Psol dá adeus à 'era da inocência'
Com a palavra, o PSOL no poder. |
O primeiro prefeito eleito pelo PSOL de uma capital, Clécio Luís, em Macapá, declarou querer diálogo com o senador de seu estado José Sarney (PMDB).
"Não é o militante Clécio que está procurando o cacique José Sarney. É
o prefeito que vai procurar a base parlamentar eleita pelo povo de
Macapá para pedir ajuda. Para que eles cumpram seu papel institucional.
Não podemos abrir mão da ajuda de ninguém. Então é necessário que a
gente abra esse diálogo institucional republicano", disse, em nota
amplamente divulgada pela imprensa. Clécio também elogiou o apoio
recebido do DEM e do PSDB à sua candidatura no segundo turno.
O gesto, porém, conflita com o discurso passado de críticas ao que o
PSOL chamava de "alianças espúrias", sobretudo dirigido ao partido que
lhe deu origem, o PT, quando passou a aliar-se a ex-oponentes para
compor maiorias e conseguir a governabilidade.
Um dos primeiros atos de dissidência que deram origem ao PSOL foi da
ex-senadora Heloísa Helena, em 2003, quando discordou de votar em Sarney
para a presidência do Senado, em respeito à regra adotada na casa do
partido com maior bancada indicar o presidente. Na época, a ex-deputada
federal Luciana Genro, então petista e hoje no PSOL, teceu duras
críticas.
Hoje, Luciana Genro e outros 33 dirigentes do partido manifestaram-se
em nota mirando sua artilharia ao companheiro de Macapá. “Se esta
aliança se mantiver, representará uma mancha que envergonhará e
indignará todo o PSOL”, declararam.
Ivan Valente (SP), presidente nacional da legenda, procura minimizar a
polêmica alegando que "adesão não é aliança". Clécio, por ora, afirma
que não foram negociados espaços em seu governo. Mas dos 23 vereadores
de Macapá, a base governista de Clécio elegeu apenas três, sendo dois
do PSOL e um do PCB – o que pode fazer com que a negociação política
venha a ser inevitável.
O deputado federal Chico Alencar (RJ) justifica que a discussão se
deve às "dores do crescimento", e diz que o partido "tem que escrever
uma nova gramática no exercício do poder", sem cometer o que ele chama
de "erros do PT", mas não explica como, nem o que significa essa tal
nova gramática do poder.
Sem querer aqui duvidar da ética dos militantes psolistas, muito
menos negar que a ética é imprescindível em qualquer aspecto da vida.
Mas daqui em diante será interessante observar como se comporta a
legenda, agora que passará a se ver às voltas com o, digamos, assim,
mundo real da política, que costuma ser impiedoso com os que se fingem
inocentes.
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