Via Terra Magazine
WÁLTER MAIEROVITCH
A Operação Condor, de sustentação às ditaduras na América do Sul, sempre foi escondida a “sete-chaves” pelos militares. O professor Luiz Cláudio Cunha, na sua obra Operação Condor: O sequestro dos Uruguaios (L&PM-2008), dá uma importante contribuição para se sair da escuridão. Nesta semana, o referido professor Luiz Cláudio Cunha dissertou, em Seminário Internacional na Câmara Federal, sobre a Operação Condor. Abaixo, a íntegra do importante e bem fundamentado pronunciamento.
As garras do Brasil na Condor
Luiz Cláudio Cunha *
A mais longa ditadura da maior nação do continente
não poderia ficar de fora do clube mais sinistro dos regimes militares
da América do Sul. O Brasil dos generais do regime de 1964 estava lá, de
corpo e alma, na reunião secreta em Santiago do Chile, em novembro de
1975, que criou a Operação Condor.
Nascia a mais
articulada e mais ampla manifestação de terrorismo de Estado na
história mundial. Nunca houve uma coordenação tão extensa entre tantos
países para um combate tão impiedoso e sangrento a grupos de dissensão
política ou de luta armada, confrontados à margem das leis por técnicas
consagradas no submundo do crime.
Tempos depois,
em 1991, as democracias renascidas da região construíram um difícil
pacto de integração política e econômica batizado de Mercosul. Dezesseis
anos antes, contudo, os generais das seis ditaduras do Cone Sul —
Chile, Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia — tinham
conseguido realizar, a ferro e fogo, uma proeza ainda mais improvável:
um secreto entendimento pela desintegração física, política e
psicológica de milhares de pessoas.
A Operação
Condor trouxe para dentro do Estado ilegítimo das ditaduras as práticas
ilegais da violência de bandos paramilitares, transformando agentes da
lei em executores ou cúmplices encapuzados de uma dissimulada política
oficial de extermínio.
O envolvimento de
efetivos regulares da segurança com as práticas bandoleiras de grupos
assassinos explica, de alguma forma, a leniência e depois a conivência
com o crime por parte de corporações historicamente fundadas na lei e na
ordem. O Esquadrão da Morte, em países como Brasil, Argentina e
Uruguai, contaminou o Exército. O Exército perdeu os limites com a
obsessão da guerra antisubversiva. A luta contra a guerrilha transbordou
as fronteiras da lei e exacerbou a violência. A virulência clandestina e
sem controle do esquadrão empolgou o Exército. O Exército apodreceu com
o Esquadrão da Morte. O esquadrão confundiu-se com o Exército, o
Exército virou um esquadrão.
A Condor, enfim, reconheceu tudo isso e criminalizou os regimes militares do Cone Sul.
Dois
policiais resumem este mergulho criminoso do poder no Brasil e no
Uruguai. O americano Dan Mitrione era especialista em interrogatórios do
Serviço de Segurança Pública (OPS, na sigla em inglês), uma agência
americana de fachada da CIA extinta um ano antes do nascimento da
Condor. Em 16 anos de vida, treinou um milhão de policiais no chamado
Terceiro Mundo. Mitrione desembarcou no Rio de Janeiro um ano antes do
golpe de 1964 e ao sair, três anos depois, a OPS tinha adestrado 100 mil
agentes brasileiros, 1/6 da força policial do país. Mitrione assumiu a
OPS do Uruguai em 1969, quatro anos antes do golpe de Bordaberry, com um
lema que definia seus princípios: “A dor precisa, no lugar preciso, na
quantidade precisa, para o efeito desejado”.
O
brasileiro Sérgio Fleury, delegado do DOPS, era internacionalmente
conhecido como líder do clandestino Esquadrão da Morte, de onde importou
métodos de combate ao crime comum para uso na repressão política. Seis
meses antes do golpe de junho de 1973, o embaixador americano em
Montevidéu, Charles Wallace Adair Jr., avisou Washington que oficiais da
alta hierarquia militar do Uruguai foram treinados no final de 1971
pelo Brasil para combater a insurgência. Um dos treinadores brasileiro
levados aos aprendizes de Mitrione era o experiente Fleury.
O
embaixador detalhou a ação de órgãos de segurança da Argentina
(Secretaria de Inteligência do Estado, SIDE) e do Brasil (Serviço
Nacional de Informações, SNI) no apoio a grupos uruguaios clandestinos:
“Os brasileiros reconhecidamente aconselharam e treinaram oficiais
militares e policiais uruguaios envolvidos em grupos contra-terroristas
que se responsabilizaram por atentados a bomba, sequestros e até mesmo
assassinatos de suspeitos de pertencerem à esquerda radical”. Na
Argentina, o delegado-chefe da Polícia Federal em Buenos Aires era
Alberto Villar, fundador em 1973 da versão local do Esquadrão da Morte, a
clandestina Triple A, ou Aliança Anticomunista Argentina, acusada de
quase 2 mil mortes em dez anos de crimes.
Quase
dois anos antes da formalização da Condor, os seis países da região
fizeram uma reunião secreta em Buenos Aires, em fevereiro de 1974. O ‘I
Seminário de Polícia sobre a Luta Antisubversiva no Cone Sul’ reunia os
chefes da Polícia Federal, alguns deles oficiais do Exército — casos do
Brasil, Argentina e Paraguai. Acertaram “novas formas de colaboração
transnacional para confrontar a ameaça subversiva”, conforme o general
Miguel Angel Iñiguez, chefe da Polícia Federal argentina, anunciando a
decisão final de operações conjuntas “contra inimigos políticos em
qualquer dos países associados”.
A preocupação
anticomunista se aguçou com a revolução castrista em Cuba e entrou na
pauta dos quartéis do continente, que se reuniam regularmente na
Conferencia dos Exércitos Americanos (CEA). No 10º encontro, realizado
em Caracas uma semana antes do golpe de Pinochet em 1973, o general
brasileiro Breno Borges Fortes propôs “ampliar a troca de experiências
ou informações” na guerra ao comunismo.
Em 1976, na Nicarágua do ditador Somoza, disse o chefe da delegação argentina na CEA:
—
A guerra ideológica não respeita fronteiras — avisou o general Roberto
Viola, que carregava no sobrenome a crença de quem não reconhece limites
no combate à subversão. Quatro anos antes, este desbordamento da
violência ficou evidente no Uruguai.
Em
fevereiro de 1972, os guerrilheiros Tupamaros sequestraram um fotógrafo
em Montevidéu. Nelson Bardessio era mais do que isso: era também
policial, segurança e motorista do americano William Cantrell, o homem
da CIA no Uruguai. O policial revelou ser membro do Esquadrão da Morte
que agia dentro da DNII, Dirección Nacional de Información y
Inteligencia, a central de polícia abastecida pela CIA de Cantrell com
equipamento de tortura.
As ordens do ministro do
Interior, Santiago de Brum Carbajal, eram repassadas ao esquadrão pelo
vice-ministro Armando Acosta y Lara. Bardessio revelou que o próprio
secretário pessoal do presidente Pacheco Areco, Carlos Piran, conseguiu
junto à SIDE (a Secretaria de Inteligência do Estado argentino) a
gelinita explosiva com que o Esquadrão da Morte praticou quatro
atentados em Montevidéu. O motorista da CIA contou que ele fizera parte
de uma equipe de cinco policiais treinados pela SIDE em Buenos Aires em
“atividades antiterroristas” e “técnicas de vigilância”. Outros dois
agentes, disse Bardessio, foram enviados ao Brasil para exercitar
“operações de Esquadrão da Morte”.
Os futuros
quadros da Condor começaram a se formar nesta geleia geral que misturava
gelinita com militares, policiais, agentes secretos, torturadores e
terroristas paramilitares. Ali mesmo em Montevidéu, três anos depois, a
Condor começou a sair do ovo. Em outubro de 1975, nos salões exclusivos
do hotel Carrasco, reuniu-se a 11ª CEA, a conferência dos Exércitos. Num
encontro prévio, os chefes dos serviços secretos do continente ouviram a
proposta de seu camarada chileno, um certo coronel Manuel Contreras,
chefe da Dirección Nacional de Inteligência (DINA), a polícia política
de Pinochet, para a criação de “um programa repressivo transnacional”.
A
proposta foi aprovada, e Contreras não perdeu tempo. Despachou o
vice-diretor da DINA, o coronel da Força Aérea Mário Jahn, direto de
Montevidéu para Assunção, onde entregou ao general Francisco Brítez,
chefe da repressão do Governo Stroessner, o convite para uma reunião
“absolutamente secreta” em Santiago do Chile para o mês seguinte,
novembro.
O nº 2 da DINA, antes de voltar para
casa, fez uma segunda escala, um pouco acima no mapa: Brasília. Aqui,
entregou o convite e a agenda de dez páginas da pomposa ‘Iª Reunión de
Trabajo de Inteligencia Nacional’ a um fraterno amigo de Contreras: o
general João Baptista Figueiredo, o chefe do Serviço Nacional de
Informações (SNI) do Governo Geisel.
As duas
ditaduras tinham muito em comum. O palácio La Moneda ainda fumegava com
as bombas de sete ataques da Força Aérea quando o embaixador brasileiro
Antônio Cândido Câmara Canto adentrou a Escola Militar de Santiago no
instante em que o quarteto da Junta Militar prestava juramento como novo
centro de poder.
– Ainda estávamos disparando
quando chegou o embaixador e nos comunicou o reconhecimento – registrou o
próprio Pinochet, assombrado com a ligeireza que tornou o Brasil o
primeiro governo do planeta a estabelecer vínculos formais com a nova
ordem.
Dissimulados, os Estados Unidos de Nixon e
Kissinger esperaram baixar a poeira das bombas e só reconheceram a
ditadura Pinochet treze dias depois do Brasil. O espaço aéreo chileno
ainda estava fechado, horas depois do golpe, quando quatro aviões
militares brasileiros pousaram na base de Santiago, oficialmente levando
apenas remédios e mantimentos.
No Brasil, o
apoio encoberto ao golpe foi imediato. Um acordo, articulado no Governo
Médici (1969-1974) e executado no Governo Geisel (1974-1979), garantiu
fuzis e munição para a repressão interna no Chile, como revelou no
domingo (1/julho) a repórter Júnia Gama, de O Globo, com base em
documentos inéditos do extinto EMFA (Estado-Maior das Forças Armadas).
Um ofício de 17 de janeiro de 1975 revela a ordem secreta do EMFA para
raspar o logotipo da República nos fuzis tipo FAL para não permitir a
identificação da cumplicidade brasileira nas armas produzidas na fábrica
do Exército em Itajubá, Minas Gerais.
O próprio
Manuel Contreras afiara suas garras no Brasil. Um interlocutor do
coronel, o americano Robert Scherrer, chefe do escritório do FBI em
Buenos Aires, diz que o chileno foi treinado em Brasília. O golpe mal
completara um mês quando um economista brasileiro da CEPAL foi
incorporado aos dez mil prisioneiros reunidos no Estádio Nacional de
Santiago. José Serra, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes,
chegou a ouvir gente fazendo interrogatório em português. Os agentes do
SNI foram ao Chile depois do golpe para obter informações de
esquerdistas brasileiros, enquanto oficiais chilenos vinham ao Brasil
para treinamento na Escola Nacional de Informações, a ESNI – que serviu
de inspiração a Contreras na formatação de sua DINA.
Entre
os 24 mil documentos da Inteligência americana sobre o Chile,
desclassificados no Governo Clinton, existe um memorando secreto que o
general Vernon Walters, o vice-diretor da CIA, mandou em julho de 1975
ao assessor de Segurança Nacional do presidente Ford, Brent Scowcroft.
Ele retransmitia o apelo que Pinochet, inusitadamente aflito pelo risco
de isolamento internacional, mandava para a Casa Branca. No item 3 da
nota, Walters mostrava a intimidade brasileira com Pinochet: “Os
chilenos sabem que não conseguem obter ajuda direta por causa da
oposição do Congresso [americano]. Querem saber se há algum modo de
conseguir essa ajuda indiretamente, via Espanha, Taiwan, Brasil ou
República da Coréia”.
O general americano nem precisou lembrar. Mas os quatro países, por coincidência, eram ferozes ditaduras anticomunistas.
Dois
meses depois, em setembro de 1975, Pinochet e o vice-diretor da DINA,
coronel aviador Mario Jahn, discutiram a expansão internacional da
repressão chilena. O coronel era o homem encarregado por Contreras de
pilotar as incursões além-fronteiras da Condor, desafio que sempre
demandava gastos maiores. Na conversa na sala de jantar do general,
presenciada por um civil amigo de Pinochet, Jahn explicou:
–
Os americanos estão ajudando por meio do Brasil. Este é o momento de se
mover, avançar e levar a luta para o nível mundial – propôs o coronel a
Pinochet, informado de que treinamento da CIA era fornecido por meio do
Brasil. Brasília era definida, na conversa, como o “canal de
treinamento” de técnicas de interrogatório e tortura para os agentes da
DINA.
Um memorando de 15 de setembro de 1975 de
Contreras a Pinochet pede um reforço de US$ 600 mil no orçamento daquele
ano da DINA. No item 1 da nota, o coronel justifica ao general:
“Aumento do pessoal da DINA ligado às missões diplomáticas do Chile. Um
total de dez pessoas: 2 no Peru, 2 no Brasil, 2 na Argentina, 1 na
Venezuela, 1 na Costa Rica, 1 na Bélgica e 1 na Itália.”
Em
1999, o jornal O Globo deu outra pista segura sobre a presença da DINA
em solo brasileiro. Ele revelou uma destinação adicional ao pedido de
verbas feito por Contreras a Pinochet em 1975: o custeio dos oficiais da
DINA que, a cada dois meses, faziam um curso de seis semanas no Centro
de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) do Exército brasileiro, em
Manaus, no coração da maior floresta tropical do mundo.
Durante
algum tempo, um de seus principais instrutores foi o adido militar da
embaixada da França em Brasília entre 1973 e 1975. O general Paul
Aussaresses, especialista em inteligência, era veterano de duas épicas
derrotas francesas em guerras coloniais: a da Indochina (1946-1954) e a
da Argélia (1954-1962). Foi herói na Segunda Guerra Mundial, saltando de
paraquedas na Normandia para fazer a ligação entre a Resistência
francesa e as tropas aliadas do Dia D. Foi vilão no fronte argelino,
como mestre da tortura aplicada pelas tropas paraquedistas do general
Jacques Massu. Graças a Aussaresses, a França introduziu no seu
vocabulário uma deformação paraestatal que só condenava nos outros
povos: os macabros ‘esquadrões da morte’.
Quase
duas décadas antes do jornalista Vladimir Herzog aparecer “suicidado” no
porão do DOI-CODI em São Paulo, Aussaresses mandou “suicidar” em Argel
um dos líderes da Frente de Liberação Nacional (FLN), o argelino Larbi
Ben M’Hidi, que apareceu enforcado na prisão após um interrogatório
pesado, em 1957. Na sequência, outro suicídio: o influente advogado Ali
Boumendjel “atirou-se” do sexto andar do prédio onde estava preso. Em
2000, o general reconheceu que nenhum se suicidara. Ambos foram mortos
pela tortura executada sob suas ordens. Mas Aussaresses não se
arrependia:
– A tortura é um mal menor, mas necessário, que deve ser usado para evitar o mal maior do terrorismo.
O
mesmo argumento consolador foi usado pelo general Ernesto Geisel no
depoimento que prestou ao CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, ao dizer:
—
Acho que a tortura em certos casos torna-se necessária, para obter
confissões. (…) Não justifico a tortura, mas reconheço que há
circunstâncias em que o indivíduo é impelido a praticar a tortura, para
obter determinadas confissões e, assim, evitar um mal maior — explicou
Geisel.
Apesar da tolerância, o ditador
brasileiro ainda simulava espanto com a ousadia da repressão de
Pinochet. Em setembro de 1974, uma bomba da DINA explodiu em Buenos
Aires o carro do ex-comandante do Exército chileno, Carlos Pratts,
matando o general legalista e sua mulher. Quatro meses depois, quando
Figueiredo sugeriu uma aproximação entre o SNI e a DINA, Geisel vetou:
—
Eles que venham aqui ver a ESNI – disse o presidente, segundo anotação
de 10 de janeiro de 1975 do secretário particular Heitor Ferreira,
revelada pelo jornalista Elio Gaspari. Exatamente uma semana depois, o
EMFA do general Geisel mandaria raspar o logotipo das armas que seu
hipócrita governo fornecia clandestinamente à ditadura chilena.
Os
chilenos, apesar do fingimento de Geisel, já frequentavam a Escola
Nacional de Informações do SNI em Brasília desde o ano anterior, logo
após a criação da DINA. O que Geisel não queria, realmente, era misturar
suas tropas de repressão com as de Pinochet. Além disso, havia um erro
de origem no convite de Contreras a Figueiredo para a reunião no Chile.
Por definição, o SNI era um órgão de informação do presidente da
República. Assim, o SNI não era o braço operacional no combate à luta
armada. A missão em Santiago, por dever de ofício, cabia ao Centro de
Informações do Exército.
Era o CIE que guerreava o que o SNI informava.
Esta
era a lógica – e Figueiredo repassou o encargo a quem de direito, o
general Confúcio Danton de Paula Avelino, o chefe do CIE, com uma
recomendação especial de Geisel: reduzir a presença brasileira em
Santiago. Em vez de três, como pedia Contreras, o Brasil mandaria apenas
dois militares – um coronel e um major, com ordens estritas para
escutar mais do que falar.
O Brasil não tinha
muitas ideias para uma ação coletiva, mas queria preservar as ações
bilaterais, caso a caso, quando ações repressivas fossem necessárias.
Uma última recomendação de Figueiredo, repassando a ordem de Geisel:
reduzir a participação brasileira à condição de observador, sem
autorização para firmar nenhum documento.
Na
manhã ensolarada de 25 de novembro de 1975, uma terça-feira, os dois
brasileiros se juntaram a outros treze militares disfarçados de terno e
gravata que ocuparam o grande salão da mansão da Alameda O’Higgins onde
funcionava a Academia de Guerra do Exército, na capital chilena. A voz
aguda de Pinochet ocupou um pedaço da sessão de hora e meia da abertura.
Depois, Contreras assumiu o controle, pronunciando seu mantra favorito:
“A subversão não reconhece fronteiras nem países”.
A
repressão que assombrava o Cone Sul desde a década anterior agora tinha
uma organização, um código e um método — e a loucura de sempre. A
operação clandestina ganhou o nome de Condor, o abutre típico dos Andes,
que agora abria suas asas sobre os povos e os países da região sem
fronteiras para um terror de Estado sem limites. A velha e informal
prática da troca de informações e de prisioneiros entre ditaduras
camaradas tinha agora uma grife que ninguém ainda conhecia pelo nome,
mas já temiam pelo terror contagiante de quem perdia parentes e
companheiros, desaparecidos na treva e na noite sem fim.
A
ata de fundação desse clube com licença para matar foi assinada pelos
representantes de cinco dos seis países fundadores. O capitão argentino
Jorge Demetrio Casas (diretor de operações do Serviço de Inteligência do
Estado, SIDE), o coronel uruguaio José Fons (subdiretor do Serviço de
Inteligência de Defensa, SID), o coronel paraguaio Benito Guanes Serrano
(chefe do Departamento de Inteligência do EMFA), o major boliviano
Carlos Mena Burgos (do Serviço de Inteligência do Estado, SIE), além do
anfitrião, o coronel chileno Manoel Contreras. Os dois brasileiros
dissimulados que lá estavam aprovaram tudo, mas não assinaram nada,
cumprindo a ordem de Geisel de presença restrita à condição de
‘observadores’.
Até os documentos
desclassificados da CIA, portanto, não conseguiam quebrar o anonimato
planejado pela hipocrisia brasileira. Achei estranha esta lacuna e,
durante dois anos, enquanto finalizava meu livro sobre a Operação
Condor, procurei identificar a dupla enviada por Brasília. Não
localizei documentos, mas os relatos de veteranos da ditadura e da
comunidade de informações acabaram decifrando o mistério.
Estes são os nomes dos brasileiros ‘observadores’ que fundaram a Condor:
Flávio de Marco e Thaumaturgo Sotero Vaz.
Dois militares, dois agentes do Centro de Informações do Exército (CIE).
Dois
veteranos do combate nas selvas do Araguaia (1972-1974), o maior e mais
longo foco guerrilheiro do país, onde 70 combatentes comunistas de
linha maoísta foram esmagados por um contingente militar que chegou a
oito mil homens.
O coronel De Marco e o major Thaumaturgo estavam lá, na frente de batalha.
Quando
De Marco chegou ao Araguaia, outubro de 1973, ainda resistiam 56
guerrilheiros. Quando o coronel foi embora, um ano depois, não restavam
mais do que dez combatentes. Suas sepulturas nunca foram encontradas. A
falta de investigação do governo sobre a violência no Araguaia levou à
condenação do Brasil, em 2010, pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos da OEA.
O major Thaumaturgo, oficial
paraquedista com curso de guerra na selva na Escola das Américas, no
Canal do Panamá, comandava os ‘boinas pretas’ do Destacamento das Forças
Especiais do Rio Janeiro, quando foi enviado ao Araguaia em 1972 com um
pelotão de 36 homens. Em 1984, já coronel, Thaumaturgo assumiu o
comando em Manaus do CIGS, o centro de guerra na selva onde treinaram os
agentes da DINA do coronel Contreras, seu anfitrião na fundação da
Condor uma década antes.
De Marco e Thaumaturgo
estavam em Santiago por delegação expressa de Geisel e seu sucessor na
presidência. Quando o coronel Figueiredo comandava no Rio o Regimento de
Cavalaria de Guarda, De Marco servia ao seu lado. O general Figueiredo o
levou com ele ao assumir a chefia do SNI e, quatro anos após fundar a
Condor, De Marco subiu a rampa do poder com o presidente Figueiredo, na
condição de diretor administrativo do Palácio do Planalto. O major
Thaumaturgo foi cadete na academia militar do general Danilo Venturini,
que dirigiu a ESNI, a escola frequentada por Contreras e seus rapazes da
DINA, antes de assumir a chefia do Gabinete Militar no Governo
Figueiredo.
Os brasileiros da Condor estavam, portanto, entre amigos.
Os observadores e seus chefes integravam uma irmandade.
A irmandade da Condor.
Um
abutre carniceiro que via longe. Em 1979, quando a Condor ainda voava
alto, um agente da CIA repetiu no Senado dos Estados Unidos uma frase do
coronel Contreras:
— Iremos até a Austrália, se necessário, para pegar nossos inimigos.
Em novembro de 1978, a Condor foi até Porto Alegre para pegar seus inimigos.
É
a capital brasileira do Cone Sul, no Estado que faz fronteira com a
Argentina e o Uruguai. A repressão uruguaia localizou na cidade dois
ativistas da esquerda ‘requeridos’ pela ditadura: Lilian Celiberti e
Universindo Rodriguez Diaz. Atravessar a fronteira seca do Rio Grande do
Sul parecia ser ainda mais simples do que cruzar o Rio da Prata para
sequestrar opositores em Buenos Aires.
— Brasil
todavia no es Argentina! — advertiu o coronel Calixto de Armas, o homem
mais poderoso da repressão, chefe do Departamento II do Comando Geral do
Exército, responsável pelas ações do braço operacional da Condor
uruguaia, a secreta Compañia de Contrainformaciones. O coronel pairava
acima das quatro Divisões de Exército do Uruguai e acima até do
Organismo Coordenador de Operações Antisubversivas, o temido OCOA, a
versão local do DOI-CODI. O coronel só recebia ordens de dois homens:
seu chefe imediato, o general Manuel J. Nuñez, chefe do Estado-Maior, e
do comandante-geral do Exército, general Gregório ‘Goyo’ Álvarez.
De
Armas procurou um velho parceiro da irmandade da Condor no Brasil: o
coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o homem que no Governo Médici
formou a máquina de tortura do DOI-CODI da rua Tutoia, em São Paulo, e
que no Governo Geisel foi chefe em Brasília do Setor de Operações do
CIE, o serviço secreto do Exército. Quando fez o contato, em novembro,
De Armas encontrou o camarada de repressão comandando há dez meses um
quartel de artilharia em São Leopoldo, nas cercanias da capital gaúcha. A
partir das instruções de Ustra, a cadeia de comando acionada na
operação de Porto Alegre mostra que a loucura da Condor tinha método e
hierarquia.
O Departamento II do coronel De
Armas contatou desde Montevidéu o Estado-Maior do III Exército em Porto
Alegre, pedindo passe livre da Condor para os homens da Compañia de
Contrainformaciones. O CIE gaúcho repassou o pedido ao chefe do CIE em
Brasília, general Edison Boscacci Guedes. O coronel uruguaio foi
autorizado, então, a pilotar a Condor em solo gaúcho em parceria com o
DOPS, a polícia política comandada pelo nome mais famoso da repressão no
sul, o delegado Pedro Seelig, que desbaratou a esquerda armada na
região.
Comunicando-se pelo sistema codificado
criado pela CIA para a DINA do coronel Contreras, a Condortel 3 (base
Uruguai) entrou em linha com a Condortel 6 (base Brasil). Na primeira
semana, a cúpula da Compañia uruguaia circulou em Porto Alegre: o
comandante, major Carlos Alberto Rossel, seu subcomandante, major José
Walter Bassani, e o capitão Eduardo Ramos, chefe da seção técnica. Na
segunda semana, foram rendidos pelo chefe da seção administrativa,
capitão Glauco Yannone. Na manhã de domingo, 12 de novembro, prenderam
Lilian Celiberti na Rodoviária de Porto Alegre. O capitão Yannone e o
delegado Seelig estavam lá, pela fraterna camaradagem da Condor.
Universindo foi preso horas depois, com os dois filhos de Lilian —
Camilo, de 8, e Francesca, de 3 anos.
Lilian e Universindo foram despidos e duramente torturados na sede do DOPS gaúcho.
O delegado Seelig observava, o capitão Yannone espancava.
O
casal e as crianças foram levados pela polícia brasileira para o Chuí,
na fronteira, onde os militares aplicaram novas torturas. Esperta,
Lilian insinuou um encontro em Porto Alegre com o alvo principal da
Condor uruguaia — Hugo Cores, o líder do PVP, o partido clandestino do
qual faziam parte Lilian e Universindo. Lilian foi trazida de volta à
capital gaúcha pelo chefe do setor de operações da Compañia, o capitão
Eduardo Ferro, que armou uma ratonera para capturar sua presa no
apartamento da uruguaia, na rua Botafogo.
Mas foi o capitão que caiu na ratonera de Hugo Cores.
Clandestino
em São Paulo, e alertado pelo silêncio de seus companheiros, Hugo Cores
deu um telefonema anônimo para a sucursal da revista Veja em Porto
Alegre, denunciando o desaparecimento. Quando os homens armados de Ferro
e Seelig ocultos no apartamento abriram a porta, com pistolas em punho,
na tarde chuvosa de 17 de novembro de 1978, não surpreenderam o
esperado Hugo Cores. Na verdade, foram surpreendidos pela presença
inesperada de um repórter e um fotógrafo, que ficaram ainda mais
surpresos com as pistolas apontadas para suas cabeças.
Conto tudo isso porque eu era o repórter, ao lado do fotógrafo JB Scalco.
Eu olhei no olho da Condor.
Encarei a escuridão sem fim do cano da pistola entre meus olhos.
Meu amigo Scalco morreu do coração cinco anos depois, aos 32 anos.
Tenho, assim, o privilégio nada honroso de ser o único repórter do Cone Sul a sobreviver às garras da Condor.
Assumi
então o desafio de contar essa história e identificar seus
responsáveis, na série de reportagens que produzi ao longo de dois anos
na revista Veja e no livro que publiquei, 30 anos depois do sequestro.
A
inesperada aparição de dois jornalistas, algo inédito no território da
Condor, obrigou os chefes uruguaios e brasileiros a abortarem a operação
de Porto Alegre, voltando às pressas a Montevidéu. Dessa vez, portanto,
a praxe de sangue da Condor não se cumpriria: os sequestrados
sobreviveram, apesar das torturas, e não puderam ser simplesmente
‘desaparecidos’.
A denúncia do sequestro dos
uruguaios em Porto Alegre virou um escândalo internacional, que
mobilizou a imprensa, os partidos, os advogados, as entidades de
direitos humanos.
O sequestro de Universindo,
Lilian e as duas crianças é uma das 81 ações reabertas na Justiça pelo
presidente José Pepe Mujica contra crimes de tortura, desaparecimento
forçado e sequestro nos anos da ditadura (1973-85). No próximo dia 16 de
julho, segunda-feira, estarei no tribunal da calle Missiones, em
Montevidéu, depondo como testemunha do sequestro a pedido da juíza
Mariana Motta. Foi ela que, em fevereiro de 2011, condenou o
ex-presidente Juan María Bordaberry a 30 anos de prisão por liderar o
golpe de Estado de 1973 que dissolveu o Congresso e a democracia do
país. Bordaberry morreu no ano passado, aos 83 anos.
O
fiasco da rua Botafogo expôs ao ridículo as ditaduras do Uruguai e do
Brasil, no contexto de uma operação repressiva que nunca dava errado,
que nunca deixava sobreviventes.
Em 1978, a
Condor deixara para trás, vivos, quatro sequestrados e duas testemunhas
para contarem como era a Condor, como agia a Condor.
Como avisara o coronel Calixto de Armas, Brasil todavia no era Argentina!.
Afinal, por que fracassou a Condor em Porto Alegre?
Por
duas razões principais, que desconcertaram simultaneamente brasileiros e
uruguaios por detalhes que não eram comuns em seus países.
As
crianças desordenaram a rotina de eficiência do delegado Seelig e seus
agentes do DOPS. Ao contrário dos uruguaios, que roubavam os bebês de
suas vítimas para entregá-los às famílias de seus algozes, a repressão
brasileira não registra o desaparecimento de crianças, muito menos sua
presença nas ações de busca e captura de guerrilheiros.
Os
jornalistas abalaram a disciplina militar do capitão Ferro e seus
parceiros da Compañia de Contrainformaciones. Ao contrário dos
brasileiros, mais acostumados à insistente cobertura de uma imprensa
mais incômoda sobre os excessos do regime, apesar da censura, a
repressão uruguaia não concebia a presença inoportuna de jornalistas no
seu local de trabalho clandestino.
De um lado e
outro da fronteira, a Condor piscou, sem esconder a visível hesitação
que impediu o assassinato que antes tudo resolvia, tudo desaparecia,
tudo apagava.
No crepúsculo de seu governo, um
mês após o sequestro de Porto Alegre, o general Geisel ordenou que o
general Figueiredo, que assumiria a presidência em março de 1979,
resolvesse o fiasco da Condor. Foi enviado ao sul o novo chefe do SNI,
general Octávio Aguiar de Medeiros, que fracassou outra vez, na
frustrada tentativa de simular uma explicação para o sumiço dos
uruguaios.
Assim, num único episódio da Condor,
envolveram-se sem sucesso os três generais mais influentes da ditadura
brasileira tentando juntar as penas da Condor depenada em Porto Alegre.
Em
uma entrevista que fiz em 1993 com o autor do telefonema anônimo, Hugo
Cores, ele me dizia: “Todos os uruguaios sequestrados no exterior, algo
em torno de 180, estão desaparecidos até hoje. Os únicos que estão vivos
são Lilian, as crianças e Universindo. O sequestro de Porto Alegre foi o
único realizado no Brasil e o último praticado pelo Uruguai. Depois
dele, nunca mais houve outro”, festejava o líder do PVP.
A
Condor voou com intensidade entre 1975 e 1980. E matou intensamente
antes, durante e depois, com o método e a loucura das ondas sucessivas
de governos militares que afogaram a democracia e a razão durante quase
um século de arbítrio no Cone Sul. Nos cinco maiores países da região,
foram exatos 92 anos somados de ditaduras que eram de um e eram de todos
nós: Paraguai (1954-89), Brasil (1964-85), Chile (1973-90), Uruguai
(1973-85) e Argentina (1976-83).
Nos tempos da
Condor desatinada, a força matava pessoas e palavras, mas também
inventava um novo léxico para tentar traduzir sua violência. No Chile da
Condor emergiu uma nova palavra no dicionário da repressão, coalhado de
presos e mortos. Surgiu a figura intermediária e angustiante do
“desaparecido” – que quase sempre era uma coisa e outra, preso ou morto,
sequência e consequência um do outro, e que tinha sobre eles a vantagem
de isentar o Estado de explicações e justificativas.
Um
“desaparecido” era uma dúvida, quem sabe um equívoco, talvez uma
fatalidade, sempre um mistério que não incriminava ninguém e absolvia a
todos – com exceção dos familiares da vítima, condenados ao desespero,
subjugados pelo luto iminente, esmagados pela dor incessante. Um
“desaparecido” só levantava suspeitas e mais perguntas, sem a garantia
de certezas ou possíveis respostas. O “desaparecido” disseminava o medo.
Do medo brotava o terror – e novas palavras.
O
dicionário de terror da Condor fabricava uma expressão ainda mais
assustadora, mais aflita: os no-nombrados, os N.N., cadáveres sem nome,
sem cara, sem história, exumados no ninho da Condor por regimes de força
sem coragem, sem caráter, sem futuro, sem passado. As pessoas com nomes
desapareciam separadamente e, de repente, emergiam do solo covas
coletivas apinhadas de mortos sem nome. No auge de seu poder, em 1979, o
general argentino Jorge Videla fez uma contorcida exegese do que seria
esta estranha criação dos regimes onde voava a Condor:
—
O que é um desaparecido? Como tal, o desaparecido é uma incógnita…
Enquanto desaparecido, não pode ter nenhum tratamento especial: é uma
incógnita, é um desaparecido, não tem identidade. Não está nem morto,
nem vivo. Está desaparecido… — consolava o general da mais sangrenta
ditadura do Cone Sul.
Os tiranos que caçam os
opositores da tirania começam subvertendo o idioma e o sentido lógico
das coisas. Carimbam como ‘subversivo’ ao resistente que ousa desafiar a
opressão. Combatem o ‘terrorista’ indefeso e manietado com o aparato
pesado do terror de Estado. Pregam a defesa da lei pela ação ilegal e
clandestina de seus agentes. Alegam defender a democracia impondo o
arbítrio. Chamam de ‘ditabranda’ o que não passa de ditadura. Revogam
Constituições para aplicar Atos Institucionais. Impõem a insegurança dos
cidadãos em nome da Segurança Nacional. Torturam e matam invocando a
paz e a tranquilidade. Fabricam ‘suicídios’ ou ‘atropelamentos’ quando
os presos cometem o desatino de morrer sob tortura em suas masmorras.
Concedem autoanistia para perdoar seus crimes imperdoáveis. Clamam pelo
esquecimento para abafar a impunidade. E condenam como revanchismo o que
não passa de memória.
No paraíso da Condor, os
generais e seus serviçais conseguiram subverter o significado de duas
das palavras mais valiosas da civilização: dignidade e liberdade.
Dignidad,
no Chile da Condor, era o nome de uma colônia agrícola, 335 km ao sul
de Santiago, criada por um ex-enfermeiro da Luftwaffe nazista. Era
frequentada por Pinochet e pelo coronel Contreras. Era um centro de
torturas e de treinamento para interrogatórios da DINA.
Libertad,
no Uruguai da Condor, 50 km a oeste de Montevidéu, era o maior presídio
político do país. Abrigava 600 presos políticos. Desde junho de 1980,
um deles atendia pelo nome de Universindo Rodriguez Díaz, o uruguaio
sequestrado em Porto Alegre.
Dignidad virou sinônimo de tortura no Chile da Condor.
Libertad virou endereço de presídio no Uruguai da Condor.
Quando
veio o golpe de 11 de setembro no Chile, um dos primeiros presos foi um
general da Força Aérea, Alberto Bachelet. Ficou preso seis meses no
Cárcere Público de Santiago, mas o coração não resistiu às torturas,
nele e em velhos camaradas. Morreu de infarto em março de 1974, um mês
antes de completar 51 anos. Foi poupado de uma forte emoção da história,
32 anos depois, quando o mesmo Partido Socialista derrubado à bala por
Pinochet voltou ao poder pelo voto em 2006 elegendo como presidente uma
médica pediatra de 56 anos – a filha de Alberto, Michelle Bachelet.
Em
janeiro de 1975, dez meses antes do nascimento da Condor, Michelle e
sua mãe foram presas e levadas vendadas para Villa Grimaldi, um famoso
centro clandestino da DINA em Santiago. Lá, aos 24 anos, Michelle foi
torturada.
É de Michelle Bachelet esta frase que nos inspira e consola:
— Só as feridas lavadas cicatrizam.
Passados
tantos anos de tanto horror, este encontro de hoje, aqui em Brasília,
na capital do país que é um envergonhado sócio fundador da Condor,
mostra que começamos a lavar nossas feridas com esta forte manifestação
da memória coletiva.
Todos, aqui, temos uma só mensagem a quem fez e a quem tenta esquecer tudo aquilo:
Nós sabemos, nós lembramos, nós contamos.
Brasília, 5/julho/2012
*Luiz Cláudio Cunha, jornalista, é autor de Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios (ed. L&PM, 2008)
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