sábado, 5 de maio de 2012

Cachoeira usa de nova estratégia capitalista da Máfia

Carlinhos e a inconsolável companheira

Há muitos anos assisti ao filme “Buona Notte Avvocato”.
 
Nesse filme, o saudoso Alberto Sordi interpreta um advogado de boa dialética, mas incapaz de absolver os seus clientes em processos criminais com acusações e provas frágeis.
 
Numa sustentação oral em juízo, o protagonista expõe aos julgadores uma tese defensiva: “Excelentíssimos juízes, atentem para a cara do réu. O meu cliente, vejam, tem a cara de um ladrão. Ninguém com essa cara de ladrão teria condição de roubar. Para roubar é necessário uma cara honesta, insuspeita. Por isso, peço a absolvição porque ter cara de ladrão não é crime”.
 
Nos inquéritos policiais decorrentes das operações Las Vegas e Monte Carlo nenhum dos suspeitos de ilicitudes tem cara de ladrão, tomado o termo ladrão, frise-se, na acepção popular de quem aufere indevidas vantagens econômico-financeiras em prejuízo da sociedade civil.
 
Os inculpados, no entanto, exalam odores de ilicitudes e temos até três governadores: Marconi Perillo (PSDB-Goiás), Agnelo Queiroz (PT-Distrito Federal) e Sérgio Cabral (PMDB-Rio). Um quarto, o de Santa Catarina, poderá entrar na dança, pois um seu secretário de obras, em gravação interceptada, conversava de “negócios” com Cachoeira.
 
Perillo chegou a dizer que recebeu Cachoeira apenas uma vez e em audiência formal. Depois dessa afirmação e de dispensar a secretária particular ligada a Cachoeira, veio a furo uma ligação telefônica do governador a cumprimentá-lo pelo natalício e a protestar por não haver sido convidado para a festa.
 
Queiroz está embananado com escutas telefônicas clandestinas e de aditivos com contrato de coleta de lixo com a Delta.
 
Cabral é suspeito de privilegiar a Delta Construções, inclusive com dispensa de licitações. Mais, a Delta começou a executar obras no Rio quando do governo da “família Garotinho”.
 
O senador Demóstenes Torres, pivô do escândalo com Carlos Augusto Ramos, apelidado Carlinhos Cachoeira, possuía cara de honesto e se apresentava, no Parlamento e em entrevistas, em panos de Varão de Plutarco. Na realidade e consoante revelado nas interceptações telefônicas judicialmente autorizadas, atuava como partícipe de uma potente e parasitária organização criminosa.
 
A primeira desconfiança contra Demóstenes surgiu quando ele afirmou ter sido Gilmar Mendes grampeado e confirmou a interlocução mantida com ele, cujo teor fora antes publicado pela revista Veja. Como se sabe, não houve grampo, mas armação para derrubar o delegado Paulo Lacerda, que apoiou as apurações contra o banqueiro Daniel Dantas conforme indicativos com lastro de suficiência.
Outra desconfiança derivou da Operação Las Vegas, em que Demóstenes é revelado como auxiliar de Cachoeira. Esse inquérito, apesar da gravidade, foi para o freezer do gabinete do procurador Roberto Gurgel, que também não tem cara de ladrão e deveria se dar por impedido para atuar nos autos.
 
Demóstenes, à época,  atacou o tratamento privilegiado dado por Gurgel no escândalo que envolveu o então ministro Antônio Palocci. Palocci orquestrou a recondução de Gurgel ao segundo mandato de procurador-geral da República e, como decorrência, titular exclusivo de ações criminais contra detentores dessa excrescência brasileira denominada foro privilegiado.
 
O senador “embananado”, segundo conversa com Cachoeira, atacava o processo de recondução de Gurgel para que este, pressionado, mantivesse no “freezer” o apurado pela Vegas. Num certo momento, e para surpresa geral, Demóstenes passou a ser favorável à recondução de Gurgel e o inquérito permaneceu no “freezer”. Aliás, só saiu do “freezer”  por pressão de parlamentares.
 
Gurgel, para justificar o “freezer, fez o papel desempenhado por Alberto Sordi, e sustentou o insustentável. Gurgel declarou que aguardava a conclusão da Operação Monte Carlo, que começou em 2010. Só se esqueceu de que a Operação Las Vegas, iniciada em 2007, findou em 2009, bem antes do início da Monte Carlo. Assim, Gurgel deveria se dar por impedido, e usar como justificativa motivo de foro íntimo.
 
Além de não se declarar impedido, Gurgel se aproveita de estar à frente da ação penal para não comparecer à CPMI. Sua alegação é de não poder ser testemunha na CPMI e promovente da ação penal junto ao Supremo Tribunal Federal.
 
Quanto a Cachoeira, está patente que não faz o tipo ultrapassado de comandante da velha Máfia, a disparar e matar para mostrar força e difundir o medo. Ele é adepto do método mafioso moderno, que macula diversos sistemas financeiros, mistura dinheiro de origem ilícita com capitais de empresários ávidos por obras e concessões de serviços públicos.
 
Sobre as correlações com Cachoeira, a defesa do presidente da Delta fez colocação que caberia no filme estrelado por Sordi. Para Cavendish, o diretor Cláudio Abreu atuou por conta própria ao estabelecer vínculos com Cachoeira. Cavendish esqueceu de dizer que a atuação de Abreu implicou vultosos lucros financeiros para a empresa Delta e não consta que esses resultados monetários tenham sido estornados da contabilidade da empresa e devolvidos a Abreu. De diretor de prestígio, Abreu assumiu o papel de costas largas.
 
Não se sabe como terminará CPMI. Sua conclusão não vincula o Ministério Público, mais especificamente Gurgel, que, por falta de explicações, tornou-se inconfiável.

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