Transformação da mídia abala grupos tradicionais
Com 1,2 mil demissões de jornalistas totalizadas em 2012, veículos tradicionais de comunicação apontam para o velho caminho do corte de profissionais para reduzir custos; ultrapassagem praticada pela velocidade, precisão e poder de multiplicação da internet ainda não foi compreendida pelos velhos barões da imprensa
As casas da mídia tradicional estão caindo – com os jornalistas
dentro. Por motivos que vão da pura e simples má gestão até, e
especialmente, a virada tecnológica que mexe nas estruturas da própria
mídia, muitas redações sofreram pesados cortes ao longo de 2012. Nada
menos que 1,2 mil jornalistas, segundo levantamento do portal
Comunique-se, foram demitidos entre janeiro e dezembro.
Na imprensa de papel, títulos tradicionais deixaram de circular, como
o Jornal da Tarde, em São Paulo, e o Diário do Povo, em Campinas. O
novato Marca, tablóide esportivo, também baixou as portas. Entre os
chamados jornalões O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, os cortes
chegaram a 25. Em Brasília, o Correio Brasiliense termina o ano com 23
profissionais a menos do que começou. No Novo Edifício Abril, a sede do
Grupo Abril, os cortes foram 15, pulverizados por diferentes títulos de
revistas.
A sangria atesta a forte crise de um modelo secular de mídia.
Acossados pela velocidade, precisão e poder de multiplicação do
jornalismo pela via da internet – cujo modo gratuito, interativo e
colaborativo cresce diariamente -, os veículos tradicionais apontaram
para o também tradicional caminho das demissões em massa para se
adaptarem aos novos tempos. O erro parece, assim, ser duplo. Em lugar de
estabelecer novos padrões de relação com seus leitores, o que deveria
implicar até mesmo numa nova política de preços praticados em banca e
renovadas tabelas comerciais, a mídia de papel se mantém em saltos
altos, mesmo ultrapassada pelas novas formas de comunicação de massa.
Nesse quadro, o que se pode esperar para 2013 é mais do mesmo.
O erro basal é o de que não se faz jornalismo sem jornalistas. Os
cortes, assim, implicam diretamente em perdas de qualidade entre os
veículos.
Nessa leva, a jornalista Rita Lisauskas, então âncora do principal
jornal da RedeTV, foi premonitória. Em janeiro, ela postou em sua página
no Facebook críticas aos constantes atrasos nos pagamentos de salários
pela empresa. Foi demitida. A partir do seu alerta de protesto, recebido
com arbitrariedade, a onda começou.
247 – O que você acha dessa quantidade de demissões de jornalistas que ocorreu em 2012?
Rita Lisauskas - A minha demissão foi política. Mas a maioria dessas
demissões do ano foi enxugada na folha de pagamento. Por ser jornalista
não podia me calar diante do absurdo que estava acontecendo na Rede TV.
Eu sempre acreditei que saber lutar pelos direitos era uma qualidade da
qual nenhum profissional deveria se envergonhar. Não me arrependo do que
fiz. Mostrei como a Rede TV mentia quando dizia que não atrasava
salários.
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