sábado, 1 de setembro de 2012

Como Fernando Haddad vai virar o jogo e ir para o segundo turno

Marketing político não é crime, não é mágica, não é fácil de fazer. Mas a gente sabe que não importa o partido, os escândalos de corrupção, os escândalos sexuais ou as propostas. É ele que elege o candidato, nem sempre o melhor, mas o que tem mais dinheiro e competência para escolher a melhor equipe, os melhores publicitários e cineastas para assessorá-lo. Em 2008 tivemos um gordinho, com a língua presa, solteiro, do DEM, começando a campanha com 7% das intenções de voto, indo ao segundo turno e vencendo sem dó. Foi uma das campanhas eleitorais mais incríveis da história de São Paulo. Os filmes eram sensacionais, o programa de rádio era absurdamente bom e o cara tinha até uma rede social criada para organizar seus eleitores dentro de seu site, já que a legislação eleitoral da época não permitia o uso oficial de redes sociais nas campanhas. Isso sem contar com o ‘Kassabinho’, o bonequinho de animação lançado no meio da campanha, que ganhou a simpatia dos últimos indecisos.

Esse ano não vai ser diferente. Aliás, até vai. Ele é casado, tem filhos lindos, boa dicção e ainda é bonitão. Isso, certamente, exigirá menos trabalho para o marketeiro de Fernando Haddad, João Santana, e para o gênio do Marcelo Kertész, da agência África, criativo da campanha. Sem desmerecer, é claro. A campanha de Haddad está divina e já vimos o resultado disso na última pesquisa do Datafolha. Haddad foi de 7% a 14% em dez dias. Agora eu convido vocês a darem uma olhada nessa obra de arte, um dos filmes de Haddad para propaganda eleitoral obrigatória na TV:  



Fotograficamente perfeito e apelativo na medida certa. A luz, a bicicleta enferrujada aos 56'', o pôr do sol, o velhinho há dois anos esperando por uma cirurgia simples. Olhem o posicionamento da câmera em 2'26'', em 2'30''. Em 4', temos algo muito conhecido das propagandas do Collor, a câmera de baixo pra cima, deixando o candidato maior, mais poderoso. Como pano de fundo, uma favela perfeita e irreal. Cadê o povo na janela? Em 5'22'', reparem, ele fala enquanto caminha, com a cidade ao fundo. Os atores interpretando médicos felizes num set super bem equipado em 5'42''. No final, 7'06'', ele abraça o senhor num local tão montado, tem até uma TV velha no fundo, milimetricamente colocada ali. Há quanto tempo você não vê uma dessas na rua, cinco anos? Não importa, enquanto filme, ficou lindo, cenograficamente irretocável. O eleitor se identificou com o personagem, mais carismático impossível, e estava ao lado dele enquanto o candidato prometia um futuro melhor. Perfeito. Prefeito. O programa termina e temos um herói. Nem falemos do Lula aqui, mas é claro que ele vai ajudar na virada do companheiro petista.

Todo esse papo de marketing político e manipulação de massas me faz lembrar de um dos meus filmes favoritos, Mera Coincidência. Nele, o presidente dos EUA  (Michael Belson) se envolve em um escândalo sexual pouco antes da eleição. Para reelegê-lo, seu assessor (Robert De Niro) contrata um produtor de Hollywood (Dustin Hoffman) para que ele crie um herói. Eles inventam uma situação para desviar a atenção pública do escândalo, uma guerra, e transformam o presidente num herói  em 11 dias com filmes, jingles e uma campanha sensacional.



Ninguém pode culpar um candidato por fazer um marketing perfeito. Mas vale a reflexão. Quer entretenimento, vá ao cinema. Antes de votar, pesquise o passado do candidato e, principalmente, de seu partido.

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