A presidenta Dilma concedeu entrevista, no Palácio do Planalto, para a revista Veja, que foi matéria de capa desta semana.
O que os amigos leitores pensam disso?
Deixando de lado os sentimentos, dos quais já escrevemos aqui em situação anterior semelhante, vamos a análise fria política.
Obviamente uma entrevista destas tem mais significado político do que jornalístico, pois a revista faz oposição escancarada e desleal à Presidenta desde quando ela era pré-candidata.
A revista continua fazendo oposição até na introdução da entrevista, quando alfineta a Presidenta:
Como pano de fundo da semana caótica, havia o fato de Dilma ainda não ter convencido a opinião pública de ser a grande gestora que o eleitorado escolheu para governar o Brasil em 2010. Como escreve nesta edição J.R. Guzzo, colunista de VEJA, capturando uma sensação mais ampla, “a maior parte das atividades do governo brasileiro hoje em dia poderia ser descrita como ficção”. Mas Dilma não estava nem um pouco tensa quando recebeu a equipe de VEJA (Eurípedes Alcântara, diretor de redação, e os redatores-chefes Lauro Jardim, Policarpo Junior e Thaís Oyama) na tarde de quinta-feira passada para uma conversa de duas horas em uma sala contígua a seu gabinete de trabalho no Palácio do Planalto, em Brasília.
Dilma está com aprovação popular alta, economia sob controle, e ao contrário do que dizem, a crise na base governista é no fisiologismo, e não no governo.
Nesse quadro, ela não precisa de exposição na revista. Demorou 1 ano e 3
meses na presidência para atender as solicitações de entrevista para a
Veja. Para a revista Carta Capital ela concedeu entrevista exclusiva em agosto de 2011 (um tempo também longo desde a posse).
Então porque conceder tal entrevista agora à Veja, se não estava precisando?
Primeiro é preciso entender que Dilma já deu mostras de ser daquelas
governantes que governam com o sentido de missão, e cumpre as missões
que considera importantes, independentemente de serem desagradáveis ou
espinhosas.
Segundo, é o momento mais oportuno para Dilma diante dos influenciáveis
pela revista. A Veja passou meses tentando desestabilizá-la, misturando
denúncias verdadeiras com falsas para derrubar ministros, alguns
inocentes, emplacar com a oposição uma CPI do fim-do-mundo que
derrubasse a Presidenta, fosse nas eleições de 2014, fosse antes. Foi um
tiro no pé. Pois a aprovação popular da Presidenta subiu, e é a
oposição quem está com duas CPI's indigestas na fila: da privataria
tucana e do Carlinhos Cachoeira. Além de ter "aloprado" senador Álvaro
Dias (PSDB/PR), que quer uma CPI da Saúde com base nas ambulâncias da
empresa Toesa, denúnciada no "Fantástico", que explode no colo de José
Serra (PSDB/SP).
Ao mesmo tempo, a correlação de forças de apoio na base governista
mudou. Há fila de gente querendo entrar, como a turma do PSD de Kassab. E
quem diz querer sair está blefando. E, com isso, Dilma pode tornar-se
mais exigente na composição do governo. Por que falar em "crise", quando
em vez de só os partidos pressionarem a Presidenta por espaço no
governo, ela também pressiona os partidos? É do jogo político.
Nesse contexto, é que o momento atual da entrevista faz sentido. Pois
fica mal na fita parlamentares e partidos que batem de frente com a
Presidenta, passando a imagem de chantagem, com ameaças de votações no
Congresso.
A lógica acima é válida, mas a revista não é mais tão influente assim, a
ponto de uma entrevista, mesmo com a Presidenta fazer tanta diferença.
Então vamos ao terceiro ponto, uma hipótese, por enquanto.
Dilma, com o simbolismo da entrevista, dá mostras de não ser revanchista, nem de perseguir quem a persegue.
Assim a revista não poderá querer se fazer de vítima, se vier a ser a
bola da vez na "faxina", não por iniciativa da Presidente, mas pelos
próprios atos cometidos pela revista, que vão caindo na malha fina das
investigações da Polícia Federal.
A revista tem adotado práticas jornalísticas temerárias e até
criminosas, como no caso da tentativa de um seu jornalista invadir um
quarto de hotel em Brasília.
A revista está sob suspeita de manter uma proximidade prá lá de
esquisita com o esquema Carlinhos Cachoeira, como adverte Luis Nassif na
nota "A associação da mídia com o crime":
Está na hora de se começar a investigar mais a fundo a associação da Veja com o crime organizado. Não é mais possível que as instituições neste país - Judiciário, Ministério Público - ignorem os fatos que ocorreram.
Está comprovado que a revista tinha parceria com Carlinhos Cachoeira e Demóstenes. É quase impossível que ignorasse o relacionamento entre ambos - Demóstenes e Cachoeira.
No entanto, valeu-se dos serviços de ambos para interferir em inquéritos policiais (Satiagraha), para consolidar quadrilhas nos Correios, para criar matérias falsas (grampo sem áudio).
Até que a Polícia Federal começasse a vazar peças do inquérito, incriminando Demóstenes, a posição da revista foi de defesa intransigente do senador (clique aqui), através dos mesmos blogueiros das quais se valeu para tentar derrubar a Satiagraha.
E há um depoimento à Polícia, onde PM João Dias, envolvido no desvio de
dinheiro do Ministério dos Esportes, aparece participando de uma reunião
onde se fala em levantar 150 mil para comprar o silêncio da revista
Veja. Curiosamente, a revista sempre poupou o PM, omitindo-o do
noticiário, só vindo a aparecer com a imagem de "delator", sempre
desviando o foco da obrigação dele em devolver R$ 4 milhões aos cofres
públicos cobrados pelo Ministério dos Esportes. Confira aqui.
Por fim, cabe lembrar da inconveniência em, querendo ou não, prestigiar a
revista com a entrevista, fortalecendo-a. Mas da mesma forma que a
revista não é mais tão influente, não será esta entrevista que irá
salvá-la da decadência.
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