Investigações sobre o caso apontam
Marcos Prochet como autor do disparo que matou o agricultor sem-terra
Sebastião Camargo Filho, além de ser identificado como chefe do esquema
das milícias privadas no sul do Brasil
Marcos Prochet, ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), vai a
Júri Popular no dia 4 de fevereiro de 2013, em Curitiba, acusado de
assassinar o agricultor integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) Sebastião Camargo Filho, de 65 anos. As investigações
sobre o caso apontam Prochet como autor do disparo que matou o
trabalhador, durante um despejo ilegal envolvendo cerca de 30
pistoleiros integrantes de milícia organizada pela UDR, em 1998, no
Noroeste do Paraná.
O ruralista também é apontado como chefe do esquema das milícias
privadas no sul do Brasil. O ex-presidente da UDR deveria ter ido a
julgamento no dia 28 de novembro, junto de outros acusados, mas
apresentou uma manobra de substituição de advogados às vésperas do júri e
não compareceu. Neste julgamento, a condenação de dois envolvidos no
crime afirmou a existência de milícias armadas no Paraná.
Osnir Sanches recebeu condenação a 13 anos de prisão por homicídio
qualificado e constituição de empresa de segurança privada, utilizada
para recrutar jagunços e executar despejos ilegais; e Teissin Tina,
ex-proprietário da fazenda Boa Sorte, onde Sebastião Camargo foi
assassinado, foi condenado a seis anos de prisão por homicídio simples,
por ter colaborado com a organização do despejo violento, inclusive na
contratação de pessoas armadas.
Apesar de ser apontado por testemunhas como o autor do disparo que
assassinou Sebastião Camargo, Prochet não figurava entre os acusados na
primeira denúncia sobre o crime, formulada pelo Ministério Público do
Paraná em 2000. Somente em março de 2001 houve o aditamento da denúncia e
foram incluídos como co-autores o ex-presidente da UDR, por haver
muitas provas de sua participação, e Osnir Sanches, recentemente
condenado. Já Tarcísio Barbosa, Tesoureiro da UDR, ainda não foi
denunciado, mesmo tendo farta prova contra ele no processo do caso
Sebastião Camargo.
Em 2011, 11 anos após o assassinato do trabalhador rural Sebastião
Camargo Filho no Paraná, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) responsabilizou o Estado Brasileiro pelas violações ocorridas do
direito à vida, às garantias judiciais e à proteção judicial. O caso
havia sido denunciado à CIDH em 2000 pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT), Rede Nacional de Advogados Populares (RENAP), Justiça Global,
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Terra de Direitos,
em reação à demora injustificada no andamento do processo.
Milícias e repressão
Sebastião Camargo foi morto em um período de grande repressão contra
integrantes do MST no Paraná. Entre o fim da década de 90 e início dos
anos 2000, a UDR, entidade representativa dos latifundiários, organizou
uma milícia armada que fez diversos despejos forçados ilegais e cometeu
crimes de homicídio contra integrantes do MST, com atuação em toda a
região Sul do Brasil. Os anos mais violentos foram durante o governo
Jaime Lerner: entre 1994 e 2002, 16 camponeses foram assassinados.
Investigações feitas pela polícia apontam que essa milícia armada
realizava contrabando internacional de armas, tinha ramificações na
Polícia Militar e atuava de forma a impedir investigações dos crimes
cometidos, pois contava com a anuência de parlamentares brasileiros.
Denúncias dos trabalhadores rurais apontaram para a existência de uma
“Caveirão Rural”, veículo blindado de fabricação artesanal, semelhante
ao utilizado pela polícia do Rio de Janeiro, utilizado pelos pistoleiros
e latifundiários para despejos ilegais.
Fonte: Brasil de Fato
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