Romeu Prisco
Num dos últimos programas "Domingo Espetacular" (18.03.2012), a
Rede Record divulgou longa reportagem, ancorada por Marcelo
Rezende, exibindo parte da fortuna do apóstolo Valdemiro Santiago,
"dono" da Igreja Mundial do Poder de Deus, auferida graças às
contribuições (dízimos) efetuadas pelos fieis daquela seita evangélica.
Seriam fazendas e mais fazendas, compondo extensa área de terras,
para exploração de atividade agropecuária.
Isso é que se pode chamar de "briga de cachorro grande". Por trás da
citada reportagem está a Igreja Universal do Reino de Deus, do Bispo
Edir Macedo, cuja fortuna teve a mesma origem do seu "concorrente". A
Rede Record está fazendo com a Igreja Mundial do Poder de Deus, o mesmo
que a Rede Globo já fez com a Igreja Universal do Reino de Deus.
Por sua vez, o sisudo e altissonante pastor Silas Malafaia, "dono" da
Igreja Vitória em Cristo, disse que os "donos" daquelas igrejas, Bispo
Edir Macedo e apóstolo Valdemiro Santiago, são farinha do mesmo saco,
mas, nem por isso, deixa de enfatizar nos seus sermões a necessidade de
os "patrocinadores" do seu culto cumprirem as obrigações financeiras.
Também recentemente, o SBT levou ao ar matéria produzida por Roberto
Cabrini, abordando a igreja Assembléia de Deus e as pesadíssimas
acusações que recaem sobre seu "dono", apóstolo Marcos Pereira. O
missionário R.R. Soares, "dono" da Igreja Internacional da Graça de
Deus, valendo-se da sua aproximação com o Bispo Edir Macedo e o Senador
Marcelo Crivela, obteve passaporte diplomático, que até os filhos do
ex-Presidente Lula tiveram de devolver! De quebra, com o crescimento da
igreja, sustentada pelos fieis através do pagamento de carnês
das "mensalidades", R.R. Soares passou a vender assinaturas de TV a
cabo.
Mais "discretos" no momento, porém não menos envolvidos, no passado,
em incidentes "monetários", quando tentaram entrar nos EUA com elevada
quantia de dólares, não declarada, estão a Bispa Sonia e o apóstolo
Estevam Hernandes, "donos" da Igreja Renascer. Foram presos,
processados, condenados e cumpriram pena em regime domiciliar. Centenas
de outras igrejas evangélicas de menor porte estão espalhadas pelo país.
Vários são os aspectos dessas igrejas, que chamam a atenção. O
primeiro deles é o tratamento dispensado aos seus titulares, ou
responsáveis, chamados de "donos", como se se tratasse de negócios
comerciais, autênticos filões do mercado, ainda não totalmente
esvaziados. Aliás, esvaziados estão ficando os templos dos
outros credos religiosos. Esses "donos" falam descaradamente em nome de
Deus, com a maior naturalidade, como se do Senhor fossem procuradores.
Suas igrejas ocupam largos e onerosos espaços na televisão, oferecendo
aos fieis os mais variados "pacotes" de cura física e espiritual, com
direito à vaga eterna no reino divino. Realizam enormes concentrações e
marchas, cada vez angariando mais seguidores.
Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que este texto não se
refere ao evangelismo propriamente dito, mas sim aos espertalhões que
dele se valem para obter rápido enriquecimento, lícito apenas na
aparência. Se as suas atividades fossem rigorosamente fiscalizadas pelas
autoridades competentes, ver-se-ia que elas se confundem com a prática
de estelionato e curandeirismo, fora outros delitos criminais.
Entretanto, acontece que o Poder Público prefere as massas anestesiadas e
contemplativas, do que as massas lúcidas e reivindicativas. Dão menos
trabalho, votam, pagam impostos e não reclamam, na expectativa de manter
obediência às recomendações bíblicas.
Sem participarem diretamente da briga, mas, atentos às vantagens que
podem ser auferidas pela televisão, estão vários padres católicos,
verdadeiros "showmen", alguns deles despidos da batina, artisticamente
produzidos, com "franjinha" no cabelo, cantando, dançando e promovendo a
venda dos seus CDs e DVDs. Um padre, este da Igreja Católica
Brasileira, de batina e estampa de galã cinematográfico, participou do
programa "Superpop", da RedeTV!, para selecionar candidatas,
interessadas em com ele contrair matrimônio! Foi uma correria de
mulheres de todas as idades, proclamando seus dotes morais e exibindo
seus atributos estéticos.
Diante de tudo isso, fica difícil duvidar da máxima, segundo a qual "a religião é o ópio do povo".
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