Por Leila Cordeiro
No dia 5 de junho de 1983, há exatamente 29 anos, estreava aquela
que seria a primeira pedra no sapato da toda poderosa Rede Globo, a TV
Manchete, fundada no Rio de Janeiro pelo empresário gráfico ucraniano,
naturalizado brasileiro, Adolpho Bloch. A Manchete entrou no ar cheia
de novidades.
Para começar, o cenário de seu principal telejornal foi o primeiro a
ter como fundo imagens de monitores com os profissionais da técnica
trabalhando ao vivo. Além disso, o design futurista do ambiente,
incomodou o visual tradicional e monocromático dos telejornais da Globo
que passou a olhar com olhos mais preocupados para a nova emissora que
estava nascendo em berço de ouro.
Sua sede no Russel também foi motivo de comentários e de curiosidade.
Afinal, ela ficava num ponto privilegiado do Rio. Na praia do Flamengo
bem em frente a um dos principais cartões postais da cidade maravilhosa,
o Pão de Açucar. Todas as empresas Bloch já funcionavam no prédio e a
TV passou a ter alguns andares dedicados às suas instalações.
Em 1984, um ano depois de sua estréia, a Manchete teve uma
importante vitória em seu objetivo de incomodar a supremacia da Globo. A
emissora dos Bloch conseguiu a exclusividade da transmissão dos
desfiles das escolas de samba no ano de inauguração do Sambódromo,
depois que a Globo desistiu por não aceitar as regras impostas pelo
governo Leonel Brizola.
E a Manchete não parou mais. Foi destaque em novelas como "Pantanal" e
fez a diferença botando uma programação diferenciada no ar, de musicais
a noticiários, programas esportivos, entrevistas, debates e até
humorísticos. Tudo com acabamento esmerado e conteúdo de qualidade. Seus
funcionários eram de uma dedicação memorável. Vestiam a camisa da
Manchete com orgulho e garra de estarem enfrentando, e incomodando, o
Golias do Jardim Botânico.
Mas o tempo passou, vieram dificulades financeiras e administrativas e
a emissora dos Bloch acabou fechando suas portas no dia 5 de maio de
1999 para tristeza tanto dos telespectadores quanto de quem trabalhava
lá. Muitos ficaram sem receber e foram à justiça reclamar seus direitos
sem sucesso.
Em novembro do mesmo ano de 1999, os empresários Amilcare Dalevo e
seu sócio Marcelo de Carvalho assumiram a concessão da emissora do
Russel, levando a sede para São Paulo, deixando os funcionários da ex-Manchete no Rio a ver navios. Os novos donos alegam que nunca assumiram o
compromisso de bancar o passivo trabalhista da emissora.
E o que era Manchete virou Rede TV. Depois de muitas promessas,
próprias de quem está iniciando algum projeto, a Rede TV não aconteceu. A
emissora investiu numa sede com tecnologia de ponta, tornando-se uma
das mais modernas do país. Seu conteúdo, entretanto, só conseguia alguns
pontos de audiência com uma programação de baixo nível. Ninguém é capaz
de se lembrar de algum programa de qualidade na Rede TV. Pra se ter uma
ideia, seu programa de maior audiência e faturamento era o "Pânico". Era,
porque agora o programa se transferiu para a Bandeirantes. Inventou um
tal de Saturday Live, mas tudo indica que não vai decolar, segundo
análise da mídia especializada.
Na busca pela audiência a qualquer preço, a Rede TV não faz por
menos, apela para o baixo nível, mesmo sabendo que as experiências
anteriores não deram certo. Abriu espaço para um terror de audiência, um
tal de “Sexo a Três”. Pode alguma emissora séria ter um programa com
esse nome?
O que vai acontecer com a Rede TV ninguém sabe. Mas é preciso que o
público saiba qual o critério de concessão de canais de televisão. Tem
o governo poderes para cobrar qualidade de programação das emissoras,
com punição que pode ir até a cassação do canal? Pelo visto, se existe
alguma cláusula nesse sentido, ela é ignorada pelas autoridades.
É uma pena que, ao olhar para trás e lembrar do que foi a Manchete, o
público e todos aqueles que nela trabalharam só tenham a lamentar o
triste destino do que foi um grande projeto de televisão.
Um comentário:
Mistério no ar, porque as emissoras que enfrentam a globo sempre acabam com problemas financeiros e se extinguem os bons pragramas? Me irrita que a Globo só ganha audiência pela falta de competitividade das outras emissoras, e sempre que alguma coisa boa acontece, os programas somem do ar, sem nenhuma razão plausível, como censura ( noite afora ) falta de pagamento ( show do tom , rede machete toda , canal 21 todo, tinha muita coisa boa lá ) o público gosta de porcaria com censura velada ou tem coisa ai?
abraço
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