sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As estratégias conhecidas de Serra


Por Fábio Lúcio

José Serra é um político intolerante (com os jornalistas, com os assessores, com os tucanos, com qualquer um que o contrarie). A única chance de um político assim chegar ao poder é pelo golpe (se não institucional, como o da ditadura militar, ou midiático, como o de Collor, será ideológico, com as igrejas, a direita e a mídia também). Mas mesmo no golpe, não se sustenta se não tiver legitimidade e tolerar um mínimo de concessões. Até na ditadura brasileira, como se sabe, todos os presidentes sofreram resistências internas e fogo amigo. A impressão que dá é que Serra jamais conseguiria costurar uma aliança como a que Ulysses Guimarães construiu e que levou Tancredo Neves a mediar a volta à democracia. Porque exige renúncia pessoal, coisa que não se parece nem um pouco com Serra.

Um exemplo acabado de político intolerante é como Mitt Romney, que vê em quem não vota nele nada além de inimigos. Não é um direito dos outros deixar de votar nele, mas uma implicância, um pecado. Não é um direito dos jornalistas perguntar, mas uma burrice de quem adere ao discurso dos adversários. Isso até poderia dar certo com Serra, como tem dado até certo ponto, mas o problema para ele é o esqueleto que tem no armário. Serra está implicado em inúmeros problemas que o silêncio da mídia não conseguiu esconder. Para lidar com isso, utiliza uma estratégia fake, que é percebida logo por todos, inclusive pelos que concordam, que é atacar antes. Ao atacar antes, faz o ataque do outro, por mais sensata que seja, parecer mágoa, simples réplica. Mas atacar antes é uma estratégia que funciona quando é uma surpresa, não quando é um método, e quando há uma retaguarda suficiente para sustentar o ataque. O livro "Privataria Tucana", com vasta documentação inquestionável, sugere que Serra não consegue sustentar o atacar antes por muito tempo. O adversário conseguirá facilmente empatar, ou ainda levar vantagem se conseguir levar o debate ético para o lado pessoal. Haddad é dono de sua própria casa, Serra não, tem que recorrer à família para explicar como mora lá.

A outra estratégia de Serra é delegar o ataque. Como está fazendo com a terceirização do ataque pelo chamado "kit gay". A ideia é que a terceirização se generalize e seja comprada pelo formador de opinião. Não há problema nisso, acho que todos os políticos o fazem. O problema é quando essa terceirização baixa demais o nível. Aquela blogueira que saiu desembestada falando mal de nordestinos, embalada pela campanha serrista de 2010, e depois teve que enfrentar sozinha a Justiça porque a manada que estava com ela nesta hora sumiu, sabe a que ponto a instrumentalização pode chegar. Essa estratégia, da terceirização da crítica, assim como os que topam participar dela como veículo útil, é mais perigosa do que a estratégia de atacar antes, porque manipula e forma estratégias de relacionamentos, doutrina comportamentos políticos anti-democráticos, dissemina a hipocrisia e a intolerância.

Que os quinze dias até a próxima eleição passem logo.

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