segunda-feira, 16 de abril de 2012

Coincidências sobre a gravação de empresário que foi parar no JN

Coincidências sobre a gravação de empresário [título original deste post]

por Luiz Carlos Azenha

Ao relatar  o vazamento de um aúdio na internet, hoje, a Folha de S. Paulo entregou de leve o funcionamento do esquema que envolvia o senador agora sem partido Demóstenes Torres.

Disse a Folha, aqui:
Em conversa gravada, em dezembro de 2009, o dono da Delta Construções S/A, Fernando Cavendish, afirma que é possível ganhar contratos com o poder público subornando políticos. A Delta já recebeu mais de R$ 3,6 bilhões em verbas federais desde 2003 e está no centro das investigações da Polícia Federal envolvendo Carlos Cachoeira, preso pela Operação Monte Carlo por envolvimento em jogo ilegal. A PF chega a descrever Cachoeira como um sócio oculto da Delta, o que a empresa nega.
“Se eu botar 30 milhões [de reais] na mão de político, eu sou convidado pra coisa pra caralho. Se eu botasse dez pau que seja na mão dele… Dez pau? Ah… Não é que seja um monte de dinheiro não, mas eu ia ganhar negócio. Ô…”, diz Cavendish, que não se refere a um caso específico. “Estou sendo muito sincero com vocês: 6 milhões aqui, eu ia ser convidado. ‘Ô senador fulano de tal, tá aqui. Se convidar, eu boto o dinheiro na tua mão’”, continua o empresário.
A revista “Veja” já havia publicado trechos dessa conversa, em maio passado, sem divulgar o áudio da conversa.
Explicando. Em maio de 2011, a revista publicou reportagem acusando o ex-ministro José Dirceu de fazer lobby para a construtora Delta, do empresário Fernando Cavendish. Seria a explicação para a Delta, de um empresário próximo do governador do Rio, Sergio Cabral, ter ganho tantas licitações em todo o Brasil. Dirceu diz que recebeu R$ 20 mil da Delta como consultor, mas nega se tratar de tráfico de influência (explicação dada por ele em seu blog).

Chama a atenção a frase final da reportagem de Veja:
A compra da Sigma pela Delta, como foi dito, é motivo de uma intensa disputa judicial. Graças a essa contenda é que veio à tona a confirmação de que o consultor José Dirceu age como um intermediário de oportunidades dentro do governo. Ela mostra também o perfil de cliente que busca esse tipo de serviço. Em reunião com os sócios, no fim de 2009, quando discutia exatamente as razões do litígio, o empresário Fernando Cavendish revelou o que pensa da política e dos políticos brasileiros de maneira geral: “Se eu botar 30 milhões de reais na mão de políticos, sou convidado para coisas para ‘c…’. Pode ter certeza disso!”. E disse mais. Com alguns milhões, seria possível até comprar um senador para conseguir um bom contrato com o governo: “Estou sendo muito sincero com vocês: 6 milhões aqui, eu ia ser convidado (para fazer obras). Senador fulano de tal, se (me) convidar, eu boto o dinheiro na sua mão!”. Subornar pessoas com poder de decisão no governo é crime de corrupção ativa. Todo mundo sabe que isso ocorre a toda hora. Mas ouvir a confirmação da boca de um grande empresário do país, mesmo se for só bravata, é assustador.
Não há dúvida que Cavendish disse o que disse. Foi gravado. Ao ler a revista, ele deve ter se dado conta disso. Ou seja, sabe-se lá o que passou pela cabeça do dono da Delta, então. Existiriam novas gravações?

O curioso é a repercussão do fato.


Demóstenes Torres. Deu no Globo:
O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), vai procurar o PSDB e o PPS para, numa ação conjunta da oposição, apresentarem requerimento de convite aos empresários. Para Demóstenes, caberia requerimento à Comissão de Constituição e Justiça ou à de Fiscalização e Controle.
A novidade? É que hoje sabemos que a gravação, tudo indica, é originária do esquema do Cachoeira, já que coincidentemente foi divulgada com acusações contra o dono da Delta, apesar de não fazer parte da Operação Monte Carlo, no momento em que são coletadas as assinaturas para instalar a CPI.

É uma forma de colocar gente para trabalhar os telefones e tentar convencer deputados e senadores a não assinar os requerimentos para a criação da CPI. Especialmente se Cavendish doou dinheiro para campanhas eleitorais ou colocou em prática o que disse que poderia fazer, na gravação.

O esquema de Cachoeira grava, Veja expõe e Demóstenes pede explicações. Cavendish fica refém.

O áudio vaza justamente no dia em que estão sendo recolhidas assinaturas para a CPI e merece destaque da Folha.

O Brasil não é para amadores.

Definitivamente, não vai faltar assunto para esta CPMI.

PS do Viomundo: E, agora à noite, a gravação que saiu em um blog na internet foi parar no Jornal Nacional! O JN não perguntou, obviamente, quem deu a gravação ao dono do blog, Mino Pedrosa.

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