Campos faz com Serra seu movimento mais arriscado
Governador de Pernambuco é supreendido por divulgação de conversa que deveria ser um segredo com tucano; vazamento fortaleceu plano de José Serra de aumentar pressão sobre o PSDB, para tornar-se presidente do partido ou reinar em outra freguesia; quebra de confiança sublinhou diferença de estilos; bem avaliado e popular em seu Estado, Eduardo Campos tem mesmo a ganhar ao lado do líder em rejeição, segundo as pesquisas, na região Nordeste?
Dois políticos famosos se encontram a sós, em segredo, num momento
decisivo de articulação política com vistas ao comando do maior partido
de oposição do País e à sucessão presidencial. Horas depois, esse
encontro se torna público numa das colunas políticas mais lidas da mídia
tradicional. Um deles vazou. Ou diretamente, ou para terceiros, de modo
a tornar o encontro público e ganhar com essa divulgação. Mas quem?
Tome-se o caso concreto. Esta semana, às portas da convenção nacional
do PSDB, que vai sendo adiada mas, necessariamente, terá de acontecer
em breve, um encontro determinante para os destinos do partido, e da
própria sucessão de 2014, se deu. O presidente do PSB, Eduardo Campos,
teve um tête-à-tête com o ex-governador José Serra. O que era para ficar
entre eles, horas depois foi parar no espaço da jornalista Eliane
Cantanhêde no jornal Folha de S. Paulo.
Interesses contrários
A divulgação do encontro fortaleceu a possibilidade que vem sendo
trombeteada por Serra, nos bastidores da política, de que ele próprio
pode deixar o PSDB para levar suas intenções de voto para outra
freguesia. Antes, o presidente do PPS, Roberto Freire, disse que as
portas da agremiação que preside estão abertas para Serra. Depois, o
mesmo Freire avisou que o partido deverá ser aliado de Campos se ele
resolver mesmo se candidatar à Presidência da República, no próximo ano.
Assim, Serra deixaria para o PSDB para entrar no PPS e dali fazer uma
aliança com o popular governador pernambucano. Esse foi o tema do
encontro secreto aberto.
Pisando em ovos, como se diz, para não abandonar a base aliada antes
da melhor hora e, assim, perder os cargos que o seu PSB mantém no
governo, o governador Campos tinha todo o interesse em que o encontro
com Serra ficasse mesmo em sigilo, conforme o combinado entre ambos.
Para Serra, ao contrário, a informação tornada pública fortaleceu seu
jogo de pressão para, em nome de não rachar o PSDB, arrebatar a
presidência que, a esta altura, já é desejada pelo senador Aécio Neves. A
revelação de que esteve com o presidenciável socialista passa o recado
de que Serra poderá migrar para uma trincheira da qual fará mira no
próprio Aécio.
Dados os interesses em jogo, fica fácil perceber quem tornou aberto o
encontro sigiloso. É uma certeza, por isso mesmo, que a relação
política entre Campos e Serra não começou bem. O primeiro acordo, de
manter o encontro em segredo, não durou nem 48 horas. A prosseguir o
entendimento, a ponto de tornar-se, como já apontam alguns analistas,
uma chapa presidencial com ambos como candidatos a presidente (Campos) e
vice (Serra) numa chapa PSB-PPS, o que poderá acontecer? No exemplo
histórico, as diferenças entre o então presidente Jânio Quadros e o vice
João Goulart eram, ao menos, públicas e notórias no início da década de
1960.
Movimento arriscado
A aproximação com Serra é o movimento mais arriscado já realizado
politicamente por Campos. Dinâmico e objetivo, o governador tem
conseguido, até aqui, o prodígio de ocupar largos espaços como oposição
ao governo Dilma Rousseff, sem, no entanto, tapar os vasos comunicantes
com a administração e, até mesmo, com a popularidade desfrutada por ela.
Ele vem dizendo que é possível "fazer muito mais", o que vai sendo
encarada como uma crítica elegante. Leal ao conjunto partidário que
apoiou na eleição de 2010, liderado pelo PT de seu amigo Lula, Campos
evita bater de frente sob o argumento de que "a hora é de trabalhar",
guardando os ataques políticos frontais para uma nova etapa do processo
político – o efetivamente eleitoral. Não se pode dizer que quem diz que o
momento é de trabalho esteja errado. Caso, até a hora de optar entre
manter o apoio ou ir para a oposição, ele passe a enxergar mais
qualidades na atual gestão, fundamentalmente a partir de resultados mais
robustos no crescimento da economia, Campos terá apenas de ficar onde
sempre esteve. Boa parte do PT, agora, teme a perda do apoio dele. Mas
nada está consolidado a ponto de uma nova conversa, esta com Lula, não
tapar todas as arestas. O governador está apenas praticando a arte da
política, o que os bons políticos sempre respeitam.
Unidade e divisionismo
Serra tem outros estilo e prática. Em sua última campanha para
prefeito de São Paulo, no ano passado, ele foi recebido em reuniões com
os diretórios de bairros do PSDB sob críticas frontais dos militantes
tucanos. Mais de uma vez Serra foi lembrado de que parecia humilde na
hora de buscar o apoio, para governar com distanciamento e altitude
sobre as bases. Os termos eram, na verdade, bem mais duros e indicavam o
quanto é temerário confiar nele.
Dentro do PSDB, os sete governadores da legenda prestaram apoio a
Aécio Neves, em reunião na casa do senador, na semana passada, em
Brasília. Mas até que Serra decida se vira as costas para a legenda que
fez dele duas vezes candidato a presidente da República, e pela qual foi
deputado, prefeito e governador, ou se fica apenas e tão somente sob a
condição de ser seu presidente, todos estão ressabiados. Eles querem a
unidade partidária em torno de Aécio, acreditam que a vez, como se diz, é
dele, que nunca foi testado na condição de candidato, apesar de ter
todas as credenciais para tanto. Mas sabem que Serra, pelo passado que o
próprio partido ajudou a proporcionar a ele, pode atrapalhar o futuro
do PSDB, dividindo-o.
Ao contrário de Campos, que pratica sua esgrima às claras, Serra
trabalha procurando nas sombras incutir o medo em seus adversários. Atua
na base da pressão total, dissimulando suas emoções. É frio e
calculista. No Nordeste, todas as pesquisa jogam sobre ele os mais
elevados índices de rejeição. Ele pode ser mesmo um bom aliado para o
tropical e bem avaliado Eduardo Campos?
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