Mário Augusto Jakobskind
Dossiê Jango, documentário de Paulo Henrique Fontenelle, que
concorre a prêmio no Festival de Cinema do Rio deste ano deveria ser
visto pelos integrantes da Comissão da Verdade. A película mostra que
quase 36 anos depois da morte do Presidente João Goulart ainda pairam
dúvidas se ele foi ou não assassinado com a troca de remédios para o
coração por uma substância contendo veneno. É lamentável que depois de
tanto tempo nenhum dos governos brasileiros se dispôs a seguir adiante
com a investigação que tem por objetivo acabar de uma vez por todas com a
dúvida.
A Justiça argentina, para vergonha do Brasil, solicitou a exumação
do corpo de Jango, que está enterrado em São Borja. Desta forma se
poderia verificar se procede ou não a hipótese. Há indícios fortes no
sentido de que Jango foi mesmo assassinado.
Por coincidência ou não, num espaço de poucos meses, além de Jango,
dois outros políticos brasileiros morreram em circunstâncias no mínimo
duvidosas. A morte de Juscelino Kubitschek na estrada Rio-São Paulo, na
altura do município de Resende, voltará a ser investigada pela Comissão
da Verdade. Há denúncia de que o motorista de JK teria sido baleado.
Logo após o acidente desapareceu o diário que JK escrevia e falou-se
que o empresário Guilherme Romano, muito ligado ao Coronel Golbery do
Couto e Silva e também amigo do ex-presidente, teria se apossado do
material que poderia sinalizar muitos fatos importantes.
Uma semana antes da morte, quando JK estava em seu sítio em
Luiziânia, no Estado de Goiás, cerca de 60 quilômetros de Brasília,
correu o boato segundo o qual o ex-presidente teria morrido em um
acidente da automóvel ao se dirigir à capital federal. Os repórteres
foram acionados e encontraram Juscelino no seu sítio. Realmente é muito
estranho que depois dessa falsa informaçao tenha ocorrido o acidente em
Resende.
Já Carlos Lacerda, o terceiro participante da Frente Ampla (uma
tentativa política institucional, em 1968, para acabar com a ditadura)
estava gripado e preventivamente foi a um hospital se tratar onde
morreu, o que é também muito estranho. Lacerda, como Jango e JK era uma
das lideranças em condições de numa abertura política voltar a atuar
politicamente com destaque, o que desagradava a setores do regime
ditatorial.
Tais lembranças de um período que antecedeu a abertura lenta e
gradual desenvolvida a partir do governo do general de plantão Ernesto
Geisel, com o apoio de Golbery, encontram-se no documentário Dossiê
Jango, que merece ser visto por todos os brasileiros interessados em
consolidar o processo democrático. E para que isso aconteça é necessário
esclarecer de uma vez por todas os fatos nebulosos do passado. Está aí a
Comissão da Verdade, que se espera cumpra o papel histórico nesse
sentido.
No caso de Jango é absolutamente necessário convocar o agente da CIA,
área de Montevidéu, em 1976, Frederick Latrash, que mais tarde
tornou-se assessor do então candidato republicano, em 2008, John Mccain.
Latrash teria informações a prestar, já que, segundo informam várias
testemunhas, teve participação ativa no esquema que culminou com a morte
(assassinato?) de Jango.
Em 2002, portanto há 10 anos, o ex-agente da inteligência uruguaia,
Mario Neira Barreiro fez uma série de denúncias sobre as circunstâncias
da morte de Jango em Las Mercedes, na Argentina. Barreiro acusa agentes
da CIA de serem os responsáveis pela montagem de “uma farsa para ocultar
um infame assassinato político instigado e patrocinado pelos Estados
Unidos”. Ele conta em detalhes fatos relacionados com João Goulart que
só quem teve acesso direto a ele poderia conhecer. Mesmo sendo um
marginal, como sempre foi e posteriormente envolvido em estelionato, o
depoimento de Barreiro pode servir de roteiro inicial para a própria
Comissão da Verdade. Ele seria ouvido pelo que fez quando era agente da
inteligência uruguaia.
O jornalista uruguaio Roger Rodriguez investigou a fundo as denúncias
e concluiu que há indícios claros sobre o assassinato de Jango.
Rodriguez garante que tudo o que foi informado por Barreiro se confirmou
em suas investigações. Poderia também ajudar a Comissão da Verdade a
esclarecer os fatos.
Lamentável em toda esta história, conforme mostra o documentário
Dossiê Jango, é que a Justiça brasileira tem criado obstáculos para se
investigar a morte do único Presidente do País que morreu no exílio. E
agora chegou ao ponto de a Justiça argentina, que investiga a denúncia
de que Jango foi assassinado com a troca de remédios, pedir que se faça a
exumação.
Diante de fatos ocorridos durante o período da ditadura no Brasil que
estão sendo conhecidos, se for comprovado mesmo o assassinato de Jango,
o acontecimento se somará a uma série de outros protagonizados pelos
generais de plantão que conduziram o país durante 21 anos.
Não se trata de ação isolada de psicopatas, como alguns preferem que
seja, exatamente para não culpar o sistema surgido depois de 64, mas sim
pela política de Estado, que optou pelo terrorismo institucional,
capitaneado por generais nomeados.
Figuras como Brilhante Ustra, major Curió, entre outros, são peças
dessa engrenagem hedionda e responsáveis por comprovadas violações dos
direitos humanos que estão aí mesmo para serem julgados com todo o
direito de defesa. Exatamente ao contrário do que faziam com os presos
políticos da época da ditadura quando comandavam corporações militares.
Um comentário:
As semelhanças dos fatos que ocorreram no passado mais distante que culminaram com a morte de todos que se opuseram aos interesses dos generais, com os fatos do passado mais recente que culminaram no impedimento de Collor serão mera coincidência com os que estão ocorrendo atualmente?
Jobim e Gilmar Mendes tentaram armar pra cima do Lula, tratando assuntos sensíveis numa reunião que era pra ter sido secreta.
O general José Elito, chefe do GSI, vinha monitorando o Ministro Joaquim Barbosa com seu consentimento.
Tudo o que ocorria em torno de Barbosa vinha sendo registrado pelos militares.
Se o Elito sabia dessa operação clandestina o general Enzo, comandante do exército, também sabia. Barbosa provoca Dilma, tentando vinculá-la ao processo do mensalão.
Toda essa operação de monitoramento e registros é feita pelos militares sem o conhecimento de Dilma.
Além de Dilma, o Ministro Amorim, o Diretor da PF e o Ministro da Justiça também foram ignorados pelos militares que agiam nas sombras, à traição.
As evidências são robustas.
Parece que se desenhava algum tipo de golpe contra o governo. Por que razão Barbosa, monitorado pelos generais, se colocou como isca, com provocações explícitas contra o governo?
Muitas explicações são necessárias sobre esses fatos revelados tais como:
Além de Barbosa, será que outras autoridades estão sendo monitoradas pelos generais?
Desde quando, exatamente, Barbosa vinha sendo monitorado?Quais são e onde estão os registros armazenados durante esse período de monitoramento?
Barbosa vai se aposentar. Será ele futuro candidato a presidente? Diante dessa possibilidade, estariam os militares alinhando forças, dissimuladamente, para eleger um futuro presidente simpático à ideologia militar no intuito de se reaproximar do poder político do qual estão convenientemente afastados?
É muita ingenuidade acreditar que os generais estavam empenhados em prover a “segurança” do Barbosa.
A segurança de outros ministros do STF é provida por agentes da PF.
Barbosa sempre se declarou, publicamente, ser avesso a segurança aproximada. Sempre afastou a segurança.
Vinha, porém, sendo intensamente monitorado pelos generais sem conhecimento das autoridades competentes.
Se estivesse sendo protegido por agentes da PF, assim como os outros ministros, certamente um sistema de segurança identificaria o outro. Mas, como a intenção era fazer tudo nas sombras, o mais conveniente era afastar a PF.
Está tudo muito evidente.
Mas e aí alguém pode perguntar: o que isso tudo tem a ver com as mortes suspeitas sob o regime ditatotial e o impedimento de Collor?
E aí eu respondo: leia tudo de novo, ligue os fatos e você vai ver que a resposta é: as mortes suspeitas e o impedimento de Collor foram precedidos desse tipo de trabalho que estava sendo feito agora contra o integrantes do atual governo. Se o governo não cortar as cabeças dos generais traidores, os generais traidores vão cortar a cabeça do governo
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