Desde a redemocratização a mídia ganhou o poder de pautar a Justiça.
Qualquer escândalo, fundamentado ou não, acaba induzindo à abertura de
inquéritos pelo Ministério Público ou de CPIs pelo Congresso.
É uma das armas mais poderosas da velha mídia, mas cuja eficácia
tende a se diluir com o tempo, devido ao pouco critério no tratamento
das denúncias; e à desconstrução pela Internet das denúncias vazias.
Mas, como poder extremamente lento, cauteloso, a Justiça leva algum tempo para entender os novos tempos.
De repente, surgem dois fatos relevantes, fora da órbita de
escandalização da mídia: as denúncias do livro "A Privataria Tucana" e o
inquérito sobre a lista de Furnas.
No primeiro caso, a disseminação das informações do livro se deu
exclusivamente pelas redes sociais. Tivesse sido através dos jornais,
certamente estimularia a abertura de inquérito pelo procurador geral
Roberto Gurgel.
A coluna estapafúrdia de Merval Pereira - sobre o
suposto critério da mídia para formular denúncias em contraposição à
falta de critérios da mídia nova - tentou ser uma espécie de vacina para
segurar qualquer movimento do MPF. Ele nao escreveu para os leitores do
Globo, mas para o MPF e a Policia Federal
Gurgel sabe que não existe critério algum no denuncismo midiático.
Mas o artigo de Merval serve como um habeas corpus para sua não atuação.
No caso da lista de Furnas, o inquérito ganhou vida própria no MPF.
Mais uma vez a mídia tenta ocupar o lugar do juiz, através de um
conjunto de matérias falsas veiculadas pela Veja. E, agora, através
desse factoide do perito norte-americano - em matérias veiculadas pela
Veja e pelo Estadão.
Essa estratégia não resistiu a meio dia, desmontada pela informação
de que o perito foi condenado por falsidade ideológica. É a rede
ajudando a definir os contrapesos, dos quais a Justiça parece ter aberto
mão, na hora de definir limites ao uso político da notícia.
Por trás de todos esses movimentos, a grande batalha da velha mídia para manter seu poder de pautar a Justiça.
Por Luís Nassif
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