Duas vezes por dia de segunda a sábado...
E o PSDB sangra o erário público há 10 anos na construção do faraônico anel viário inútil para 90% da população |
É espantoso como a maioria dos paulistanos não tem a capacidade de relacionar a péssima qualidade de vida em São Paulo ao desempenho dos governantes que elege. O PSDB chuta-lhes o traseiro há uns 20 anos e eles quase que se desculpam por oferecê-lo seguidamente, a cada eleição. Muitos filmam o caos em que vivem pelo celular, guardam de recordação ou publicam no Youtube! Enchentes, congestionamento humano surreal nas estações do metrô, trombadinha atacando vítima, traficante vendendo droga, assaltante em ação… E quando chega na frente da urna, “alguma coisa acontece em seus corações” e lá vão eles, de novo, no mesmo PSDB! Ser conservador, reacionário ou um idiota completo em São Paulo, não tem origem na educação, raça ou nível social. É resultado de uma longa e profunda convivência com a mídia paulista.
A maioria dos paulistas não liga para política e políticos porque
“tem mais o que fazer”. E quando não dá pra fugir do assunto, faz cara
de esperto e sentencia: “todos os políticos são iguais; todos roubam”.
Vão naquela linha do “poder que corrompe” etc… Enganam os mais
distraídos, já que não querem ou não têm conhecimento para se aprofundar
na questão. Para não se darem ao trabalho de pensar, comparar
candidatos e toda essa chatice, muitos paulistas vão de “Coca-Cola” – o
candidato que conhecem desde a infância. Neste caso, os “Coca-Cola” são
José Serra, Geraldo Alckmin. Maluf também foi um grande “Coca-Cola”.
Íntimos que são de seus eleitores igualmente “Coca-Cola”, os tucanos
paulistas não mudam o discurso usual “te engano porque você gosta”.
Bastou Serra anunciar-se candidato à prefeitura usando as habituais
manobras rasteiras dentro do próprio partido, para que o paulistano o
elevasse imediatamente a favorito disparado nas pesquisas. E mesmo que o
eleitor se esconda da informação, ela lhe bate na testa há anos: até os
marcianos sabem que da última vez, Serra não governou nem cumpriu
mandato algum, focado que estava em sua eterna escalada rumo ao Palácio
do Planalto. Além disso, largou a prefeitura nas mãos do desqualificado
mais oportunista que gravitava em sua órbita. Kassab tornou-se o pior de
todos os prefeitos que já passaram por esta cidade, na avaliação de
seus moradores que… o reelegeram em 2008!
São Paulo tem muito pobre que come carne de pescoço e arrota caviar.
Este tipo acredita que enriquecerá “junto” com o patrão. Por isso rouba
na balança contra o freguês. É o tal “negro de alma branca” – que
prefere catar as migalhas que caem do bolso do feitor a almejar
igualdade de direitos e oportunidades para seus semelhantes sociais ou
raciais. Acha que educação para pobre é perda de tempo. Por isso bota
seu filho pra trabalhar o mais cedo possível, traçando-lhe o mesmo
destino do pai desde a adolescência. Acredita em Deus e vai à missa aos
domingos. (Mas admite com seus botões que do lado de fora da igreja,
quem dá as cartas é o Diabo.)
A maioria dos paulistanos reconhece que viver em São Paulo é cada vez
mais insuportável. Não por culpa dos seguidos governos elitistas do
PSDB, é claro. Mas pelo crescimento desordenado da cidade provocado pela
“invasão de alienígenas nortistas e outras impurezas étnicas – inclusos
aí, filhos, netos e toda a parentada”. Por isso, é comum o cidadão
achar-se no direito de furar qualquer fila: desde a dos
congestionamentos até a dos supermercados. Se viaja enlatado no
transporte coletivo, a culpa do seu desconforto é do passageiro ao lado,
que invadiu “sua” cidade. (Em sua arrogância delirante, torce
secretamente para que surja alguma epidemia que dizime ¾ da população:
basicamente os negros e os nordestinos. Ah, sim, quase esquece:
inclua-se aí os mendigos e os gays.)
Muitos caem na conversa de uma profissional de telemarketing e acabam
assinando um desses jornalões ou revistas decadentes que ainda circulam
por aí. Mas logo no segundo mês perdem o interesse na leitura: tirando
as manchetes de capa, a página que fala do seu time, quadrinhos e
horóscopo (que consomem numa única sessão no “trono sanitário”) o
impresso nem se desmancha. E mesmo constatando que não tiram proveito
algum, mantêm sua assinatura. Assim, mantêm também a ilusão de serem
cidadãos bem informados. E o ciclo ilusório se completa nas estatísticas
das quais fazem parte e que o dono do jornal empurra aos seus
anunciantes.
Esse paulista foi convencido por idiotas das rádios, jornais e TVs
igualmente paulistas, que é um otário que paga mais impostos hoje do que
em outras épocas. Não lhe passa pela geléia do cérebro que o número
garrafal exibido no impostômetro da rua Boa Vista é fruto da política de
aquecimento do consumo interno que protege nossa economia do vírus
neo-liberal – o mesmo que arrasa metade do planeta. Fizeram-no acreditar
também que São Paulo é a tal “locomotiva” que carrega o Brasil nas
costas. Para ele, “desde o Brasil Império já havia oportunidades para
todos de norte a sul do país – seja nas escolas, seja no mercado de
trabalho”. Por isso odeia os programas sociais do Governo Federal que
“sustentam vagabundos que passam o dia bebendo pinga e jogando sinuca
enquanto ele dá um duro danado”.
O paulistano ama seu automóvel – embora sempre esteja disposto a
trocá-lo por um modelo mais novo. Adora passear a uma velocidade de 20
km por hora em média durante 1h30 também em média quando se dirige ao
trabalho. Xingue sua mãe, cobice sua esposa, tire sarro do seu time que
perdeu de goleada… mas nunca, jamais risque ou amasse seu carro! Porque,
acima de tudo, este é seu verdadeiro governante. É o fiel parceiro que
acomoda o traseiro daquela mulher-objeto, que está sempre disposta a
deixar-se seduzir quando o motorista confunde seu joelho com o cambio e
acelera em direção a um motel qualquer. No embalo da última do Teló…
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