Por Ailton Amélio da Silva
A relação sexual raramente pode ser iniciada diretamente. Existem
muitos caminhos para chegar até lá. Alguns destes caminhos podem ser tão
ou mais prazerosos do que o sexo em si: encostar no outro na hora de
dormir, falar coisas excitantes, tomar banho juntos, propor uma
massagem. Estes caminhos também ajudam o sexo a acontecer de maneira
natural. Cada um desses caminhos tem as suas funções e pode ser o mais
adequado para uma determinada circunstância e tipo de relacionamento.
Vamos abordar aqui um destes caminhos, que chamaremos de encontro
completo de amor. A descrição deste caminho é baseada em entrevistas que
realizei com mais de cinqüenta homens e mulheres que tinham muita
experiência e satisfação sexual.
Encontro completo de amor erótico
Este tipo de encontro pode ser dividido em seis etapas que serão
apresentadas abreviadamente a seguir. Antes disso, as seguintes
observações são bastante úteis: as etapas podem se sobrepor. Nem sempre
todas elas são percorridas em um encontro. O que comanda a passagem de
uma etapa para a outra é a própria prontidão e a prontidão do parceiro
para isso. Cada etapa deve ser saboreada pelo seu próprio valor. Não
mostrar muita frustração quando a seqüência é interrompida pelo parceiro
é muito importante para não forçá-lo e para que ela possa ser
percorrida em outras oportunidades. Vamos examinar agora estas etapas.
Atividade sincronizadora
Uma atividade não-sexual ajuda o casal a começar a se desligar de outros assuntos e se envolver mutuamente (“O corpo chega primeiro ao encontro. O espírito vai chegando aos poucos.”). Esta atividade agradável também ajuda a instalar um clima positivo. Por exemplo, uma refeição compartilhada facilita a intimidade entre as pessoas. A bebida, em dose moderada, pode ajudar a desinibir (“O superego é solúvel em álcool”).
É bom que esta atividade aconteça em um local onde o relacionamento
possa progredir às etapas seguintes. A demora ou dificuldade na troca de
locais pode quebrar o encanto.
Conversa amistosa
Esta conversa começa a ser desenvolvida durante o evento sincronizador e vai paulatinamente se tornando o centro das atenções. Uma conversa bem conduzida expressa atenção mútua e apreço, e ajuda a estabelecer um clima caloroso. Deve-se evitar polêmicas profundas ou mergulhar em temas que possam desviar demasiadamente o clima do encontro da sua rota amorosa. Esta não é a hora mais indicada para “discutir a relação” a não ser que se queira sabotar essa rota.
Ao mesmo tempo em que os assuntos vão sendo abordados, a comunicação
verbal e a comunicação não-verbal dos parceiros vão enviando mensagens
do tipo: “Que bom estar aqui com você”, “Acho você linda”, “Estou
fascinado por você”. Estes tipos de mensagens vão criando um clima
romântico.
Clima romântico
Este clima é criado mais por ações do que por palavras. Nesta fase as palavras são usadas principalmente para descrever os próprios sentimentos românticos que estão presentes e os atributos do parceiro que os despertaram. O tronco se inclina na direção do amado. Os olhos se perdem nos seus olhos (“Não consigo parar de te olhar.”), a voz se torna carinhosa. As mãos se entrelaçam. Beijos românticos começam a acontecer.
Clima sensual
O olhar vai insistentemente para a boca e para o corpo do parceiro. Os abraços são mais fortes e quando acontecem os corpos inteiros dos parceiros são pressionados contra o do outro. Os beijos expressam mais desejo do que amor. As mãos começam a tocar o corpo todo. O prolongamento desta fase faz o desejo aumentar. Prolongá-la também pode ser extremamente prazeroso.
Transa
Aqui vale tudo que não coloque o casal ou terceiros em risco e que seja de acordo mútuo. Neste caminho, no entanto, as práticas sexuais continuam a expressar uma mistura de amor e desejo até o auge. O desejo do outro é o maior afrodisíaco. Cada um deve ser capaz de se entregar ao próprio prazer. O interesse pela satisfação do outro também ocupa importância igual.
Clima carinhoso e romântico
Uma vez satisfeitos nada de levantar correndo, dormir imediatamente ou, muito menos, ir embora. Qualquer uma destas práticas pode indicar que o interesse pelo outro terminou quando o desejo sexual foi satisfeito. O casal que se gosta e não tem nada de urgente para fazer continua a conversar e a trocar carinhos. Só a energia sexual diminuiu temporiamente.
Este tipo de caminho geralmente é usado por casais que estão começando um relacionamento e que estão mutuamente fascinados mas ainda não têm muita intimidade e confiança para tomarem iniciativas mais abreviadas para o sexo. Também é muito importante que essa seqüência de ações seja usada freqüentemente por casais já estabelecidos. Os méritos deste caminho vão muito além da satisfação sexual. Ele também reforça os vínculos de amizade, romantismo e sensualidade entre o casal.
Vale a pena experimentar!
*Ailton Amélio da Silva é doutor em Psicologia, psicólogo, psicoterapeuta
e professor da USP, em São Paulo (SP). É autor de vários estudos
científicos sobre relacionamentos amorosos e dos livros "O Mapa do
Amor", "Para Viver um Grande Amor" e o mais recente "Relacionamento
Amoroso: Como Encontrar Sua Metade Ideal e Cuidar Dela".
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