Presidentes da Câmara e do Senado afirmam que comissão será instalada até o final desta semana
Conselho de Ética abre processo por quebra de decoro que pode levar à cassação do senador Demóstenes Torres
NATUZA NERY CATIA SEABRA
GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA
Sem resistência do governo, e com incentivo do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ao PT, os presidentes do Senado e da Câmara anunciaram a
criação de uma CPI para investigar a ligação de autoridades com o
empresário Carlos Cachoeira, acusado de exploração de jogo ilegal.
Ontem, José Sarney (PMDB-AP) e Marco Maia (PT-RS) disseram que vão viabilizar a CPI até o fim desta semana. "Fechamos o entendimento de que o melhor é uma CPI mista", afirmou Maia.
O PT decidiu apostar no desgaste para a oposição.
Um dos mais destacados críticos do governo antes do escândalo, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) que desde ontem responde a processo no Conselho de Ética e corre o risco de ser cassado por suas ligações com Cachoeira. Segundo gravações, ele usava seu mandato para defender interesses do empresário, que está preso.
Investigações da Polícia Federal também revelaram grande influência de Cachoeira no governo de Marconi Perillo (PSDB) em Goiás.
A estratégia do governo, porém, é considerada arriscada até por aliados. Motivo: as investigações atingem petistas, caso do deputado Rubens Otoni (GO). Ontem, o chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz (PT-DF), também sob investigação da PF, deixou o cargo.
Além disso, nesta semana veio à tona a ligação de funcionário do Palácio do Planalto com o grupo de Cachoeira.
Em um primeiro momento, o PT no Senado hesitou a endossar uma CPI. Mudou de ideia ao receber um recado de que Lula havia recomendado apoio à investigação.
"A princípio, Lula é a favor que haja CPI. O que ouvi ele dizer é que está com os poucos cabelos que tem em pé com tudo que há sobre o caso. Se for verdade o que a imprensa está dizendo, Marconi entregou o Estado para Cachoeira", disse à Folha Paulo Okamoto, um dos principais assessores de Lula.
O tucano, desafeto de Lula por ter dito que havia avisado o então presidente da existência do mensalão, nega ter envolvimento com o caso -sua chefe de gabinete pediu demissão depois da revelação de que manteve contato com o grupo de Cachoeira.
Petistas avaliam que uma CPI pode "rivalizar" na mídia com o julgamento do mensalão, previsto para este ano.
Apesar dos gestos públicos a favor da CPI, a Folha apurou com congressistas que a cúpula de grandes partidos, como PMDB e PSDB, teme o potencial estrago do caso. Nem mesmo no PT há consenso sobre a investigação.
Se for adiante, será a primeira CPI relevante no governo de Dilma Rousseff.
CONSELHO DE ÉTICA
A decisão de ontem do Conselho de Ética de abrir processo contra Demóstenes acaba com as dúvidas sobre se ele podia renunciar para escapar da cassação sem ser enquadrado na Ficha Limpa.
Havia o argumento de que a lei só se aplicaria após a abertura do processo, e não a partir do momento em que o PSOL fez a representação. Agora, a única chance do senador é escapar da cassação.
O processo foi instaurado por Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), eleito presidente do conselho por unanimidade.
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