Por Mair Pena Neto
A presidente Dilma Rousseff completou uma viagem de 48 horas a
Cuba, comportando-se como verdadeira estadista, reforçando as relações
entre os dois países e evitando os ardis plantados para que agisse como
porta-voz dos Estados Unidos, reproduzindo as ladainhas provenientes de
Miami e da Casa Branca. Dilma foi a Cuba em visita oficial para
estreitar os laços com um país que precisa de mais investimento e de
mais produtividade para avançar economicamente e manter suas conquistas
sociais.
Assim como aconteceu com Lula, foi cobrado de Dilma que se manifestasse sobre a situação dos direitos humanos em Cuba. O
que os responsáveis pelas cobranças desejavam, no fundo, era que ela
sequer fosse lá, como todos os presidentes brasileiros desde a revolução
de 1959 até Lula. Mas já que Dilma, assim como Lula, não se rende à
agenda ditada de Washington, que se manifestasse publicamente contra as
restrições políticas na ilha.
É curioso como a questão dos direitos humanos em Cuba “sensibiliza”
tanto certas pessoas. Não se vê a mesma indignação em relação a qualquer
outro país. Ninguém pediria que Dilma, em viagem aos Estados Unidos, se
posicionasse publicamente pelo fechamento de Guantánamo, em pleno
território cubano, mesmo com a cobrança recente feita pela
alta-comissária para os Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas, Navi Pillay, que apontou a base como local de constante violação
destes direitos.
Dilma se recusou a tratar a questão dos direitos humanos como arma de
combate político ideológico, e frisou que desrespeitos acontecem em
todos os países, inclusive no Brasil. Não seria nada agradável para nós
recebermos a visita de um chefe de Estado estrangeiro e ouvir
comentários sobre a violência da ação de despejo dos moradores do
Pinheirinho ou sobre a desumanidade da maior parte dos nossos presídios.
O Brasil é um país que aposta nas relações multilaterais como forma
de pressão e de resolução de conflitos. Ele não vai fazer o papel de
juiz do mundo e sair por aí condenando outros países, até porque tem
suas próprias mazelas. Isso não significa omissão, pois o Brasil ganhou
recente relevância no cenário internacional justamente por sua ação
diplomática independente e soberana, que o leva a ser convocado a atuar
nas mais complexas questões mundiais. Temas delicados, como direitos
humanos, não se tratam com bravatas unilaterais, principalmente quando
envolvem nações em situações extraordinárias, como a cubana, vítima de
um bloqueio implacável há meio século.
Diria que a visita da presidente do Brasil a Cuba transcorreu de
forma impecável e com acentuado caráter político. No trabalho prévio às
48 horas que ela passou na ilha, o chanceler brasileiro Antonio Patriota
conversou com autoridades cubanas sobre questões relativas aos direitos
humanos, e o Brasil concedeu visto de turista à blogueira Yoani
Sánchez, que deseja vir ao país. Ao mesmo tempo, Patriota não aceitou o
discurso fácil da condenação e, assim como Dilma faria em solo cubano,
ressaltou que uma questão mais urgente e multilateral seria o fim da
base de Guantánamo.
Com o crescimento de sua economia e a capacidade financeira de que
dispõe atualmente, o Brasil tem muito mais a contribuir com Cuba
ajudando no seu desenvolvimento, com implicação direta no bem estar das
pessoas. As relações comerciais cresceram 31% de 2010 para 2011, e o
Brasil é o segundo parceiro comercial de Cuba na América Latina, depois
da Venezuela. Existem oportunidades para empresas brasileiras em Cuba,
como provam as obras de ampliação e modernização do porto de Mariel, com
a participação da Odebrecht.
Cuba precisa melhorar sua agricultura e recuperar seu parque
produtivo, e o Brasil pretende participar deste esforço com a tecnologia
e os processos desenvolvidos pela Embrapa, e, sobretudo, com um olhar
mais solidário em relação aos vizinhos latino-americanos. Sentimento
este, por sinal, muito inspirado por Cuba e seu internacionalismo,
sempre manifestado pela presença de médicos e professores, onde for
necessário, e não pelas armas ou posturas imperialistas.
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