Cremesp: MEC tem responsabilidade pelo fraco desempenho de formandos de medicina
Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O Ministério da Educação (MEC) tem “grande
responsabilidade” sobre o fraco desempenho dos formandos em medicina no
exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp),
disse o presidente da entidade, o médico Renato Azevedo Júnior. De
acordo com ele, o ministério tem conhecimento, por meio do Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), da baixa qualidade de
diversas faculdades de medicina, mas não está agindo para puni-las
“Entre as faculdades que participam do Enade têm pelo menos 16 que
por três anos consecutivos tiraram conceitos 1 e 2. Um conceito ruim,
porque o Enade vai de 1 a 5. E o que ocorreu com essas faculdades? Quais
foram as providências tomadas? Nenhuma. Elas continuam funcionando com o
mesmo número de alunos”, disse Azevedo em entrevista à Agência Brasil.
“O MEC tem o dever, inclusive, de fechar essas escolas. Ou
obrigá-las a readequar no sentido da qualidade da formação do médico.
Nós queremos demonstrar, e vamos levar isso ao MEC, de que é urgente que
se faça alguma coisa para melhorar o ensino médico no Brasil”,
acrescentou.
Ontem (7), o Cremesp divulgou o resultado da prova aplicada, em
novembro, em todos os formandos dos cursos de medicina no estado de São
Paulo. Mais da metade dos alunos recém-formados foram reprovados, não
alcançaram a nota mínima exigida, de 60%.
Dos 2.411 participantes, 54,5% acertaram menos de 60% da prova, ou seja, menos de 71 das 120 questões. O exame contou com a presença de
2.525 estudantes das 28 escolas médicas paulistas que funcionam há mais
de seis anos. Foi a primeira vez que todos os formandos foram obrigados a
fazer a prova – sem a necessidade de aprovação – para poder retirar o
registro médico.
“[O resultado] não surpreendeu no sentido de que é um resultado
semelhante ao que a gente já vinha tendo nos outras sete edições. Por
outro lado, é uma coisa muito preocupante. O aluno que não consegue
acertar 60% de uma prova desse tipo, de aferição do conhecimento mínimo,
tem problemas na formação e vai ter dificuldades para exercer uma
medicina de boa qualidade”, disse Azevedo.
Para o diretor do Associação Médica Brasileira, José Luiz Bonamigo, o
fraco desempenho dos estudantes pode ser explicado pela estrutura
deficiente das faculdades, a péssima avaliação interna dos alunos e à
falta de punição às escolas ruins . “A gente, hoje, tem faculdades não
só privadas, mas públicas, que abrem sem ter um hospital, sem ter uma
rede de postos de saúde credenciada para os alunos poderem atender aos
pacientes”, declarou.
“A deficiência do ensino médico é uma realidade há alguns anos no
Brasil. Os alunos não têm um campo de estágio adequado e a avaliação é
muito ruim durante o curso. É raríssimo você ter durante o curso algum
aluno reprovado, isso tanto nas mais novas como nas tradicionais”,
acrescentou.
Além de colocar os pacientes em risco, Bonamigo destaca que os
médicos malformados sobrecarregam o sistema público de saúde e
desperdiçam recursos. “Esses médicos malformados geralmente têm
dificuldade em fazer um diagnóstico correto com as ferramentas mais
importantes que a gente tem, que são a história clínica e o exame físico
do paciente. Solicitam muitos exames e sobrecarregam o sistema de
saúde. E, mesmo com o resultado, não sabem dar o andamento correto. Um
risco social de saúde e um risco de gestão do sistema. Médicos caros e
poucos eficientes”, disse.
O Ministério da Educação informou, por meio de sua assessoria de
imprensa, que desconhece as bases das provas que serviram para a
avaliação dos estudantes no Cresmep. “Não cabe portanto, neste momento,
nenhuma consideração a respeito”.
O MEC ressaltou que, em relação às deficiências das faculdades de
medicina do estado de São Paulo, assim como no resto do país, mantém uma
constante avaliação dentro do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
Superior. “O ciclo de avaliação do ensino superior é de três anos. As
escolas de medicina que estão abaixo da média 3, no CPC [Conceito
Preliminar de Curso] ou no IGC [Índice Geral de Cursos], deverão ser
reavaliadas no ano que vem. Se mantiverem a mesma avaliação serão
sancionadas [punidas]. Além do processo de supervisão, poderão ter
suspenso seu processo de seleção”, disse em nota.
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