sábado, 10 de novembro de 2012

Adeus, Roberto Freire

Em 1989, militava no Partido Comunista Brasileiro (PCB), a mais completa escola de formação política brasileira. Uma tradição de inteligência e perspicácia para compreender a política que rompeu pelo menos duas ditaduras e fez milhares de jovens acordarem para a realidade nacional.

Eu era um militante animado. Ainda estudante de jornalismo, tinha dois empregos – assessor de imprensa em um órgão do governo e repórter de cidades num jornal brasiliense criado por Oliveira Bastos. Trabalhava como um condenado. E encontrava tempo para namorar, ler e militar no movimento sindical e estudantil. Era um idiota. Tinha 23 anos.

Foi nesse período que o partido lançou a candidatura do então deputado federal Roberto Freire (PCB-PE) à Presidência da República. O parlamentar pernambucano era um cara articulado, inteligente, acima da média. Mente arguta. Eu o achava genial.

Ainda naquele ano, o mundo assistiria, em novembro, à queda do muro de Berlim. Havia a fantasia da glasnost e da perestroika, movimentos de rearranjo político e econômico encabeçados pelo “camarada” Gorbatchev na União Soviética. Eu acompanhava tudo atentamente. Gostava de pensar que era possível redesenhar o socialismo. E ficava feliz de ver de perto, como testemunha, um período importante da história ocidental.

Nesse esforço de compreender o mundo, fazia campanha diuturnamente para Roberto. Até organizei a ida dele ao Ceub, junto com outros militantes do PCB em Brasília, para uma conversa com estudantes no auditório. Foi um sucesso relativo. Eu não tinha nenhuma dúvida que o candidato não chegaria à Presidência da República. O esforço era para romper o preconceito que existia contra os comunistas e tratar abertamente de ideias de outra prática política. Principalmente para quem era de esquerda. O PT em Brasília era um saco. Muito blábláblá dos trotskistas, aquele voluntarismo típico de quem estava acostumado a tratar política na base da porralouquice. Eu os considerava um atraso. E ainda tinha aquele radicalismo tosco…

Na minha percepção – e torcida –, acreditava que, em 1989, iria para o segundo turno o caudilho. Leonel Brizola era o meu candidato do peito. Claro que votei em Lula no segundo turno. Nas eleições seguintes, fiz a cobertura como repórter de política para diversos jornais. Acompanhava tudo com olhar crítico. Sempre votei na esquerda. E fiquei feliz quando, em 1998, Lula e Brizola somaram forças.

Não cheguei a participar da fundação do PPS, embora tivesse muitos amigos na legenda em Brasília. Velhos camaradas que haviam abandonado o Partidão. Neste intervalo de tempo, o PT mudou. Compreendeu que o radicalismo não seria caminho para uma vitória eleitoral. E, nesse período, mudou também Roberto Freire. Para pior.

Minha decepção veio crescendo nos últimos 20 anos com o seu comportamento errático. Atônito, vi Roberto Freire liderar uma corrente conservadora travestida de esquerda. Dá engulhos em qualquer um que conhece a história do país ver o PPS servir de instrumento para as forças mais reacionárias. Esse último esforço de criminalizar a atuação de Lula é patético. E perigoso. Nem o Democratas de Agripino Maia endossou a denúncia veiculada por Veja, com supostas declarações de Marcos Valério acerca do ex-presidente como “chefe do esquema”. Lamentável.

Diante disso, venho aqui dar adeus a Roberto Freire. O que eu conheci está morto. Sobrou esse fantasma rancoroso, vanguarda do atraso.

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