Como elite, mídia e Igreja católica jantaram Lugo
Foto: Divulgação |
Bispos católicos pediram a renúncia do presidente para evitar enfrentamentos; sem apoio clerical, parlamentar e midiático, Fernando Lugo foi presa fácil para o golpe imposto pelos conservadores no Paraguai
Por Leonardo Attuch
Ainda que a constituição paraguaia permita o juízo político de seus governantes, um processo de impeachment que se desenrola em apenas dois dias só pode ser definido com uma única palavra: golpe. Foi isso o que aconteceu no Paraguai, por mais que vozes conservadoras, daqui e de lá, defendam a legalidade do processo. Ponto.
Ainda que a constituição paraguaia permita o juízo político de seus governantes, um processo de impeachment que se desenrola em apenas dois dias só pode ser definido com uma única palavra: golpe. Foi isso o que aconteceu no Paraguai, por mais que vozes conservadoras, daqui e de lá, defendam a legalidade do processo. Ponto.
Até aí, não há muita surpresa, uma vez que a história paraguaia é
marcada por golpes, ditaduras e quarteladas. A diferença, desta vez, foi
a sutileza de um “golpe parlamentar”, um “golpe democrático”. Em
resumo, um golpe branco, imposto pela elite oligárquica do país.
Surpresa em si foi a reação do presidente Fernando Lugo, que não opôs
resistência alguma e se ofereceu passivamente ao martírio. A que se
deve essa atitude? Talvez seja fruto da sua formação católica. Ex-padre,
e achincalhado por muitos pelas dezenas de filhos que fez, Lugo tem
alma cristã. Ao deixar o poder, ele ofereceu a outra face. “Saio pela
porta maior, a do coração”, disse o ex-presidente. Lugo ainda tentará –
em vão – recuperar seus direitos políticos, mas essa é uma batalha
perdida.
No Paraguai, tudo parece estar dominado: Congresso, meios de
comunicação e a própria Igreja Católica. Nos jornais paraguaios de hoje,
não se encontrará uma única referência ao golpe. Periódicos como "ABC
Color" e "Cronica" tratam a deposição de um presidente eleito como um
fato corriqueiro, tal qual uma partida de futebol do Cerro Porteño. O
ABC, por sinal, trouxe a seguinte manchete no dia de ontem, que já
antecipava a decisão do Congresso: "Se não renunciar, Lugo será
cassado".
Assim como os meios de comunicação, a Igreja Católica paraguaia
também se uniu à elite conservadora na trama do golpe de Estado. Horas
antes do “juízo político”, Lugo recebeu, na residência oficial do país,
um grupo de bispos da Conferência Episcopal, que equivale à CNBB no
Brasil. Um deles, Claudio Giménez saiu afirmando à imprensa que os
padres pediram a Lugo que renunciasse para “evitar enfrentamentos”.
Passivo, Lugo assim resumiu sua queda: “Não é Lugo o destituído, é a
história paraguaia”. Errado. A história paraguaia não foi destituída.
Ela foi restituída.
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