Eduardo Azeredo - PSDB-MG |
Ao contrário do que ocorre na AP 470, é fácil apontar desvio de dinheiro público no mensalão PSDB-MG
por Paulo Moreira Leite, em seu blog
Se você é daqueles que acredita que o mensalão PSDB-MG é igual ao
esquema financeiro da AP 470 pode despedir-se de mais uma ilusão.
A leitura das alegações finais de Rodrigo Janot, procurador geral da
República sobre o mensalão PSDB-MG mostra uma verdade difícil de negar.
Tudo aquilo que se disse – e não se provou – sobre o esquema de
Valério-Delúbio pode ser dito e provado no mensalão PSDB-MG.
A polêmica principal sobre o mensalão dos petistas diz respeito ao
desvio de recursos públicos. O procurador geral Antônio Carlos Fernando,
seu sucessor Roberto Gurgel e o relator Joaquim Barbosa sustentam,
desde o início, que o esquema Valubio baseou-se no desvio de R$ 73,8
milhões de recursos públicos. Dizia-se, no começo, que esse dinheiro
fora desviado do Banco do Brasil. Uma apuração mais acurada mostrou que o
dinheiro pertencia ao Fundo de Incentivo Visanet, destinado a divulgar o
cartão Visa, que é uma empresa privada. Hoje não há a mais leve dúvida a
respeito.
Embora uma única testemunha tivesse dito que – qualquer que fosse sua
natureza — os recursos destinados a DNA eram desviados para campanhas
petistas, a contabilidade mostra que o desvio – se houve – está longe de
ter sido demonstrado.
As contas batem, conforme várias auditorias.
E tanto é assim que nesta semana, teremos uma novidade neste item.
Enquanto os réus da AP 470 já estão cumprindo penas longas, em regime
fechado, seus advogados começam a distribuir uma notificação judicial
aos veículos que receberam as verbas da DNA. Estamos falando da TV
Globo, Editora Abril, Estadão, Folha, Editora Três.
Convencidos de que irão colher um dado que ajudará a demonstrar a
inocência dos réus, os advogados querem que as empresas confirmem – ou
desmintam – a informação de que os recursos da DNA chegaram a seus
cofres. Estes dados, a rigor, encontram-se nos documentos da AP 470. Mas
ficaram ali, congelados nos arquivos, sem que fosse possível examinar
seu significado e extrair todas implicações.
A consulta às empresas, que será feita agora, deveria ter ocorrido em
2005 ou 2006, na época da denúncia. Era o tempo certo para uma checagem
tão importante, decisiva, até.
Mas não interessava questionar uma teoria que agradava tantas pessoas e tantos interesses, vamos combinar.
A leitura das alegações finais de Janot sobre o mensalão do PSDB
descreve fatos muito mais graves. Ele fala de desvio de milhões de reais
de empresas estatais do governo de Minas Gerais. Fala da Copasa,
Codemig, Comig. Ao contrário do que acontecia com a Visanet, que se
definia como “empresa de capital privado”, em seus estatutos e também
num questionário enviado a CPMI dos Correios, aqui estamos falando de
empresas públicas, controladas pelo governo do Estado, com funcionários
concursados e tudo mais.
A Copasa é a Companhia de Saneamento do Estado. A Codemig dedica-se
ao desenvolvimento econômico e obras de infraestrutura. A Comig é a
estatal de mineração.
Não há comparação possível com a Visanet, criada pela multinacional dos cartões Visa, uma das maiores empresas do mundo.
Com notas e depoimentos, Janot descreve cenas tão didáticas que
poderiam estar num filme. O dinheiro sai das estatais, chega às agências
e, em vez de ser gasto em publicidade, é despachado para os cofres da
campanha estadual do PSDB em 1998. Porções mínimas das verbas destinadas
a publicidade chegaram a seu destino. A maior parte ficou no meio do
caminho, diz ele.
Muitas pessoas diziam, quando Roberto Jefferson fez a denúncia, que o
PT apenas repetia o que o PSDB fizera antes. O próprio Lula disse em
Paris que seu partido nada fazia de diferente daquilo que ocorria
“sistematicamente” na política brasileira.
Parecia uma forma do PT tentar proteger-se atrás dos erros do
adversário, o que levou a acusação de que o partido queria justificar
seus erros através dos erros dos outros. Talvez seja mais correto
afirmar o contrário. A construção de uma visão distorcida na AP 470
ajudou a encobrir erros e desvios — mais graves — da AP 536-MG.
Embora o próprio Janot se permita, nas alegações finais, lembrar as
semelhanças – e algumas distinções – entre os dois mensalões, as
diferenças são muito maiores do que se quer acreditar. O Banco Rural é o
mesmo, um personagem central – Valério – também. Até as secretarias
eram as mesmas.
Mudava a natureza da mercadoria.
A existência do mensalão PSDB-MG chegou ao STF Supremo em 2003 mas
ficou em segredo até a denúncia de Roberto Jefferson contra o PT. Foi
então que se descobriu que Marcos Valério, o parceiro que se aproximou
de Delúbio – o Carequinha, nas palavras de Jefferson — nos meses finais
da campanha de 2002, havia sido formado e treinado nas campanhas tucanas
desde 1998.
Veio daí a teoria de que o segundo mensalão era uma cópia do
primeiro. As diferenças no ponto essencial – dinheiro público – permitem
pensar em outra hipótese. A teoria do segundo mensalão serviu para
justificar o primeiro.
É como se, já tendo conhecimento anterior do mensalão PSDB-MG, a
acusação tenha feito o possível para vestir o esquema de Delúbio-Valério
com as mesmas roupagens e a mesma gravidade, fazendo uma denúncia igual
para casos substancialmente diferentes. Isso explica porque se forçou a
barra para dizer que as verbas saiam do Banco do Brasil e, quando se
verificou que sua origem era a Visanet, para dizer, num exercício
espantoso, que os recursos seguiam públicos embora fossem propriedade de
uma empresa privada.
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