Por Leandro Fortes
Ao longo de nove anos no Congresso Nacional, o senador Demóstenes
Torres, do DEM de Goiás, notabilizou-se por não dar trégua à corrupção.
Nem aos corruptos. Nem aos amigos dos corruptos. Nem aos amigos dos
amigos dos corruptos. Ex-promotor de Justiça, ex-delegado e
ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, Torres sempre se mostrou
inflexível com o crime. Dele, portanto, não se esperava outra coisa
senão distância de criminosos e corruptos. Mas a força desse mito
desmoronou em 29 de fevereiro passado, quando aconteceu a Operação Monte
Carlo, da Polícia Federal. Naquele dia, a PF desmontou uma quadrilha
que atuava no ramo ilegal da jogatina e prendeu, em Goiânia, o famoso
bicheiro Carlos Augusto Ramos. Apelidado de Carlinhos Cachoeira, o
contraventor, quem diria, é um amigão do senador linha-dura.
Entre fevereiro e agosto de 2011, Torres e Cachoeira
trocaram nada menos que 298 telefonemas, segundo interceptações
telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça. No
inquérito aberto pelo Ministério Público Federal, é possível observar
que a dupla conversou, no período, mais de uma vez por dia, inclusive
nos fins de semana, mas ainda não foi revelado o exato teor de tanta
prosa. Por ser senador, Torres tem direito a foro privilegiado, e a
investigação será encaminhada à Procuradoria-Geral da República. Caberá
ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciar ou não o
parlamentar do DEM por associação com o notório criminoso goiano.
Os sinais da amizade foram detectados não só pelo número de ligações
entre o senador e o contraventor, mas pela singular generosidade de
Carlinhos Cachoeira com o amigo parlamentar. Torres ganhou do amigo uma
cozinha completa, com fogão e geladeira, no valor de 27 mil dólares
(46,7 mil reais). O regalo foi importado dos Estados Unidos, não se sabe
ainda se pelas vias oficiais. Outro a cair nas graças do bicheiro foi
Geraldo Messias (PP), prefeito de Águas Lindas de Goiás, um dos
municípios mais miseráveis da região do entorno do Distrito Federal.
Messias ganhou uma viagem a Las Vegas, em maio de 2011, hotel e despesas
incluídos.
Foi o próprio senador, graças a um corolário de
desculpas esfarrapadas, quem revestiu a história de tragicomédia. Sobre a
cozinha de luxo, explicou que a mulher com quem casou em 13 de julho do
ano passado é, além de advogada, boa cozinheira. Por essa razão singela
Cachoeira havia prometido um “bom presente”. Como promessa é dívida e o
bicheiro parece ser um homem de palavra, a cozinha foi entregue sem
atrasos.
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