Sempre gostei das Viradas Culturais que acontecem em Sampa. Reconheço
que foi uma boa idéia de Serra – ops, que Serra se apropriou seja lá de
quem for, porque ele nunca foi um homem de “idéias”. Mas é realmente
uma ótima oportunidade de ver o paulistano descontraído, despido de sua
embalagem de carrancudo.
Não, não fico mais de 10 minutos assistindo a qualquer dos diversos
shows. Prefiro mesmo passear pelas ruas. Principalmente nas do centro.
Me encantam as diversas tribos se cruzando, se assistindo. A pluralidade
cultural e estética das danças, ritmos, cores, luzes etc. Parece
Carnaval. Mas, fato é, que não divide as pessoas pelo bolso como o
Carnaval faz. A Virada é legal porque dá aquela embaralhada
sócio-cultural no paulistano por 24 horas seguidas. É um caleidoscópio. E
o centro da Virada só pode ser o centro de Sampa. É ali onde o evento
pulsa mais intensamente.
No sábado, nas escadarias do Teatro Municipal, acontecia manifestação pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Um grupo de três meninas me cercou e uma delas, que não tinha mais de
12 anos, fez uma singela exposição sobre o tema, me panfletou e me deu
uma bala: “Essa bala é o sinal de que você acaba de ser vacinado e vai
ajudar a proteger todas as crianças do mundo”. Me deixou com os olhos
marejados. Já me afastando fiz-lhe o sinal de que a guardei em meu
coração.
A “Viradinha Cultural” – voltada ao público infantil – transformou o
lindo Parque da Luz num enorme laboratório de fantasias infantis. Muita
musica, contação de histórias, atividades lúdicas, e muitas, mas muitas
famílias inteiras se divertindo. E, claro, a “Viradinha” não durou a
noite toda. Recomeçou pela manhã. Vi as crianças receberem fitas nos
pulsos, identificando nomes e números dos telefones dos pais. E os pais
não demonstravam aquela típica paranóia do paulistano sobre a segurança
de seus filhos em lugares públicos.
O que mais me saltou aos olhos desde o início dessa edição da Virada,
foi a preocupação com a limpeza. Nunca vi o centro de Sampa tão limpo
em toda minha vida! Os garis faziam questão de limpar cada metro
quadrado de calçadas e asfaltos. De repente, na Barão de Itapetininga um
gari usando um aspirador gigante, que engolia facilmente uma lata de
cerveja! Uma diferença gritante pra quem viveu a administração Kassab,
não é mesmo? (Como se sabe, Kassab recebeu (e mereceu) o apelido de
Prefeito Sujismundo – por ter reduzido as verbas e contratos com as
empresas que cuidavam da limpeza da cidade.)
Passei o domingo quase inteiro passeando pelo roteiro da Virada
Cultural (das 9h às 16h – quando voltei pra ver a final Santos x
Corinthians). Vi muita PM e GCM. Até achei um exagero a quantidade deles
em certos locais. Não vi nenhum sinal de violência, vandalismo,
desorganização ou descontrole de ninguém. Um ou outro embriagado
voltando pra casa, cheiro de maconha em muitos lugares, pessoas alegres,
algumas mais agitadas. Mas tudo e todos em paz… Não vi nada do horror
que o PiG “viu”.
Agora, pensa bem: é de se esperar que numa madrugada inteira, onde
circularam pelas ruas do centro 4 milhões de pessoas bebendo, cantando e
dançando, houvessem alguns incidentes, uma morte por overdose e, em se
tratando de Sampa, até um latrocínio. Em todas as edições da Virada
aconteceram fatos semelhantes ou até piores. Mas parece que em se
tratando de prefeito petista os fatos são mais graves!
Todos que moram nesta cidade sabem que é uma das mais violentas do
mundo há décadas. É óbvio, que assaltantes se aproveitam de eventos como
este, para “lucrar à sua maneira”. De qualquer modo, na noite de sábado
pra domingo, as delegacias de Sampa devem ter registrado dezenas de
ocorrências, inclusive com mortes, FORA do perímetro da Virada Cultural.
Mas para o Estadão, Folha, Globo e filhotes golpistas, grave mesmo foi a
Virada de Haddad…
A responsabilidade maior da segurança desta cidade cabe ao comandante
em chefe da PM, Geraldo Alckmin, eleito governador do estado por sua
população. Desde seu mandato anterior, Alckmin já era refém do PCC e a
imprensa escondia e maquiava os índices em sua gestão: seja na
segurança, saúde, educação ou transporte público.
O que assusta mesmo é uma notícia como a de que a PM teria facilitado a ação de criminosos.
Me recuso a acreditar que isso tenha algum fundamento. Porque se tiver
mesmo, se pretendiam desmoralizar o primeiro evento de maior
visibilidade da administração Haddad, mandando polícia e bandidos
dançarem a mesma dança enquanto a população era assaltada, podemos
esperar chumbo cada vez mais grosso vindo dos fascistas de plantão.
Sempre, é claro, com total cooperação da “imprensa amiga”.
Pra usar uma expressão que já está se tornando lugar comum – embora a
minha intenção não seja a de manifestar qualquer complexo de
vira-latas: “Imaginem na Copa”. E se estes golpistas tiverem a ousadia
de armar um ataque mais bélico que um assaltante comum para desmoralizar
um evento muito maior que a Virada?
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