segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Recado flagra relações entre Serra e o pastor Silas Malafaia

"Ele (Malafaia) pediu para avisar que não vê problema em você se desvincular dele nas entrevistas", dizia o texto recebido por Serra em seu tablet
Foto: Renan Truffi/Terra
Renan Truffi
Direto de São Paulo
Os ataques do pastor Silas Malafaia, da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ao candidato do PT, Fernando Haddad, acenderam o sinal amarelo na campanha do tucano José Serra (PSDB-SP). O líder evangélico voltou a criticar o petista neste segundo turno por causa do kit anti-homofobia, material didático criado na época em que o candidato era ministro da Educação com o objetivo de orientar alunos da rede pública sobre a homofobia .

A última declaração polêmica do líder evangélico Silas Malafaia foi divulgada em um vídeo na quinta-feira, no qual o pastor responde à acusação de Haddad de que estaria sendo usado por Serra para ofender o petista. "Quero dar uma resposta ao candidato Haddad quando deu uma declaração estúpida ao dizer o candidato José Serra está instrumentalizando a religião contra ele. Eu quero mostrar que ele está tremendamente equivocado. As pessoas precisam entender que estamos em um estado democrático de direito e qualquer pessoa é livre para manifestar opinião, independentemente de convicção filosófica, política ou religiosa", diz Malafaia.

"Nunca usei Deus para dizer que um candidato é do diabo e outro de Deus. Nunca uso igreja, igreja não tem titulo de eleitor, igreja não vota. Tanto pra católicos, como para evangélicos, igreja é uma instância espiritual acima disso. Quando eu estou falando é como cidadão. (...) Igreja não apoia ninguém, quem apoia sou eu", afirmou o pastor em outro trecho do vídeo.

Antes disso, na terça-feira, Malafaia disse ao jornal Folha de S.Paulo que iria "arrebentar" com Haddad nas eleições. "O Haddad já está marcado pelos evangélicos como o candidato do 'kit gay'. Não vamos dar moleza para ele. Haddad pode até ganhar, mas não com os votos dos evangélicos", atacou, depois de declarar apoio a Serra.

Ainda que os ataques do pastor influenciem o voto no segmento evangélico, já que a denominação Assembleia de Deus tem cerca de 12 milhões de fieis no Brasil, a "radicalização" de Malafaia preocupou os tucanos, como se referiu um dos integrantes da campanha. No mesmo dia do ataque a Haddad, a reportagem do Terra flagrou um recado deixado pela assessoria para o Serra em um tablet. "Sobre o Malafaia, ele pediu para avisar que não vê problema em você se desvincular dele nas entrevistas", dizia o texto.

Depois de receber o aval, Serra procurou se descolar de seu aliado na conversa que teve com os jornalistas, após caminhada pelas ruas de Pirituba, zona norte da capital paulista. "Eu não assumi nenhum compromisso com o pastor Malafaia. Ele não pediu nada em troca. As várias questões que ele coloca (como o kit anti-homofobia) não são parte da campanha. Ele quis me apoiar, eu aceito", disse.

A estratégia é confirmada por alguns membros da campanha de Serra que não quiseram se identificar. De acordo com um deles, "não dá para controlar o Malafaia". E a intenção é não "incorporar isso na campanha". Outro integrante do partido disse que o recado ao pastor foi passado. "Se você quer radicalizar, o problema é seu", explicou. Além disso, há a preocupação de que o candidato do PSDB não seja citado nos vídeos do líder evangélico. "Parece que ele não vai falar no Serra (nos ataques)", contou.

O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo negou à reportagem que tenha combinado com Serra para fazer as críticas mais pesadas enquanto o candidato do PSDB faz uma "campanha limpa". "Não sou moleque de recados de ninguém. Sou um líder evangélico e não vou me prestar a jogo sujo". Mas disse que avisou o tucano, em reunião, que ele não precisa "dar amém" para todas suas críticas a Haddad. "Eu vou fazer minhas colocações e você não é obrigado a dizer amém", avisou para Serra.

Esta não é a primeira vez que Malafaia sai em defesa de Serra. Em 2010, o pastor também fez campanha para o tucano, que disputava à presidência com a então candidato do PT, Dilma Rousseff. Na época, o líder evangélico dizia que era contra Dilma por causa de sua posição sobre o aborto.


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