Marina Silva mudou de posição quando passou a ser financiada pelo Banco Itaú. Defende a Anistia ampla, geral e irrestrita. Inclusive é contra a Comissão da Verdade abrir investigação para apurar os empresários que financiaram os crimes de torturas, desaparecimentos e assassinatos durante a ditadura militar.
“Estamos
em cima dos que deram dinheiro para a OBAN [Operação Bandeirante, que
coordenava a repressão]“, disse o ex-ministro da Justiça José Carlos
Dias em um encontro em sua casa com outros três integrantes da comissão –
Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro e Rosa Maria Cardoso Cunha.
Dias
fez um paralelo do suporte empresarial à ditadura com o escândalo de
corrupção que levou à queda de Fernando Collor em 1992. “PC Farias
[tesoureiro de campanha de Collor] tinha uma empresa, a EPC, que fingia
que prestava consultoria e emitia notas fiscais frias a empresários que
davam dinheiro a ele. Descobrimos uma consultoria fictícia que fazia a
mesma coisa na ditadura: fornecia notas fiscais de ‘assessoria
econômica’ a empresas que davam dinheiro à repressão.”
Os
integrantes da comissão revelaram que estão tendo dificuldades para
acessar documentos oficiais que poderiam esclarecer crimes. O principal
obstáculo estaria no Ministério da Defesa.
“Buscamos documentos, e eles dizem que foram incinerados”, diz José Carlos Dias.
A
Frente de Esculacho Popular (FEP) promoveu, no dia 9 de março último,
ato de protesto na sede da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp), localizada na Avenida Paulista, criticando o apoio da
entidade à ditadura militar (1964-1985). Além da Fiesp, a frente
denunciou o Banco Itaú, que, segundo os ativistas, ajudou a financiar o
regime militar.
“Hoje
estamos esculachando não uma pessoa, como fizemos até agora, mas duas
empresas, que são mais representativas de toda uma estrutura: a Fiesp e o
Itaú. A Fiesp foi uma das principais organizadoras das reuniões,
chamadas de grupos de trabalho, onde os empresários se reuniam para
contribuir para a caixinha da ditadura”, explicou Lavinia Clara Del
Roio, uma das organizadoras do ato. Segundo Lavinia, essas empresas,
entre várias outras, financiaram a preparação do golpe, a ditadura e a
repressão e, em troca desse apoio, receberam “facilitações fiscais”, o
que as fez “crescer enormemente”.
Quanto
ao Itaú, Lavinia disse que o banco foi escrachado principalmente pelo
fato de um de seus controladores, Olavo Setúbal, ter sido prefeito
biônico de São Paulo entre os anos de 1975 e 1979. Olavo é pai de Maria
Alice Setúbal, Neca, mentora política e financiadora de Marina.
Segundo a
Frente de Esculacho Popular, a “caixinha” era feita pelo regime entre
os empresários paulistas para financiar a Operação Bandeirante (Oban),
responsável por atos de repressão durante o regime. Em fevereiro do ano
passado, a Comissão da Verdade de São Paulo apresentou documentos
obtidos no Arquivo Público do Estado que mostravam indícios de ligação
entre a Fiesp e os serviços de repressão da época. Entre os documentos,
há seis livros datados dos anos 70 que registram entradas e saídas de
funcionários e visitantes do extinto Departamento de Ordem Política e
Social (Dops) em São Paulo, um dos órgãos da repressão. Segundo a
comissão, nesses livros, há registro de entradas de Geraldo Resende de
Matos, cujo cargo é identificado como representante da “Fiesp”.
De
acordo com Lavinia, as empresas e a federação precisam dar uma resposta
à sociedade. E não somente isso. Para ela, a Fiesp, por exemplo,
deveria abrir seus arquivos, encontrar os culpados e puni-los. “As
empresas tem que se posicionar. Pedimos uma posição e também que,
eventualmente, sejam encontrados os nomes e que se tenha punição e
ressarcimento”, disse ela.
Durante
o protesto, vários cartazes denunciando a participação e apoio da Fiesp
e do Itaú na ditadura militar foram colados em postes, orelhões e
pontos de ônibus na região da Avenida Paulista.
Ao
microfone, o deputado Adriano Diogo (PT), ex-preso político e
presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”,
citou empresas colaboradoras da ditadura, sendo seguido pelos
manifestantes, que repetiam, em coro: “Supergel, Cobrasma, Mercedez
Benz, Volkswagen. Elas financiaram o golpe, acompanharam sessões de
tortura com o Boilesen e o Dr. Geraldo. A Fiesp é o símbolo da
ditadura”.
Outra
ex-presa e militante de direitos humanos, que atua nas comissões da
Verdade e de Familiares, Maria Amélia Teles, a Amelinha, afirmou:
-
Viemos mostrar nosso repúdio à participação do empresariado e da Fiesp
não só no golpe como em todo o aparato repressivo que torturou e matou
pessoas durante a ditadura. Aqui, na Fiesp, tem de ter um centro de
memória e verdade para contar a história dos trabalhadores perseguidos.
Entre
os participantes do protesto, estavam a ex-guerrilheira do Araguaia
Crimeia de Almeida, viúva de André Grabois; Denise Crispim, viúva de
Eduardo Collen Leite, o Bacuri, e Angela Almeida, viúva de Luiz Merlino.
A
Frente de Esculacho Popular, criada em 2012, é uma organização composta
por familiares de vítimas da ditadura e ativistas de direitos humanos,
em geral. O objetivo da frente é promover esculachos, denunciando os
colaboradores da ditadura militar, sejam eles pessoas ou empresas.
Por Talis Andrade
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