A obsessão da mídia
Por Mino Carta*
Por Mino Carta*
Por que Lula se
tornou a obsessão da mídia nativa? Por que tanta raiva armada contra o
ex-presidente? Primeiro é o ódio de classe, cevado há décadas, excitado pelo
operário metido a sebo, tanto mais no país da casa-grande e da senzala. Onde já
se viu topete tamanho? Se me permitem, Lula é personagem de Émile Zola, assim
como José Serra está nas páginas de Honoré de Balzac. O sequioso da emergência
que chegou lá.
Dez anos depois. No
fim de setembro de 2002, jornalões e revistões enxergavam Lula como se vê
acima. E o operário ganhou as eleições…
Depois vem a verdade
factual, a popularidade de Lula, avassaladora. E vem o confronto com os tempos
de Presidência tucana, e o triste fim de Fernando Henrique Cardoso, o
esquecido, no Brasil e no mundo. Assim respondem os meus meditativos botões às
perguntas acima. E as respostas geram outra pergunta.
Por que a mídia
nativa, intérprete da casa-grande, goza ainda de prestígio até junto a quem
ataca diária e obsessivamente se seus candidatos perdem os embates eleitorais
decisivos? Memento 2002, 2006, 2010. Mesmo agora, véspera dos pleitos
municipais, as coisas não estão bem paradas para os preferidos de jornalões e
revistões. Será que o jornalismo brasileiro dos dias de hoje faz apostas
erradas? Defende o indefensável?
Na semana passada
publiquei os números da verba publicitária governista distribuída entre as
empresas midiáticas. Mais de 50 milhões para a Globo. Para nós, pouco mais de
100 mil reais. E sempre há quem apareça para nos definir como “chapa-branca”… E
a Editora Abril, então? Na compra de livros didáticos, fica com a parte do leão
em um negócio imponente que em 2012 já lhe assegurou a entrada de 300 milhões.
Pode-se imaginar o que seus livros ensinam. Enquanto isso, a Petrobras acaba de
cancelar um contrato de 11 milhões que estava para ser fechado com a casa do
Murdoch brasileiro. Vem a calhar, a confirmar-lhe tradições e intentos, a
última capa da sua querida Veja, ponta de lança na estratégia da guerra contra
Lula.
A revista de
Policarpo Jr., parceiro de Carlinhos Cachoeira em algumas empreitadas, produz
esta semana mais uma obra-prima de antijornalismo. Formula acusações
gravíssimas contra Lula sem esclarecer quem as faz (Marcos Valério ou seus
pretensos apaniguados?), mas nome algum é citado, e o advogado do publicitário
mineiro desmente a publicação murdoquiana. Ricardo Noblat (porta-voz de Veja?)
informa no seu blog que a Abril vai divulgar o áudio de uma entrevista com
Valério, e horas depois comunica que Policarpo Jr. convenceu a direção da Abril
a deixar para lá, ao menos por ora.
Quanta ponderação,
por parte de Policarpo… Suas relações com Cachoeira CartaCapital provou com
documentos tão irrefutáveis quanto inúteis: a CPI não vai convocá-lo para
depor, como seria digno de um país democrático, porque o solerte
presidente-executivo abriliano foi ter com o vice-presidente da República para
lembrá-lo de que se Veja for julgada, todos os demais da mídia nativa entram na
dança.
Este específico
enredo prova as dificuldades de governar o país da casa-grande e da senzala. É
preciso recorrer a alianças que funcionam como a bola de ferro atada aos pés do
convicto e padecer como vice o representante de um partido pronto a ceder
diante das pressões da Abril. E da Globo, como CartaCapital relatou ao longo da
cobertura da CPI do Cachoeira. Resta o fato: a mídia nativa é bem menos
poderosa do que os graúdos supõem, inclusive os do próprio governo.
Uma exceção talvez
seja São Paulo, com sua capital dos shoppings milionários, da maior frota de
helicópteros do mundo depois de Nova York, de favelas monstruosas a rodear os
bairros endinheirados, de mil homicídios anuais (5 mil no estado). Refiro-me à
cidade e ao estado mais reacionários do Brasil. Aqui tudo pode acontecer. De
todo modo, os senhores, de um lado e do outro, caem na mesma esparrela dos jornalistas
que os apoiam ou os denigrem. Os jornalistas e seus patrões, na certeza da
ignorância da plateia, acabaram por assumir o nível mental que atribuem a seus
leitores, ouvintes e assistentes. Os graúdos apoiados agarram-se em fio
desencapado, os ofendidos temem um poder em vias de extinção. E não percebem
que a tentativa de demonizar Lula consegue é endeusá-lo.
*Mino Carta, jornalista, Diretor da Revista Carta Capital
No Boqueirão
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