sábado, 9 de junho de 2012

Homenagem a Pinochet causa indignação: Chile e Colômbia disputam qual dos países é mais vassalo ao império terrorista

Homenagem a Pinochet causa indignação

Ex-apoiadores de Augusto Pinochet convocaram uma homenagem ao ex-ditador para este domingo (10). Organizações sociais, grupos de defesa dos direitos humanos, políticos e familiares de vítimas do genocida, se opuseram à realização do evento e pediram sua proibição. A Justiça chilena, porém, autorizou o ato. O Prêmio Nobel da Paz em 1980, Adolfo Pérez Esquivel, considerou uma “aberração” e um “atentado contra a democracia” a suposta homenagem.

Christian Palma, de Santiago

Santiago - O número de vítimas da ditadura encabeçada por Augusto Pinochet (1973-1990) superou 40 mil pessoas, cifra na qual se incluem 3.225 mortos ou desaparecidos e milhares de torturados e exilados, segundo um informe oficial elaborado pela Comissão Valech, que investiga os abusos contra os direitos humanos no Chile nas décadas de 1970 e 1980. Apesar desses números horrorosos, um grupo de rançosos apoiadores das botinas e baionetas militares pretende realizar uma homenagem ao genocida neste domingo. Mas não será fácil. Diversas organizações sociais, grupos de defesa dos direitos humanos, políticos e familiares de vítimas do horror, se opuseram ao evento que será realizado em um estádio no centro de Santiago.

A Corte de Apelações de Santiago do Chile pediu à Prefeitura Metropolitana e à direção geral dos carabineiros que entregassem informes sobre a realização da homenagem a Pinochet. O prazo venceu na sexta e a Justiça autorizou o ato recusando o pedido feito pela Agrupação de Familiares Detidos Desaparecidos (AFDD) para que impedisse a realização do ato organizado pela Corporação 11 de Setembro, dia em que as forças armadas lideradas por Pinochet atacaram o Palácio de La Moneda e deram início a um período de horror no Chile. Esse grupo de velhos fascistas apresentou um recurso preventivo pedindo aos juízes que garantissem o seu direito de reunião, consagrado na Constituição do país.

O deputado do Partido Comunista, Lautaro Carmona, lamentou que existam grupos que insistam em reivindicar a figura de Augusto Pinochet, que, na sua avaliação, representa “a obra mais monstruosa da história do país”. Por isso, pediu ao governo de Sebastian Piñera que adotasse uma posição de Estado para coibir o ato.

“É lamentável que não haja uma voz clara, inequívoca e dura da parte do governo dizendo que não há lugar para esse tipo de reivindicação. Deveria ser uma posição de Estado dizer que não há espaço para homenagear o massacre no Chile e que isso atenta contra a convivência. “O que pensaria a sociedade alemã se hoje um grupo reivindicasse uma homenagem a Hitler? Creio que toda a sociedade repudiaria essa tentativa”, disse Carmona.

Por sua parte, a AFDD e o Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) convocaram protestos contra a estreia de um documentário que será exibido no Chile e que mostra a gestão do falecido ditador. Mas não foram os únicos a levantar a voz. O Prêmio Nobel da Paz em 1980, Adolfo Pérez Esquivel, considerou uma “aberração” e um “atentado contra a democracia” a suposta homenagem.

“É uma aberração. O governo deve suspender esse ato que representa um atentado à democracia. Ou se esqueceram que assassinaram um presidente constitucional eleito pelo povo, como Salvador Allende, se esqueceram das mortes, das torturas, do desaparecimento de milhares de chilenos. Fazer uma homenagem a um criminoso é querer avalizar a tortura, os golpes de Estado e as violações dos direitos humanos”, afirmou.

Hugo Gutiérrez, outro deputado comunista, disse não ter estômago para ver homenagens ao ex-ditador Augusto Pinochet, muito menos ainda quando o tratam como um herói. “É preciso aceitar todas as diferenças de opinião, mas há certas opiniões que são apologias do ódio e que reivindicam fatos como os que ocorreram durante a ditadura. Creio que fazer um chamado para que se repitam esses mesmos fatos, isso é inaceitável e um país que entende que é possível fazê-lo é um país que aprendeu muito pouco com o que aconteceu”, disse o deputado.

Além disso, afirmou que o “Chile deve estar um pouco louco e creio que a culpa, em grande medida, é a da transição para a democracia que nós tivemos e que manteve não só a institucionalidade de Pinochet, como também seu modelo econômico. E manteve a cultura da impunidade repressiva que se mantém até os dias de hoje, o que faz com que todos esses criminosos que povoaram a ditadura de Pinochet e que hoje posam como democratas se atrevam a promover tais atos”, acrescentou.

Do outro lado, o general aposentado Luis Cortés Villa, ex-diretor da Fundação Pinochet, saiu em defesa do documentário “Pinochet”, que deve estrear neste domingo no Teatro Caupolicán, pois, na sua avaliação, resgata “o papel que desempenhou na história do Chile do Chile e sua atuação fundamental para salvar o país”. Já o senador da Renovação Nacional (um dos partidos de direita que apoia o governo de Piñera), Carlos Larraín, confirmou que não participará da homenagem porque considera a mesma inapropriada, ainda que defenda a possibilidade de realizá-la. “Parece-me perfeitamente legítimo. Há pessoas que têm nostalgia dele e há outros que simplesmente não aceitam que seja caricaturizado, então estão querendo reestabelecer um certo equilíbrio”.

Enquanto isso, a vicepresidenta da Agrupação de Familiares e Detidos Desaparecidos, Mireya García, apontou que o panorama atual do país é que propicia esse tipo de homenagem. “A direita e os partidários da ditadura estão absolutamente soltos, não têm nenhum limite. Esse é o período no qual sentem que tudo é possível. É realmente uma agressão insustentável, insuportável”, disse categórica.

Finalmente, o diretor para as Américas da Human Rights Watch, o chileno José Miguel Vivanco, afirmou que a homenagem está amparada pela liberdade de expressão. “Se um setor da população quiser expressar seu apoio a um ditador que conduziu uma ditadura brutal, violenta, por 17 anos no Chile, responsável por massivas e gravíssimas violações dos direitos humanos, como nunca antes na história do Chile, lamentavelmente tem o direito de fazê-lo”, sustentou.

O diretor do organismo destacou que “a liberdade de expressão protege inclusive atos ou eventos tão reprováveis como este”. “Os participantes desse ato podem ser objeto de reprovação moral de outras pessoas e isso poderá ser tema de um debate público forte, mas esse direito está amparado no direito internacional”, concluiu.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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