Mário Augusto Jakobskind
Quarenta e oito anos depois do golpe civil militar que provocou o
maior retrocesso político da história brasileira contemporânea,
militares da reserva, que continuam a pensar como em abril de 64,
comemoraram a data. Fazem isso todos os anos, porque não aprenderam as
lições da história e que em vez de comemorar deveriam pedir desculpas
ao povo brasileiro pelas torturas e assassinatos cometidos naquele
período.
Neste ano, como estavam sendo objeto de protestos, na porta do Clube
Militar, de centenas de jovens, que nem nascidos eram em 64, pediram a
proteção da PM, comandada pelo Governador Sergio Cabral. Os soldados do
batalhão de choque utilizaram métodos violentos, com gases pimenta,
cassetetes e chegaram a quebrar o braço de um dos manifestantes, Gustavo
Santana, sociólogo, de 28 anos. Reprimiram com extrema violência uma
manifestção pacífica.
Estes são os fatos, mas que a mídia de mercado reproduziu de forma a
tentar mostrar aos seus leitores que as vítimas foram os militares.
Devem ter agradecido ao Governador Cabral pela "eficiência" policial.
E tudo isso ocorreu porque os militares que tinham comando na época
da ditadura, e muitos deles foram torturadores e até mataram opositores,
temem a Comissão da Verdade, cujos sete integrantes estão para ser
conhecidos nos próximos dias (*) .
E, pasmem, os militares da reserva, óleos queimados da história,
agora querem culpar os jovens em seus sites pregadores de ódio com
linguagem da Guerera Fria acusando-os de agredir velhinhos.
No último fim de semana realizou-se em Porto Alegre, sob os auspícios
da Comissão de Justica e Direitos Humanos, presidida pelo lutador
social Jair Krischke, e com o apoio da Assembleia Legislativa gaúcha e
Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, o V Encontro Latinoamericano Memória, Verdade e Justiça.
Importantes revelações foram feitas por defensores dos direitos
humanos do Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, que mereceriam divulgação
mas foram totalmente ignoradas pela mídia de mercado gaúcha e nacional.
Esta mesma mídia que teve participação ativa no apoio ao golpe civil
militar de 48 anos atrás e hoje tenta se apresentar como arauto da
dermocracia.
No fundo, há o temor dos grupos, com culpa no cartório naquele período, de aparecerem verdades incômodas para eles.
E um fato ficou claro no Encontro em Porto Alegre, o de que a
continuar em vigor a impunidade de crimes imprescritíveis, inclusive os
chamados crimes continuados, cujos corpos de vítimas nem apareceram, e
os crimes portanto seguem, o Brasil corre o risco de se transformar em
paraíso de torturadores de outros países, que poderão se sentir
estimulados para escaparem aos rigores da lei em seus países e obterem
refúgio numa terra de impunidade a torturadores.
Vale registrar também a presença em Porto Alegre do Deputado
argentino Remo Carlotto, presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara de Deputados, que prestou uma série de informações relevantes
sobre a nova lei de comunicação sanciolnada pela Presidenta Cristina
Kirchner, depois de quase dois anos de discussão pela sociedade
argentina. Uma lei que dá espaço em pé de igualdade ao setor
comunitário, estatal, público e ainda o privado.
Carlotto também falou sobre a recente modificação do estatuto de
propriedade da empresa responsável pelos papéis de imprensa no país. Ele
lembrou que o Estado ditatorial argentino simpesmente prendeu, torturou
e matou os antigos proprietários da empresa, entregue depois dissso ao
grupo Clarin. E agora o Estado democrático faz justiça retirando o poder
do grupo favorecido pela ditadura.
É importante lembrar de tais fatos, totamente ignorados pela mídia
favorecida e seus pares pelo continente latinoamericano. Ignorar tal
procedimento favorece a quem se faz de vítima, como o grupo Clarin,
quando na verdade não o é. Muito ao contrário, tem culpa no cartório.
O Brasil neste momento está numa encruzilhada. Ou vai a fundo para o
conhecimento da verdade, pela justiça e preservação da memória, ou então
se transforma em terra onde vigorá a impunidade.
(*) Por decisão do Conselho Delberativo, o presidente da Associação
Brasileira der Imprensa (ABI) enviou carta à Presidenta Dilma Rousseff
sugerindo o advogado e ex-deputado Modesto da Silveira como um dos sete
nomes de integrantes da Comissão da Verdade.
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