segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Fernando Ferro [PT-PE] e a crônica de uma derrota anunciada no Recife

Eleições 2012 - PT: do sucesso nacional ao desastre local

Por Fernando Ferro, deputado federal pelo PT-PE

Contrariando uma série de prognósticos que davam o PT como derrotado, e alguns já falando em fase terminal, as eleições de 2012 revelam o crescimento do partido e desmonta completamente essas pitonisas do fim do PT. Estamos aumentando o número de Vereadores, aumentando o número de Prefeitos, vitórias expressivas, inclusive a disputa em São Paulo que poderá nos colocar no comando da principal cidade do País.

Na verdade, essa intenção política expressa de parte da oposição e de uma parte da mídia comprometida ideologicamente em nos combater revela a disputa política que existe neste momento, inclusive quando tentam se aproveitar desse julgamento no Supremo Tribunal Federal, conhecido como "mensalão", que parece não ter tido o impacto esperado por todos aqueles que exploraram às escâncaras esse tema. O povo soube separar a importância do debate municipal disso.

E já vemos em São Paulo a desqualificação política do candidato José Serra quando, no início de sua fala, apela e rebaixa o nível do debate ao tentar introduzir o "mensalão" como tema central de sua campanha. Ele, amigo do Paulo Preto, é muito pouco qualificado para falar em assuntos de ordem ética.

Mas também é visível um outro sofrimento da direita e da imprensa de direita no Brasil, qual seja a vitória do Presidente Hugo Chávez, na Venezuela, outro que era considerado morto. Um jornalista americano, no mês de maio, deu 2 meses de vida a Hugo Chávez; e o jornalista da Globo, o Merval Pereira, deu 3 meses de vida a Hugo Chávez. Evidente que o desejo mórbido dessas pessoas revela um lado político conservador e de direita deles, mas a vida não é tão simples assim — tal como eles imaginam. E o fato é que o bravo povo venezuelano, mais uma vez, exercendo democraticamente seu direito, elegeu Hugo Chávez Presidente da República.

Nossos parabéns e nossa alegria por essa vitória. Isso é muito importante para a América Latina e para todos nós que combatemos ditaduras, regimes de terror, repressão, governos neoliberais e entreguistas, pois a América do Sul tem no Brasil e em outros países essa força que nos faz caminhar no sentido de um continente com independência e, principalmente, com a melhora da qualidade de vida da sua população e do seu povo.

Essa é uma vitória da democracia, um avanço da cidadania no continente latino-americano.

Por último, quero lamentar, dentro desse espaço, desse esboço da vitória do PT, a situação desse partido em Recife. Vou falar aqui da crônica de uma derrota anunciada.

Refiro-me à eleição da cidade do Recife. Nós, do PT, governamos a cidade há três gestões. Governos com inversão de prioridade, atendimento a populações carentes, um Governo com construção de cidadania e Governos muito importantes.

A partir de uma divergência entre o ex-Prefeito e o atual, desencadeou-se um processo de disputa interna no PT que provocou uma série de erros, e que se agravou com a exigência de uma prévia para escolher do candidato do PT no Recife.

Essa prévia ganha pelo atual Prefeito foi anulada pela Direção Nacional e convocada uma segunda, que não aconteceu por uma intervenção direta da Executiva Nacional, que terminou por indicar o Senador Humberto Costa como candidato a Prefeito, com o Deputado João Paulo como Vice.

Esse processo fraturou o partido, desencantou nossa militância e expôs uma série de problemas, que terminaram por isolar o PT, que, historicamente, faz parte de uma frente popular, com a qual ganhamos diversas eleições. Por fim, permitiu que o PSB aglutinasse em torno de si o conjunto dos partidos de esquerda, em uma frente muito ampla, e nos isolasse. Essa racha, portanto, nos deixou com uma candidatura isolada, sem eixo e sem rumo. Vimos, de repente, uma tentativa desesperada de nosso candidato, primeiro com uma campanha agressiva, que tentou chamar para o centro do debate uma divergência entre o Presidente Lula e o Governador Eduardo Campos, um erro político, porque ele quis nacionalizar um problema municipal, levar para o âmbito nacional uma divergência local. Esse erro, inclusive, foi rejeitado pela população do Recife. Essa divisão terminou nos causando isolamento e uma grave derrota política e eleitoral.

Não podemos deixar, no início dessa avaliação, de dar uma boa dose de culpa à Direção Nacional do PT, refiro-me ao Presidente Rui Falcão, que, pessoalmente, comandou a intervenção na secção municipal do Recife. Ele paga um preço caro por isso. Espero que faça uma autocrítica, uma mea-culpa, e não repita mais este tipo de procedimento, tirar de um Prefeito no legítimo direito da reeleição a condição de participante. Haveria até formas outras de impedir a sua participação, mas não com a violência e a brutalidade feita. Pagou-se um preço muito caro por isso. Espero que essa lição dolorosa nos ensine a caminhar nos processos futuros. Esse é apenas o início de uma avaliação dos erros que levaram duas lideranças importantes, como Humberto Costa e João Paulo, a ficarem em terceiro lugar em uma eleição, atrás de um candidato tucano que não tinha consistência política, programática, um iniciante, que terminou por impor uma humilhante derrota a essas duas lideranças do PT.

Lamento profundamente, mas não posso deixar de reconhecer que temos que fazer uma avaliação desse processo e não deixar repetir isso, inclusive mudar o Estatuto do Partido dos Trabalhadores, para que prefeitos com direito à reeleição não sejam submetidos a esse tipo de constrangimento, uma das causas que nos levaram à derrota.

Saudamos, portanto, o candidato eleito do PSB, que soube aproveitar a oportunidade, e desejamos sucesso na sua empreitada.

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