domingo, 12 de fevereiro de 2012

A visão política de Dilma

Por Oswaldo

O julgamento das eventualidades que o "governo Dilma" enfrentaria diante de uma crise é, permita-me dizer, nada mais do que uma especulação baseada em pré conceitos (que não necessariamente pré conceitos do autor, vale dizer). Tem-se que ter uma certa desconfiança com artigos como este do Fornazieri no Estadão. Um jornal como o Estadão, mesmo ao publicar posições e opiniões que são de responsabilidade exclusiva dos autores, está longe de ser neutro ou desconsiderar sua própria posição neste jogo político. Assim, a ideia de que temos que olhar criticamente para a capacidade da mídia tradicional de formatar percepções deve valer também como auto-crítica: será que não estaríamos aceitando acriticamente a tese de que a pauta única ou principal da política em 2011 foi a corrupção, exposta no artigo do Fornazieri? Não tivemos chance de debater ao longo do ano uma série de outros eixos norteadores da política do governo federal, que reconhecidamente passaram "desapercebidos" pelas mídias tradicionais. Então, parece, no mínimo, incoerência a esta altura endossarmos a tese de que o governo está refém do denuncismo de uma mídia pretensamente redentora.

Já o artigo da Carta Maior, por mais que alimente o apetite especulativo, não passa de um artigo no melhor estilo pautado por "fontes não revelada do Palácio, mas muito próximas à presidente", dignas do que muitas vezes se critica como jornalismo marron. Não penso que mudar o critério, simplesmento porque neste caso o argumento pareça mais interessante ao tipo de especulação que se pretende, seja um exercício interessante.

No mais, temos pressupostos e preconceitos. A própria entrevista de Dilma (então candidata) publicada ontem pelo Nassif, desconstrói este pressuposto de que Dilma siga um estilo decisório baseado em reuniões fechadas e restritas, sem a participação das partes interessadas. Chega a ser estranho ver um artigo que, na sequência, afirma ingenuamente exatamente uma ideia contrária àquela que pode-se avaliar na prática.

Na questão da capacidade de externar suas posições políticas, sou da opinião de que as piores performances de Dilma foram justamente aquelas em que lhe foi impingida a pecha de "mãe do PAC" e das quais esperava-se uma imagem de docilidade e carisma. Dilma trata certos temas da política com austeridade e severidade, embora não seja uma adepta de um estilo verborrágico: basta ver a íntegra das declarações sobre direitos humanos e sobre sua participação no Fórum Social, dadas na entrevista coletiva em Cuba, isto para ficarmos com um exemplo mais recente, sem a necessidade de fazer um recuo passo a passo até a famigerada provocação feita pelo senador Agripino do DEM. Se austeridade e severidade são mal recebidos ou percebidos na política nacional, não é um problema de Dilma (ou não apenas dela), mas sim um problema nosso, um problema de todos nós, que parecemos clamar pela figura pacificadora, aquela que trará sempre uma resposta cordial em lugar de expor as contradições que estão em jogo.

É válido também observar as primeiras reações à posse da nova ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, a socióloga Eleonora Menicucci. Não se pode acusar Dilma de ter feito uma nomeação caracterizada pela falta de coragem ou que não esteja sintonizada com questões caras aos movimentos sociais, em especial o movimento de mulheres. Mas tenho certeza de que se tivesse feito uma indicação neutra, inócua, Dilma estaria neste exato momento sendo acusada de mostrar sua face conservadora, sendo acusada por não honrar a trajetória de luta das mulheres.

Em lugar disso, temos visto posições da mais completa intolerância pipocar por parte de líderes das religiões católica e evangélicas: todas as críticas tratando mais uma vez o aborto pelo prisma da oposição "bom x mau", "certo x errado", e acusando a presidenta como uma espécie de traidora da nação. Não seria o caso de nos perguntarmos: os setores sociais que perceberam a importância da nomeação de Eleonora estarão aptos a dar todo o respaldo à decisão audaciosa de sua ida para o ministério? Deixarão o debate ser pautado apenas pela intolerância religiosa e pela mídia tradicional? O respaldo social é necessário neste e em outros casos. Não se pode imaginar que esta seja uma questão cujo auge seja o momento eleitoral. Pelo contrário, o momento eleitoral representou um dos momentos de maior obscurantismo acerca deste debate. Governar todos os brasileiros não significa governar um povo que viva em concordância pacífica. Mas se o governo não é apenas líder neutro de um povo em concordância absoluta, se a política existe e se cabe a ela avaliar as condições de mudança, há que se lembrar que as condições para a mudança não estão sob controle de um governo. Em suma, olhar para Dilma como a figura de uma despota esclarecida ou como uma espécie de rainha cujos decretos se realizam e se fazem obedecer em atos de força em por passes de mágica, não parece ser uma opção interessante de debate político.

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