Uma semana depois do golpe midiático contra Dilma, é hora de abrir uma investigação oficial sobre os indícios criminais de uma ação contra a ordem democrática
O golpe eleitoral midiático destinado a interferir na
eleição presidencial completa uma semana hoje e cabe perguntar: vai
ficar tudo por isso mesmo?
É curioso registrar que estamos diante de um caso que a Polícia
Federal e o Ministério Público têm todos os meios de apurar e chegar aos
responsáveis sem muita dificuldade, até porque muitos nomes são de
conhecimento público. Não é diz-que-diz. Nem simples cortina de fumaça.
Os indícios criminais estão aí, à vista de 140 milhões de eleitores.
Até o momento, temos uma discussão de mercado. Jornalistas debatem o
que aconteceu, analistas dão seus palpites, políticos de um lado de
outro têm sua opinião. Não basta.
Está na hora daquelas autoridades que falam em nome do Estado
brasileiro cumprirem o dever legal de garantir os direitos dos cidadãos
de escolher os governantes através de eleições livres e limpas, sem
golpes sujos.
O golpe midiático não foi um ato delinquente sem maiores
consequências. Trouxe prejuízos inegáveis a candidatura de Dilma
Rousseff e poderia, mesmo, ter alterado o resultado da eleição
presidencial — a partir de uma denúncia falsa. Mesmo eleita, é inegável
que Dilma saiu do pleito com um desfalque de milhões de votos
potenciais, subtraídos nas últimas 48 horas. “Se a eleição não fosse no
domingo, ela até poderia ter perdido a presidência,” admite um membro
do Ministério Público Federal.
Boa parte da investigação já está pronta. Sabemos qual o lance
inicial — uma capa da revista VEJA, intitulada “Eles sabiam de tudo”,
dizendo que o doleiro Alberto Yousseff dizia que Lula e Dilma estavam a
par do esquema de corrupção. Sabemos que, prevendo uma possível ação
judicial, a própria revista encarregou-se de esclarecer que não podia
provar aquilo que dizia que Yousseff havia dito. O próprio advogado de
Yousseff também desmentia o que a revista dizia. Mesmo assim, VEJA foi
em frente, espalhando aquilo que confessadamente não poderia sustentar.
Seria divulgado, mais tarde, que a referência a Lula e Dilma, uma
suposição (alguma coisa como “é difícil que não soubessem”) sequer fora
feita no próprio depoimento a Polícia Federal, mas numa segunda
conversa, 48 horas depois.
Se essa hipótese é verdadeira, isto quer dizer que a própria frase
da capa, “eles sabiam de tudo”, pode ter sido obtida artificialmente,
sem caráter oficial, apenas para que fosse possível produzir uma
manchete na véspera da eleição.
Colocada diante de um fato consumado, Dilma foi levada a gravar um
pronunciamento para seu programa político. O assunto foi tema no debate
da TV Globo, na noite de sexta-feira. Também foi tratado pela Folha de
S. Paulo, no dia seguinte, e no Jornal Nacional, menos de doze horas
antes da abertura das urnas e dos primeiros votos.
Se antecipou a impressão e distribuição da revista em 24 horas, num
esforço para garantir de qualquer maneira que a acusação que não podia
ser provada contra Dilma e Lula tivesse impacto sobre os eleitores, a
revista também fez um esforço especial de divulgação. No sábado,
espalhou out-doors pelo país e foi acusada de não acatar decisão
judicial para que fossem retirados — pois o próprio texto do anúncio
servia como propaganda negativa contra Dilma. Obrigada a publicar um
direito de resposta em seu site, a revista respondeu ao direito de
resposta, o que é um desrespeito com a vítima.
No domingo, quando o doleiro Alberto Yousseff foi internado por uma
queda de pressão, a pagina falsa de um site de notícias de grande
audiência circulou pela internet, dizendo que ele fora assassinato num
hospital de Curitiba. No mesmo instante, surgiram cidadãos que gritavam
em pontos de circulação que Yousseff fora assassinado numa queima de
arquivo, numa campanha de mentira que ajudou a elevar a tensão entre
militantes, ativistas e cabos eleitorais de PT e PSDB.
O ministro José Eduardo Cardozo teve de intervir pessoalmente para desmentir a mentira.
Talvez não seja tudo. Olhados em retrospecto, os números risíveis de
determinados institutos de opinião, que apontavam para uma vantagem
imensa e ridícula de Aécio Neves sobre Dilma, poderiam servir para dar
sustentação a trama.
Caso o golpe midiático viesse a ser bem sucedido, produzindo uma
incompreensível virada de última hora, estes números de fantasia
poderiam ser usados como argumento para se dizer que a candidata do PT
já estava em queda e que sua derrota fora antecipada em algumas
pesquisas. Verdade? Mentira? Cabe investigar.
Há uma boa notícia neste campo.
No final da tarde de ontem, era possível captar sinais de que uma
investigação oficial sobre o golpe midiático pode estar a caminho. Cabe
torcer para que isso aconteça e que ela seja feita com toda seriedade
que o caso merece.
O eleitor agradece.
Um comentário:
É o que todo mundo quer saber. Agora, se nada for feito ele voltaram com mais sede ao pote!!!
Postar um comentário