Rodolpho Motta Lima
É sempre muito complicado, para não dizer angustiante ou
desalentador, escolher a classe política brasileira como assunto para
uma coluna. Fica sempre a sensação de estarmos chovendo no molhado, em
um círculo vicioso e viciado que não consegue responder à pergunta:
“Onde fica a saída?”.
E não é uma questão de nos fixarmos neste ou naquele momento do
passado ou do presente próximo, ou neste ao naquele segmento partidário
da política nacional vigente. Já afirmei antes, e repito agora, minha
convicção de que o descalabro político nacional reflete um sistema
econômico fundado no lucro desmedido, imoral, que, em função dessa
imoralidade que lhe é inerente, não reconhece o significado da palavras
como escrúpulo, honradez, dignidade e tantas outras...
Examinemos, só para argumentar, alguns fatos e atos que estão frequentando agora o noticiário político.
Fala-se, por exemplo, do impasse em que estaria o Governo Dilma,
envolvido em conflitos com sua “base política” que, por não constituir,
em termos gerais, um segmento ideologicamente comprometido com qualquer
linha programática, atua fisiologicamente a partir do lema do “toma lá
dá cá”, sendo o “toma lá” o voto necessário ao Governo para levar
adiante seus projetos e o “dá cá” a velha sangria dos cofres públicos em
ações fraudulentas cometidas a partir da ocupação oportunista de
ministérios e outros órgãos. Novidade? Nenhuma. Qualquer brasileiro
medianamente informado sabe que este panorama não é novo, estando apenas
a merecer maior divulgação, seja porque a mídia tem interesse na
desestabilização do Governo, seja porque a própria Dilma resolveu
encarar o problema de frente, recusando-se à chantagem que sempre
frequentou o nosso cardápio político nas últimas décadas.
Aí sim, talvez esteja surgindo uma luz no fundo do túnel, esse
comprido túnel que vem percorrendo as trevas dos mensalões (dois, não se
deve esquecer: o do PSDB mineiro e o do PT, que, aliás, surgiram nessa
ordem), da tucana compra de votos no governo FHC para a alteração
constitucional que permitiu a reeleição, do dinheiro na cueca no
político do PT ou na bolsa (de grife ?) do pessoal da direita de
Brasília, de ministros do Governo comprometidos com falcatruas (e
afastados) ou da “Privataria Tucana” oposicionista (denunciada
fartamente, mas que vai passando em branco).
Seria fastidioso continuar aqui enumerando fatos que comprovam essa
aptidão da nossa classe política para os malfeitos. Agora mesmo, saindo
do forno, temos a história de um senador do DEM, tido e havido (sei lá
por quem ou por quê) como arauto da moralidade, envolvido em passagens
comprovadamente ilícitas com elemento ligado à contravenção. Ou seja,
quando a oposição atribui ao Governo a condição de reduto da corrupção
esquece, convenientemente, como o macaco da história, de olhar para o
seu próprio rabo...
Também estamos presenciando, em função dessa política imoral dos
“representantes do povo”, cenas que fariam inveja a um Dali ou a um
Buñuel. Lemos nos jornais que a bancada “ruralista” (?) do Congresso –
com muitos representantes da “base governista” (?) – condicionou o seu
apoio à assim chamada “Lei da Copa” ao fato de se votar, segundo seus
interesses, o “Código Florestal”. Chantagem pura, que exemplifica a
ausência total de comprometimento dos políticos com qualquer programa
que não seja aquele que contempla seus interesses específicos, não raro
dissociados dos interesses do país. Chama atenção, nesse caso
particular, a existência – que, estranhamente, ninguém questiona – de
uma bancada “ruralista” com quase uma centena de parlamentares,
correspondente a quase um quinto da Câmara. Será que vinte por cento dos
brasileiros são “ruralistas”, ou será que a presença desse número de
deputados é fruto de um estelionato eleitoral, em que eleitores
desinformados acabam, em muitos casos, votando nos seus próprios
inimigos? Aliás, é por isso que defendo o voto de lista, um voto
partidário, ideológico... Se se constituísse um partido confessadamente
ruralista em sua linha programática, apresentando-se como tal, quantos
seriam os seus representantes eleitos? Claro que teria que haver uma
reforma partidária séria, que reduzisse os partidos a quatro ou cinco e
impedisse essa negociata com tempos de TV ou coisas do gênero, inclusive
a criação de um partido fisiológico como o do Sr Kassab, nem de direita
nem de esquerda nem de centro, muito pelo contrário...
Onde fica a saída? Começa por posturas como a que Dilma parece querer
assumir, de não compactuar com chantagistas e oportunistas. Mas, se
isso ocorrer, essa atitude tem que buscar forte apoio popular. Com a
grande mídia, sempre articulada no sentido do “quanto pior melhor”, não
se pode contar. Mas movimentos populares podem sacudir este país.
Afinal. se os gabinetes são da elite corrupta, a praça é do povo...
Claro que sempre haverá políticos conscientes, capazes de se engajar
nessa luta. Agora mesmo, lemos um posicionamento de um deles, que
proclama a necessidade de Dilma refazer a sua base com parlamentares
éticos, estejam onde estiverem. Pode ser. Mas eu não dispensaria o
clamor popular. O compromisso individual de um político, vemos todos os
dias, não passa de um engodo, frase para inglês ver. Ou, como disse o
candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, agora apoiado pelo Sr.
Maluf, um simples papel sem valor...
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