Em uma rápida análise feita com base nas matérias publicadas sobre o segundo turno das eleições municipais em São Paulo, elencamos os temas presentes nas declarações dadas à imprensa ou registradas pela imprensa em comícios e outros atos de campanha dos dois candidatos. O tema mais falado por Serra foi o mensalão, seguido de saúde e o kit anti-homofobia. Já Fernando Haddad priorizou saúde, mensalão e a taxa de inspeção veicular.
Haddad | Serra |
Saúde (31,82%) | Mensalão (39,13%) |
Mensalão (18,18%) | Saúde (21,74%) |
Taxa Inspeção Veicular (13,63%) | Kit-antihomofobia (13,04%) |
Educação/creches (9,09%) | Transporte (9%) |
Percebe-se a presença de uma agenda “negativa” nos discursos de
Serra, uma campanha que procurou se pautar muito mais pelo “perigo do
PT”, discurso que beira até o ressentimento, do que um discurso
propositivo. A ausência de programa – ele foi só apresentado em outubro –
foi acompanhada da apresentação de um monte de promessas desconectadas
na área social, como o aumento de salários de professores, a
bolsa-creche, o bilhete único de seis horas, a jornada de 7 horas nas
escolas. Isto ocorreu após a percepção de que o discurso
fundamentalista-religioso ampliou a sua rejeição, o fez perder mais
votos e ainda afastou líderes históricos do partido, como Fernando
Henrique Cardoso e José Gregori.
Os resultados pífios nas primeiras pesquisas de intenção de voto
fizeram o candidato disparar contra tudo e contra todos. Acusou o PT de
fazer baixaria, passou a agredir a própria grande mídia sempre simpática
a ele (note-se que o tema mensalão foi o assunto principal da agenda
midiática) e tentou se posar de popular. Ao perder as eleições, desejou
boa sorte ao adversário vencedor sem citar o seu nome. A derrota foi
vergonhosa pois contou com tudo a seu favor – a máquina do governo, a
mídia favorável e o fato do adversário entrar na corrida eleitoral como
um desconhecido.
Histórico do oportunismo serrista
Durante o governo do seu correligionário Fernando Henrique Cardoso,
Serra ficou à margem durante um tempo, fez críticas à condução econômica
e atuou como uma “sombra” da equipe liderada por Pedro Malan.
Apresentava-se como um “nacionalista”, apesar de ter papel importante na
privatização das estatais – inclusive com suspeitas de corrupção,
conforme demonstra o livro-reportagem A privataria tucana.
Depois resolveu se apresentar como um defensor dos consumidores de
medicamentos, apresentando-se como o criador dos genéricos. Uma tremenda
mentira, pois o decreto que criou os genéricos foi assinado em 5 de
abril de 1993 pelo então ministro da Saúde Jamil Haddad e o presidente
da república da época Itamar Franco (clique aqui para ler o decreto). Mentira que foi corroborada pelos meios de comunicação hegemônicos.
Nas eleições de 2002, tentou se apresentar como um situacionista pero no mucho,
buscou dar um perfil de centro-esquerda a sua candidatura, convidando a
deputada federal Rita Camata para ser a sua vice. Mas fez uma campanha
tipicamente terrorista afirmando que o Brasil passaria por uma crise
igual à da Argentina caso Lula fosse eleito. Ficou famosa a frase da
atriz Regina Duarte dizendo que “tinha medo” do Lula. A campanha de
terrorismo ideológico lembrava muito as movimentações da classe média
contra o governo de João Goulart que descambaram no golpe de 1964.
Voltou à carga em 2010 aí já apelando para um conservadorismo de
costumes, trazendo o tema do aborto para a campanha, buscando apoio nos
setores mais retrógrados das organizações religiosas, como a TFP. E,
finalmente, neste ano, insistiu de início no fundamentalismo religioso
com o tema do material escolar do MEC de combate à homofobia (chamado
pejorativamente de “kit-gay”).
Estes comportamentos errantes ideológicos são acompanhados de um
oportunismo eleitoral. Foi eleito e abandonou a prefeitura um ano depois
para se candidatar a governador, apesar de ter prometido ficar todo o
mandato, em 2006; apoiou Gilberto Kassab, então no DEM, contra o
candidato do seu próprio partido, Geraldo Alckmin, nas eleições
municipais de 2008. Em função da impopularidade da atual gestão de
Kassab procurou não se apresentar como candidato da situação – só o
fazendo quando foi interpelado pelos seus adversários – assim como não o
fez nas eleições presidenciais, em que procurou se afastar do legado da
gestão do seu correligionário Fernando Henrique Cardoso.
Esta derrota de José Serra nas eleições municipais em São Paulo
consolidou um processo de decadência política que vem se arrastando há
anos. Vindo do movimento estudantil e depois desempenhando um papel
relativamente importante na luta pela redemocratização do país durante a
ditadura militar, Serra foi engolido pela própria prepotência,
autossuficiência e desejo pelo poder marcado pelo egocentrismo. É um
cadáver político embalsamado pela mídia hegemônica, esta mesma que ele
ataca quando não se faz suficiente par ungi-lo à vitória.
Por Dennis de Oliveira
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