domingo, 17 de junho de 2012

Quem atira a primeira pedra?


Rodolpho Motta Lima

Sem desmerecer a importância do julgamento pelo Supremo dos políticos envolvidos no “mensalão” – prática inaceitável que, se confirmada, terá mesmo que ser punida - quero, no entanto, chamar a atenção para o açodamento com que setores da mídia – que já têm como certa a condenação dos réus – insistem em vincular a futura decisão do STF aos resultados eleitorais de outubro próximo.

Seria perfeitamente compreensível essa hipotética ligação direta entre os fatos se não estivessem aí disponíveis – na farta mesa de corrupção que envolve o nosso (?) meio político – elementos das mais variadas espécies para nutrir, também do lado dos opositores do PT, vasta gama de falcatruas, tráficos de influência e outros procedimentos que envolvem manipulação fraudulenta de recursos.

Acho que foi João Saldanha quem disse que “se macumba ganhasse jogo de futebol, o campeonato baiano terminaria empatado”. Lamentando sinceramente a paródia que vou construir, a verdade é que, em nosso país, se a corrupção derrotasse candidaturas ou partidos, seria difícil termos poderes políticos estabelecidos no Brasil.

Se um cidadão paulistano, por exemplo, não aceita votar em Haddad por não confiar no seu tino administrativo ou por uma eventual escolha pouco feliz do PT, isso é discutível, mas aceitável. Mas se o faz com base na existência do “mensalão” petista, como poderá justificar seu voto no candidato Serra, por exemplo, sem exigir, no mínimo, esclarecimentos sobre o que se denuncia no livro “Privataria Tucana” do jornalista Amauri Ribeiro Jr.? Como poderá argumentar com posturas éticas se também o PSDB teve o seu “mensalão” (o mineiro) sujeito a um próximo julgamento? Como poderá votar no candidato que tem apoio explícito de ministro afastado do governo Dilma por pretensos malfeitos, com a pressão, então, do próprio tucanato? Alguém já se deu ao trabalho de comparar os valores envolvidos nesses processos, em uma espécie de “ranking” da corrupção?

É claro que o eleitor de Brasília deve estar indignado ou ressabiado por ver o nome do seu governador envolvido na cachoeira (“enxurrada”) de denúncias que assola o país. Pode até querer atribuir tal mal a um DNA petista. Mas pode? Pode fazê-lo na terra de Arruda do DEM, da Roriz do PMN? E, em termos do assunto-Cachoeira, a que partido pertence (ou pertenceu) o Sr. Demóstenes Torres - até meses atrás tido como sustentáculo moral dos princípios éticos na política? E os outros governadores vinculados ao processo?

Em suma: se o assunto é corrupção, qual é o partido – dentre as grandes agremiações políticas do país - que pode atirar a primeira pedra?

Eu entenderia e respeitaria essa postura “moralizadora” da grande mídia nacional se ela, prezando efetivamente os valores maiores do jornalismo, não estivesse nitidamente comprometida com interesses que a fazem amplificar alguns fatos e quase esconder outros, ao sabor de suas conveniências.

É mais do que certo que os níveis da corrupção no país chegam ao ponto do intolerável. É óbvio que a sociedade tem que reagir a isso. Mas é ridículo querer atribuir esse comportamento a uma sigla partidária, satanizando-a, quando a realidade revela que ele é generalizado.

Aquilo de que necessitamos – para minimizar a corrupção endêmica e inerente a um sistema econômico que a estimula, mas que, infelizmente, é o que temos - é, sim, de uma reforma das práticas políticas, que envolve o fim de partidos “de aluguel”, a proibição de coligações “espúrias” e fisiológicas, a identificação clara dos matizes ideológicos dos partidos, o fim do voto secreto dos “representantes do povo”, a aplicação rigorosa, pelos juízes eleitorais, dos princípios da ficha limpa, a proibição de financiamentos de campanhas por entidades particulares e tanta outras providências que, se não acabariam com a corrupção conjuntural de alguns indivíduos pessoalmente propensos à fraude, pelo menos derrubariam obstáculos que fazem da corrupção, hoje, um problema estrutural.

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