Responsável pelo inquérito da Operação Porto Seguro afirma não haver 'nem conversa, nem áudio e nem e-mail' entre ex-presidente e funcionária afastada
Ao contrário do que divulgaram nos últimos dias vários
veículos de comunicação, não existem registros de troca de
telefonemas entre a ex-chefe de gabinete do escritório da
Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa Noronha, e
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Siva. A informação é da
procuradora da República Suzana Fairbanks, responsável pelas
investigações que culminaram na Operação Porto Seguro da Polícia
Federal – em que Noronha foi indiciada por suspeita de tráfico de influência e corrupção passiva.
Os
jornais chegaram a falar em centenas de telefones. “Conversa dela
com o Lula não existe. Nem conversa, nem áudio e nem e-mail.
Se tivesse, nós já não estaríamos mais com a investigação aqui.
Eu não sei de onde saiu isso, porque nunca tive acesso a isso. Vocês
podem virar de ponta cabeça o inquérito, em toda a investigação”,
disse a procuradora, em entrevista à Agência Brasil.
Sobre
o ex-ministro José Dirceu, Fairbanks afirmou que, apesar de ele ter
sido citado nos e-mails de
Rosemary, não há indícios de sua participação no esquema. “Não
tem uma relação direta dele de sociedade ou de eventual lucro”,
destacou.
Segundo
a Agência Brasil, a PF e a Procuradoria têm 600 páginas com
conteúdo da investigação sobre a ex-chefe de gabinete, que foi
exonerada do cargo, na segunda-feira (28). A PF recolheu e fez cópia
da memória de computadores e documentos de Noronha, tanto de sua
sala, no escritório da Presidência, como de sua casa.
De
acordo com a procuradora, Noronha, devido à posição que ocupava,
tinha acesso a pessoas com “os cargos mais altos” e “vendia sua
influência”.
Ela
teria conseguido a nomeação, em maio de 2010, do diretor de
Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues
Vieira, e do diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Carlos Vieira. Os irmãos
são acusados de chefiar a quadrilha.
“Eles
sabiam que ela tinha acesso a gente privilegiada dentro do governo.
Tanto que se utilizava desse cargo, e aí é que está o crime, para
fazer contatos de interesse deles. Agendamento de reunião com
políticos, nomeação deles nas agências reguladoras. Ela ficava
lá, pegando no pé do pessoal do alto escalão, porque tinha essa
proximidade, tinha proximidade física”, disse a procuradora.
“Ela
debate muito com eles, ‘vou falar com fulano, vou falar com
sicrano’. Mas eu não sei exatamente com quem ela conseguiu isso
[as nomeações]. O fato é que estava tentando e ela estava
veementemente trabalhando nisso”, acrescentou.
O
“pagamento” pelas nomeações, segundo a procuradora, era feito
com dinheiro para cirurgias e novas nomeações, agora realizadas
pelos irmãos Vieira, supostamente em benefício de Noronha ou
pessoas ligadas a ela.
Irmãos Valente
O
alvo principal da operação são os irmãos Paulo, Rubens e Marcelo
Valente, acusados de comandar um esquema criminoso infiltrado dentro
de órgãos federais.
“A
documentação dos autos é muito característica. Eles não param de
cometer crimes, a polícia até usa essa expressão quando pede as
prisões. O fundamento é: eles simplesmente não param de cometer
crimes. E foi o que a gente percebeu. É o tempo inteiro, é o modus
operandi deles,
está na vida deles, eles só fazem isso o tempo inteiro”, disse a
procuradora ontem (27) à noite.
Os
irmãos Paulo Rodrigues Vieira, ex-diretor de Hidrologia da Agência
Nacional de Águas (ANA); Rubens Carlos Vieira, ex-diretor de
Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac); e Marcelo Rodrigues Vieira, empresário, foram presos na
última sexta-feira (23), acusados de formação de quadrilha.
Segundo
a procuradora, eles vendiam pareceres a grupos empresariais para os
mais diversos fins. “O processo do Tribunal de Contas da União que
gerou toda essa investigação era a concessão de áreas no terminal
do Porto de Santos que não tinham sido licitadas”, disse.
A
investigação da Operação Porto Seguro começou com um inquérito
civil público para a apuração de improbidade administrativa. O
ex-auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Cyonil da Cunha
Borges de Faria Júnior revelou ao Ministério Público Federal e à
Polícia Federal que lhe foram oferecidos R$ 300 mil para que
elaborasse um parecer técnico a fim de beneficiar um grupo
empresarial do setor portuário que atua no Porto de Santos, a
empresa Tecondi (Terminal para Contêineres da Margem Direita), em um
contrato com a Companhia Docas de São Paulo (Codesp).
“Ele
[Cyonil] é um corrupto que sofreu um golpe, porque recebeu um calote
do pagamento, não pagaram tudo e ele resolveu denunciar o esquema.
Eram R$ 300 mil [o prometido] e ele recebeu R$ 100 mil, e ficou
cobrando os outros R$ 200 mil”, destacou.
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