Conduta de Gilmar Mendes provoca críticas e representações As recentes declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria tentado chantageá-lo para que adiasse o julgamento do “mensalão”, provocaram vários questionamentos sobre a conduta do ministro, classificada por alguns como “polêmica”, “questionável” e mesmo “destemperada”. PSOL protocolou representação questionando a conduta do ministro. Secretário-geral da CUT-DF protocolou pedido de impeachment.
Najla Passos e Vinicius Mansur
Brasília - As recentes declarações do ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva teria tentado chantageá-lo para que adiasse o
julgamento do “mensalão”, provocaram vários questionamentos sobre a
conduta do ministro, classificada como “polêmica”, “questionável” e
mesmo “destemperada”.
O PSOL - que havia se unido ao PSDB, DEM e
PPS para solicitar à investigação da conduta de Lula - protocolou
ontem, na Procuradoria Geral da República, representação em que
questiona a conduta do Mendes, classificada pela sigla como “bastante
questionável”. No documento, o partido pede a investigação dos fatos
e, se comprovada conduta indevida, que a Procuradoria adote as medidas
cabíveis, nos âmbitos administrativo, civil ou penal.
O servidor
público Cícero Batista Araújo Rôla protocolou, nesta quarta (30), na
presidência do Senado, o pedido de impeachment do ministro do STF,
Gilmar Mendes. Cícero, que é filiado ao PT e secretário-geral da Central
Única dos Trabalhadores no Distrito Federal (CUT-DF), disse à Carta
Maior que, “como cidadão que cumpre suas obrigações, não pode aceitar
que este magistrado desrespeite o ordenamento jurídico, adote posições
tão parciais”.
“Esta é uma postura inaceitável da parte de um
juiz da mais alta corte. As contradições entre os depoimentos dos dois
revelam que ou Lula cometeu uma irregularidade, ou o ministro mente, o
que é uma postura inaceitável da parte de um juiz da mais alta corte. E,
dado o histórico de mentiras de Gilmar Mendes, solicitei ao Senado que o
afaste de suas funções e apure sua conduta”, justifica.
O
ex-presidente Lula, em palestra proferida na sede da ONU em Brasília, na
noite de quarta (30), afirmou que precisa ter cuidado com uma minoria
que não gosta dele. “Você sabe que tem muita gente que gosta de mim,
mas tem algumas que não gostam. Eu tenho que tomar cuidado contra essas.
São minoria, mas estão aí, no pedaço”, afirmou.
Mais cedo, a
presidenta Dilma Rousseff, durante cerimônia de entrega do Prêmio
Objetivos do Milênio Brasil, já havia feito uma homenagem ao
ex-presidente. "As pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam
processos e transformam a realidade", afirmou a presidenta, propondo a
homenagem. A plateia aplaudiu de pé e cantou, em coro, “Olé, olá...
Lula, Lula”.
Na terça (29), a Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou nota desmentindo a matéria “Para Dilma, há risco de crise institucional”, na qual o jornal O Estado de São Paulo
diz que a presidenta, em reunião com o presidente do STF, Ayres Britto,
teria dito o episódio envolvendo Mendes e Lula colocava em risco as
relações entre Executivo e Judiciário. A nota afirma que o jornal
contrariou “a prática do jornalismo” e que “os comentários atribuídos à
presidenta da República citados na reportagem são inteiramente falsos”,
diz a nota.
O STF, que em nota também negou o teor da reportagem,
preferiu não emitir opinião sobre as desavenças entre seu ministro e o
ex-presidente. De acordo com a Folha de S.Paulo,
o presidente da Corte, Ayres Britto, após consulta aos ministros, teria
concluído o encontro entre Lula e Gilmar não foi um episódio
institucional, mas pessoal.
As demais "vítimas" de Gilmar
A Embaixada da Venezuela no Brasil divulgou nota oficial
repudiando as declarações do ministro, ao jornal O Globo, de que "o
Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando
contrariado, mandou até prender juiz". “Recorrer à desinformação para
envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos
brasileiros é uma atitude indecorosa - ainda mais partindo de um
ministro da mais alta corte da nação irmã - e não reflete a parceria
histórica entre Brasil e Venezuela”, disse o embaixador no Brasil,
Maximilien Arveláiz.
O deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP),
também atacado por Mendes, atribuiu as declarações do ministro a uma
tentativa de inviabilizar os trabalhos da CPMI do Cachoeira. “Desta vez a
tentativa de blindar o crime organizado não deu certo. Felizmente, o
trabalho da CPMI do Cachoeira já transcendeu o poder de obstrução dos
corruptos, corruptores e do Sr. Gilmar Mendes. Não adianta mais tentar
ganhar no grito ou querer dispersar o foco objetivo da CPMI por meio de
mentiras”, disse o deputado, em nota.
Protógenes lembrou que
Mendes, quando presidente do STF, foi responsável por decisões que
afetaram a credibilidade da Justiça brasileira, como a concessão de dois
habeas corpos, em 48 horas, para o banqueiro condenado Daniel Dantas,
em 2008. “Os atos incomuns praticados no STF pelo ex-presidente Gilmar
Mendes tinham, então, respaldo de um super poder judicial acima da lei e
da Constituição da República. Hoje eles não tem mais. As coisas mudaram
no Brasil. E continuarão mudando”.
Na nota, o deputado disse
ainda que “talvez o destempero, nervosismo e arrogância de Gilmar Mendes
se explique ao longo da CPMI do Cachoeira na ampliação da coleta de
dados, documentos e informações que aprofundem as investigações com o
objetivo final de revelar as infiltrações nos Poderes da República, que
ameaçam o Estado Democrático de Direito”.
O ex-delegado da
Agência Brasileira de Inteligência (Abim), Paulo Lacerda, acusado por
Gilmar Mendes de “grampear” o STF, em 2008, rebateu as declarações
recentes do ministro de que ele continuaria abastecendo Lula com
informações sobre a atividade do magistrado. Em entrevista ao site Terra
Magazine, o ex-diretor-geral da Polícia Federal afirmou que, se Mendes
realmente fez tal afirmação, “ele foi leviano e mente”. Lacerda negou
proximidade com o ex-presidente Lula e disse que, hoje, trabalha para a
iniciativa privada.
Negou também conhecer o araponga Idalberto
Matias Araújo, braço direito de Cachoeira que, segundo Mendes, seria
homem de confiança de Lacerda. Para o ex-delgado, o ministro do STF está
“exaltado, sem controle”. Ele afirmou ainda que a CPI do Cachoeira será
uma “ótima oportunidade” para esclarecer o caso dos grampos ilegais
jamais provados que derrubaram a Satiagraha.
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