Novo presidente do STF demonstra pressa em julgar o mensalão quando dá entrevista à Veja e aO Globo; já para a Carta Capital, o ministro defende que não se pode “ceder à pressão”; teria ele mudado de ideia?; adaptou-se ao que as publicações queriam ouvir?; ou foram as publicações que adaptaram?
Até esta sexta-feira 27, o discurso do novo presidente do Supremo
Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, era de pressa em julgar o
mensalão, considerado o maior da história do STF, com 38 réus e 600
testemunhas. Se não o maior, “o mais incomum, o mais insólito”, na
opinião do ministro. Pelo menos foi o que ele disse em entrevistas
concedidas a veículos da grande imprensa – vilipendiados por alguns como
representantes do Partido da Imprensa Golpista (PIG) – como a revista
Veja e o jornal O Globo. À publicação Carta Capital, que chegou hoje às
bancas, no entanto, Ayres Britto cria um discurso mais ponderado,
afirmando que o STF não pode “ceder à pressão”, se referindo à
população. Ou mesmo: “Não podemos surfar nessa onda da cólera coletiva,
da pressão social”.
Quando falou à Veja, o sergipano que assumiu o STF na semana passada
declarou: “O que me cabe é marcar a data tão logo o processo seja
liberado para pauta”. Ayres Britto se refere à conclusão do relatório,
de responsabilidade do ministro Joaquim Barbosa. Em reportagem de O
Globo, o ministro cutucou o colega Ricardo Lewandowski, relator revisor
do caso: “O senhor não quer entrar para a História como coveiro do
mensalão, né?”.
De posse, desde dezembro, de um documento que pode chegar a 500
páginas, Lewandowski precisa elaborar um voto minucioso e entregá-lo à
presidência do tribunal, para que o julgamento possa ser marcado. Ele
ainda não disse quando irá terminar o trabalho, apesar de ter indicado
que pretende encerrá-lo ainda neste semestre.
A pressa e prioridade declarada por Ayres Britto nos primeiros
discursos provoca a dúvida de se o presidente do Supremo teria realmente
mudado sua forma de pensar, partindo para a defesa de que não se pode
ceder à pressão popular. Ou será que sua fala se adequa ao que aquele
determinado veículo de imprensa gostaria de ouvir? Neste caso, o jurista
poderia ser comparado a Leonard Zelig, personagem de escritor Woody
Allen que tem a capacidade de transformar sua aparência para agradar a
quem o cerca.
Há uma terceira hipótese: a de que os veículos de imprensa que
questionaram Ayres Britto adequaram o discurso do ministro a seus
próprios interesses. Por esse ponto de vista, fica difícil saber o que
pensa o presidente do STF.
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