Em 1989, militava no Partido Comunista Brasileiro (PCB), a mais
completa escola de formação política brasileira. Uma tradição de
inteligência e perspicácia para compreender a política que rompeu pelo
menos duas ditaduras e fez milhares de jovens acordarem para a realidade
nacional.
Eu era um militante animado. Ainda estudante de jornalismo, tinha
dois empregos – assessor de imprensa em um órgão do governo e repórter
de cidades num jornal brasiliense criado por Oliveira Bastos. Trabalhava
como um condenado. E encontrava tempo para namorar, ler e militar no
movimento sindical e estudantil. Era um idiota. Tinha 23 anos.
Foi nesse período que o partido lançou a candidatura do então
deputado federal Roberto Freire (PCB-PE) à Presidência da República. O
parlamentar pernambucano era um cara articulado, inteligente, acima da
média. Mente arguta. Eu o achava genial.
Ainda naquele ano, o mundo assistiria, em novembro, à queda do muro
de Berlim. Havia a fantasia da glasnost e da perestroika, movimentos de
rearranjo político e econômico encabeçados pelo “camarada” Gorbatchev na
União Soviética. Eu acompanhava tudo atentamente. Gostava de pensar que
era possível redesenhar o socialismo. E ficava feliz de ver de perto,
como testemunha, um período importante da história ocidental.
Nesse esforço de compreender o mundo, fazia campanha diuturnamente
para Roberto. Até organizei a ida dele ao Ceub, junto com outros
militantes do PCB em Brasília, para uma conversa com estudantes no
auditório. Foi um sucesso relativo. Eu não tinha nenhuma dúvida que o
candidato não chegaria à Presidência da República. O esforço era para
romper o preconceito que existia contra os comunistas e tratar
abertamente de ideias de outra prática política. Principalmente para
quem era de esquerda. O PT em Brasília era um saco. Muito blábláblá dos
trotskistas, aquele voluntarismo típico de quem estava acostumado a
tratar política na base da porralouquice. Eu os considerava um atraso. E
ainda tinha aquele radicalismo tosco…
Na minha percepção – e torcida –, acreditava que, em 1989, iria para o
segundo turno o caudilho. Leonel Brizola era o meu candidato do peito.
Claro que votei em Lula no segundo turno. Nas eleições seguintes, fiz a
cobertura como repórter de política para diversos jornais. Acompanhava
tudo com olhar crítico. Sempre votei na esquerda. E fiquei feliz quando,
em 1998, Lula e Brizola somaram forças.
Não cheguei a participar da fundação do PPS, embora tivesse muitos
amigos na legenda em Brasília. Velhos camaradas que haviam abandonado o
Partidão. Neste intervalo de tempo, o PT mudou. Compreendeu que o
radicalismo não seria caminho para uma vitória eleitoral. E, nesse
período, mudou também Roberto Freire. Para pior.
Minha decepção veio crescendo nos últimos 20 anos com o seu
comportamento errático. Atônito, vi Roberto Freire liderar uma corrente
conservadora travestida de esquerda. Dá engulhos em qualquer um que
conhece a história do país ver o PPS servir de instrumento para as
forças mais reacionárias. Esse último esforço de criminalizar a atuação
de Lula é patético. E perigoso. Nem o Democratas de Agripino Maia
endossou a denúncia veiculada por Veja, com supostas declarações de Marcos Valério acerca do ex-presidente como “chefe do esquema”. Lamentável.
Diante disso, venho aqui dar adeus a Roberto Freire. O que eu conheci
está morto. Sobrou esse fantasma rancoroso, vanguarda do atraso.
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