Garcia, durante entrevista em julho passado. Foto: José Cruz/ABr |
Por Leandro Fortes
Toda essa movimentação de corvos e abutres em torno da saúde de Marco Aurélio Garcia, inclusive a denúncia (!) da Folha de S.Paulo
dando conta de que ele foi operado com recursos dos SUS, esconde um
recalque dolorido em relação ao assessor internacional da Presidência da
República.
Garcia, chamado de MAG pelos amigos (dele, eu não o conheço), é um
dos principais articuladores do Foro de São Paulo, o movimento
contra-hegemônico das esquerdas latino-americanas à política de
submissão da região aos interesses dos Estados Unidos e das corporações
capitalistas do Velho Mundo.
Nos anos 1990, foi a iniciativa de Marco Aurélio Garcia que alimentou
nosso sentimento de soberania e autodeterminação quando tudo o mais era
ditado pelo Consenso de Washington e pelo FMI, cartilhas às quais o
governo brasileiro, da ditadura militar aos anos FHC, seguiu como um
cordeirinho adestrado.
Eleito Luiz Inácio Lula da Silva, coube a Garcia, ao lado dos
embaixadores Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, reorientar a
diplomacia brasileira de modo a tirar o Brasil, uma imensa nação
potencialmente rica e poderosa, de sua condição subalterna e levá-lá a
um protagonismo inédito e, de certa forma, perturbador dentro da ordem
mundial.
Ao fazer isso, Garcia fez o mundo lembrar o ponto de degradação a que
tínhamos chegado: em 2002, o embaixador Celso Lafer, ministro das
Relações Exteriores, chanceler do Brasil no segundo governo FHC, foi
obrigado a tirar os sapatos no aeroporto de Miami, por ordem de um
zelador da alfândega dos EUA.
Em vez de dar meia volta e fazer uma reclamação formal à Casa Branca,
Lafer botou o pezinho para fora e o rabo entre as pernas. Foi o auge da
política dos pés descalços e da diplomacia de joelhos.
Então, essas pessoas que, hoje, sem um argumento melhor, ficam
pateticamente perguntando se Marco Aurélio Garcia ao menos entrou na
fila do SUS, estão, na verdade, naquela empreitada envergonhada, pessoal
e impublicável dos que torciam secretamente pelo avanço dos tumores que
um dia atormentaram a vida e o futuro político de Lula e Dilma
Rousseff.
Sem voto, sem popularidade e despidos de humanidade, jogam todas as fichas no câncer – ou na fraqueza do coração – alheio.
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