Ex-deputado federal teria morrido no Doi-Codi do Rio de Janeiro. Comissão da Verdade concluiu circunstância após analisar arquivos.
Ex-deputado Rubens Paiva (Foto: Reprodução Globo News) |
Documentos analisados pela Comissão Nacional da Verdade apontam que o
ex-deputado federal Rubens Paiva foi morto sob tortura nas dependências
do Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de
Defesa Interna (Doi-Codi) no Rio de Janeiro, informou nesta
segunda-feira (4) a assessoria da comissão.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Cláudio Fonteles,
chegou a conclusão sobre a morte de Rubens Paiva após encontrar, no
Arquivo Nacional, um informe no qual os agentes da repressão narram como
foi a prisão do deputado.
A comissão analisa a fundo o caso desde que documentos encontrados na casa do coronel Júlio Miguel Molinas Dias,
assassinado em Porto Alegre (RS), confirmaram que Paiva foi preso no
Doi-Codi por uma equipe do Centro de Informações de Segurança da
Aeronáutica (Cisa), em 20 de janeiro de 1971.
De acordo com Fonteles, o Informe SNI 70 desmonta a versão oficial do
Exército na época, segundo a qual Rubens Paiva teria fugido ou sido
seqüestrado por terroristas enquanto estava sob custódia para prestar
esclarecimentos. Até hoje, Paiva é tido oficialmente como foragido.
O informe, datado de 25 de janeiro 1971, não faz menção à suposta fuga
ou seqüestro de Paiva, que teria ocorrido três dias antes. “Tivesse
acontecido, de verdade, 'a fuga' é, por óbvio, esse evento constaria
desse pormenorizado registro”, afirmou Fonteles em texto divulgado nesta
segunda-feira.
A comissão se baseia, entre outros depoimentos, no de um tenente médico
do Exército, Amilcar Lobo. Em 1986, à Polícia Federal, o médico disse
ter sido chamado em janeiro de 1971 para atender Rubens Paiva, o qual
estava com o “abdome em tábua” – o que pode caracterizar uma hemorragia
abdominal na linguagem médica, segundo Fonteles. Lobo teria recomendado
que Paiva fosse hospitalizado, mas teria sido informado no dia seguinte
que o ex-deputado havia morrido.
“O Estado Ditatorial militar, por seus agentes públicos, manipula,
impunemente, as situações, então engendradas, para encobrir, no caso, o
assassinato de Rubens Beyrodt Paiva consumado no Pelotão de
Investigações Criminais do Doi-Codi do Exército”, afirmou Fonteles em
texto.
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