Caricatura original: http://niltonstudio.blogspot.com.br/2011/11/caricatura-ex-presidente-fhc.html |
Por Mauro Santayana
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse em
São Paulo, em um encontro com artistas e intelectuais, que esse é o
momento de “recuperação moral” da política brasileira. Ele pode ter
razão, e a terá ainda mais se, depois do escrutínio judicial da Ação
470, o exame de outras ações pendentes no STF e nos tribunais dos
Estados, abrir o véu que cobre o período de 1995 a 2003. Seria
importante saber como se deu a privatização da Companhia Vale do Rio
Doce, uma empresa construída por mineiros. E seria também importante
verificar, em sua intimidade, o processo de privatização da Telebrás e
suas subsidiárias.
Estamos submetidos a
um péssimo serviço, quase todo ele explorado por empresas estrangeiras.
Segundo o PROCON, as reclamações contra os serviços telefônicos
celulares batem o recorde naquele órgão. Enquanto isso, algumas
empresas, como a Telefônica, continuam se valendo do nosso dinheiro, via
BNDES, para financiar sua expansão no país, enquanto os lucros são
enviados a Madri, e usados para a compra de empresas no resto do mundo.
Será, da mesma forma, necessária à recuperação moral da política
brasileira saber quais foram as razões daquela medida, e como se
desenvolveu o processo do Proer e da transferência de ativos nacionais
aos bancos estrangeiros, alguns deles envolvidos em negócios repulsivos,
como a lavagem de dinheiro do narcotráfico.
Quem fala em recuperação moral estuprou a Constituição da República com
a emenda da reeleição, recomendada pelo Consenso de Washington, uma vez
que aos donos do mundo interessava a continuidade governamental nos
países periféricos, necessária à queda das barreiras nacionais e à
brutal globalização da economia, com os efeitos nefastos para os nossos
países. Seria, assim, também importante, no processo histórico da
“recuperação moral”, saber se houve ou não houve compra de votos para a
aprovação do segundo mandato de Fernando Henrique, como se denunciou na
época, e com algumas confissões conhecidas.
Tivemos oito anos sem crescimento do ensino universitário público no
Brasil, enquanto se multiplicaram os centros privados de ensino
superior, que formam, todos os anos, bacharéis analfabetos, médicos
açougueiros, sociólogos inúteis.
Para
essa “recuperação moral” conviria ao ex-presidente explicar por que, no
apagar das luzes de seu governo, recebeu, para um jantar a dois, o
banqueiro Daniel Dantas, acusado de desviar dinheiro de seu fundo de
investimentos para os paraísos fiscais, violando a legislação
brasileira. Seria também importante reexaminar a súbita prosperidade dos
jovens gênios que serviram à famosa “equipe econômica” em seus dois
mandatos.
Se a “recuperação moral” for
mesmo para valer, o ex-presidente não tem como eludir às suas
responsabilidades. Para começar, se alguém se habilitar a investigar - e
julgar! - basta o seu diálogo gravado com o pessoal do BNDES no caso
da privatização das telefônicas.
*Título de responsabilidade desse bloguezinho mequetrefe.
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