenemente a doutrina segunda a qual os países
americanos sofrendo incursões militares de fora da região devem ter a
solidariedade e o apoio integral de todo o continente, o então governo
dos Estados Unidos (Ronald Reagan) ficou ao lado do colonialismo do
Reino Unido.
Hoje, sob o governo de Barack Obama, os EUA defendem a mesma posição
de antes, até porque necessitam do Reino Unido para incursões do gênero
colonial como as ocorridas no Iraque, no Afeganistão e mais recentemente
na Líbia, país onde os Médicos Sem Fronteira decidiram sair porque em
várias cidades não adiantava nada a sua presença. É que, segundo os
Médicos Sem Fronteira, depois de medicados os líbios vinculados ao
regime deposto voltam às prisões para serem torturados e voltam a ficar
em precárias condições de saúde.
Desta forma que os EUA, Reino Unido, França, Itália, Qatar e demais
países do Golfo estão trazendo a democracia no país do Norte da África.
Em relação a Cuba, a mídia de mercado voltou suas baterias contra o
regime cubano. E daqui para frente os estereótipos de sempre retornam
com toda a força, sobretudo pelo fato de no próximo mês de março a ilha
caribenha receberá a visita do Papa Bento XVI, que, convenhamos, nem
progressista é.
No final de dezembro, em discurso proferido no encerramento do ano
legislativo (Assembleia Popular), o Presidente Raúl Castro anunciou a
promulgação de 2.900 indultos de presos com mais de 60 anos e que não
cometeram delitos que provocaram mortes. Entre os indultados se
encontravam cubanos condenados pela Justiça por conspirarem contra o
Estado e que já cumpriram parte das penas ou que tinham problemas de
saúde. Não houve praticamente divulgação a respeito.
Quanto à blogueira Yoani Sánchez, quem conhece minimamente Cuba sabe
perfeitamente que ela fala por ela mesma e é alimentada por segmentos
mais radicais de direita do exílio cubano. É absolutamente sem sentido
reproduzir, sem checar, como fez O Globo, a afirmação da blogueira de
que “nas ruas de Havana os cubanos comentam que Dilma veio a Cuba com a
carteira aberta e os olhos fechados”.
Qualquer um que visite Cuba e perguntar nas ruas quem é Yoani
Sánchez, que se intitula porta-voz dos cubanos, vai obter a resposta:
mas quem é Yoani? Isso não impede de encontrar circulando por Havana e
outras cidades pessoas descontentes com o regime cubano e até mesmo um
taxista particular circulando tranquilamente com uma bandeirola
estadunidense em seu veículo. E assim sucessivamente, embora a maioria
dos que foram consultados por este jornalista apoiassem o governo, por
entenderem perfeitamente que mesmo com todos os defeitos não aceitam o
retorno a um tempo em que a ilha caribenha era um mero entreposto dos
Estados Unidos.
Mas a blogueira prefere dizer que antes de 1 de janeiro de 1959, ou
seja, antes do triunfo da revolução, havia em Cuba “liberdade de
expressão”.
Por estas e muitas outras, entende-se porque Yoani Sánchez consegue
tanto espaço pelo mundo afora e ganha tantos prêmios muito valorizados. E
também porque o Instituto Millennium a convidou para escrever pelo
menos de 15 em 15 dias em espaços da mídia de mercado do Rio e São Paulo
e com direito a reprodução em jornais de outros Estados.
Independente da decisão do governo cubano de não conceder permissão
da blogueira vir ao Brasil, a mídia de mercado aproveitaria da mesma
forma a vinda para se voltar contra Cuba. Uma pergunta: quem financia
Yoani Sánchez?
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