Por Fábio Lúcio
José Serra é um político intolerante (com os jornalistas, com os
assessores, com os tucanos, com qualquer um que o contrarie). A única
chance de um político assim chegar ao poder é pelo golpe (se não
institucional, como o da ditadura militar, ou midiático, como o de
Collor, será ideológico, com as igrejas, a direita e a mídia também).
Mas mesmo no golpe, não se sustenta se não tiver legitimidade e tolerar
um mínimo de concessões. Até na ditadura brasileira, como se sabe, todos
os presidentes sofreram resistências internas e fogo amigo. A impressão
que dá é que Serra jamais conseguiria costurar uma aliança como a que
Ulysses Guimarães construiu e que levou Tancredo Neves a mediar a volta à
democracia. Porque exige renúncia pessoal, coisa que não se parece nem
um pouco com Serra.
Um exemplo acabado de político intolerante é como Mitt Romney, que vê
em quem não vota nele nada além de inimigos. Não é um direito dos
outros deixar de votar nele, mas uma implicância, um pecado. Não é um
direito dos jornalistas perguntar, mas uma burrice de quem adere ao
discurso dos adversários. Isso até poderia dar certo com Serra, como tem
dado até certo ponto, mas o problema para ele é o esqueleto que tem no
armário. Serra está implicado em inúmeros problemas que o silêncio da
mídia não conseguiu esconder. Para lidar com isso, utiliza uma
estratégia fake, que é percebida logo por todos, inclusive pelos que
concordam, que é atacar antes. Ao atacar antes, faz o ataque do outro,
por mais sensata que seja, parecer mágoa, simples réplica. Mas atacar
antes é uma estratégia que funciona quando é uma surpresa, não quando é
um método, e quando há uma retaguarda suficiente para sustentar o
ataque. O livro "Privataria Tucana", com vasta documentação
inquestionável, sugere que Serra não consegue sustentar o atacar antes
por muito tempo. O adversário conseguirá facilmente empatar, ou ainda
levar vantagem se conseguir levar o debate ético para o lado pessoal.
Haddad é dono de sua própria casa, Serra não, tem que recorrer à família
para explicar como mora lá.
A outra estratégia de Serra é delegar o ataque. Como está fazendo com
a terceirização do ataque pelo chamado "kit gay". A ideia é que a
terceirização se generalize e seja comprada pelo formador de opinião.
Não há problema nisso, acho que todos os políticos o fazem. O problema é
quando essa terceirização baixa demais o nível. Aquela blogueira que
saiu desembestada falando mal de nordestinos, embalada pela campanha
serrista de 2010, e depois teve que enfrentar sozinha a Justiça porque a
manada que estava com ela nesta hora sumiu, sabe a que ponto a
instrumentalização pode chegar. Essa estratégia, da terceirização da
crítica, assim como os que topam participar dela como veículo útil, é
mais perigosa do que a estratégia de atacar antes, porque manipula e
forma estratégias de relacionamentos, doutrina comportamentos políticos
anti-democráticos, dissemina a hipocrisia e a intolerância.
Que os quinze dias até a próxima eleição passem logo.
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