sexta-feira, 27 de abril de 2012

Qual o verdadeiro Ayres Britto: do JEG ou do PIG?

Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF 

Novo presidente do STF demonstra pressa em julgar o mensalão quando dá entrevista à Veja e aO Globo; já para a Carta Capital, o ministro defende que não se pode “ceder à pressão”; teria ele mudado de ideia?; adaptou-se ao que as publicações queriam ouvir?; ou foram as publicações que adaptaram?

Até esta sexta-feira 27, o discurso do novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, era de pressa em julgar o mensalão, considerado o maior da história do STF, com 38 réus e 600 testemunhas. Se não o maior, “o mais incomum, o mais insólito”, na opinião do ministro. Pelo menos foi o que ele disse em entrevistas concedidas a veículos da grande imprensa – vilipendiados por alguns como representantes do Partido da Imprensa Golpista (PIG) – como a revista Veja e o jornal O Globo. À publicação Carta Capital, que chegou hoje às bancas, no entanto, Ayres Britto cria um discurso mais ponderado, afirmando que o STF não pode “ceder à pressão”, se referindo à população. Ou mesmo: “Não podemos surfar nessa onda da cólera coletiva, da pressão social”.

Quando falou à Veja, o sergipano que assumiu o STF na semana passada declarou: “O que me cabe é marcar a data tão logo o processo seja liberado para pauta”. Ayres Britto se refere à conclusão do relatório, de responsabilidade do ministro Joaquim Barbosa. Em reportagem de O Globo, o ministro cutucou o colega Ricardo Lewandowski, relator revisor do caso: “O senhor não quer entrar para a História como coveiro do mensalão, né?”.

De posse, desde dezembro, de um documento que pode chegar a 500 páginas, Lewandowski precisa elaborar um voto minucioso e entregá-lo à presidência do tribunal, para que o julgamento possa ser marcado. Ele ainda não disse quando irá terminar o trabalho, apesar de ter indicado que pretende encerrá-lo ainda neste semestre.

A pressa e prioridade declarada por Ayres Britto nos primeiros discursos provoca a dúvida de se o presidente do Supremo teria realmente mudado sua forma de pensar, partindo para a defesa de que não se pode ceder à pressão popular. Ou será que sua fala se adequa ao que aquele determinado veículo de imprensa gostaria de ouvir? Neste caso, o jurista poderia ser comparado a Leonard Zelig, personagem de escritor Woody Allen que tem a capacidade de transformar sua aparência para agradar a quem o cerca.

Há uma terceira hipótese: a de que os veículos de imprensa que questionaram Ayres Britto adequaram o discurso do ministro a seus próprios interesses. Por esse ponto de vista, fica difícil saber o que pensa o presidente do STF.

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