Manifestantes usam panetone em protesto em frente a casa de Arruda, após reunião com o DEM
Christiane Samarco e Marcelo de Moraes, BRASÍLIA
Arruda ameaça DEM e diz que não deixará o partido
'Se vocês radicalizarem comigo, eu radicalizo', avisou governador ontem durante encontro com os dirigentes
Três dias depois de revelado o escândalo do pagamento de "mensalão do DEM" e após três reuniões da cúpula do partido, o governador José Roberto Arruda reagiu com ameaças à pressão para deixar a legenda.
Num encontro com os dirigentes nacionais do DEM, na residência oficial de Águas Claras, Arruda devolveu a pressão feita pelo senador Demóstenes Torres (GO), que propôs à direção partidária sua expulsão sumária. "Se vocês radicalizarem comigo, eu radicalizo", avisou.
No fim de semana, ele já havia prevenido interlocutores do partido de que não se calaria caso fosse expurgado. Nessas conversas, disse claramente que revelaria os recursos que saíram do Distrito Federal para várias campanhas municipais do DEM, incluindo a da Prefeitura de São Paulo, hoje administrada por Gilberto Kassab.
O governador também se negou a tomar a iniciativa de pedir desligamento do DEM. "Eu me recuso a aceitar o desligamento", afirmou. "Seria o reconhecimento antecipado de culpa e eu tenho defesa. Acho que tenho condições de mostrar minha inocência e ganhar as eleições."
No início da noite, Arruda reforçou essa posição com um pronunciamento de sete minutos, no qual apresentou sua defesa e garantiu: "Estamos firmes, vamos até o fim."
A resistência de Arruda surpreendeu os integrantes do DEM presentes ao encontro. Antes da reunião, a expectativa era pela saída imediata do governador a fim de evitar a contaminação política de todos os seus companheiros de partido.
Na visão geral, os vídeos e áudios gravados pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa formavam um conjunto de evidências tão pesado que não seria possível dissociar o DEM de todo o problema.
Os dirigentes se reuniram a sós, antes de conversar com o governador, justamente com o objetivo de afinar o discurso para sua degola. A reação de Arruda foi tão firme que os dirigentes tiveram de fazer nova reunião a fim de tentar montar alguma estratégia.
Não conseguiram. Especialmente por estarem amarrados ao estatuto partidário que não prevê nenhuma punição sumária que elimine um longo e desgastante processo com amplo direito de defesa. Outro problema é que nem mesmo entre os sete participantes da reunião de ontem há consenso sobre o que fazer para blindar o partido. Hoje, a Executiva Nacional vai se reunir às 17 horas em busca de uma solução para o impasse.
TENSÃO
A conversa de Arruda com os dirigentes do DEM durou mais de duas horas em clima tenso. O governador usava um andador, por conta da cirurgia que fez na perna há duas semanas e quase chorou ao falar das acusações que vem sofrendo.
Foi logo cobrado pela chamada "ala pit bull" do DEM, que defende sua expulsão. "O partido não concorda em assumir como seus os erros atribuídos ao governador. "Mensalão do DEM", não", cobrou José Agripino Maia (RN). "Em política, se pode perder tudo. Menos o discurso. Se perder o discurso, você morreu. Isso você não tem como exigir dos colegas", disse o líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO).
Em sua defesa, cercado de advogados, Arruda procurou rebater as denúncias, enfatizando que o vídeo em que aparece recebendo dinheiro foi do tempo da campanha e não do governo. Disse que prestou contas à Justiça Eleitoral dessas doações e possui o recibo. Alegou que pode ter havido problemas técnicos que produziram alterações no áudio das conversas. Nesse caso, teriam ficado de fora frases que alteraram o contexto da sua fala.
Acusou Barbosa de chantageá-lo por ter interesses contrariados na área de informática e disse que os deputados flagrados recebendo dinheiro são ligados ao ex-governador Joaquim Roriz (PSC).
A NOTA DE ARRUDA
1 - Durante 8 anos o denunciante, Durval Barbosa, hoje réu em 32 processos, todos por atos praticados no governo anterior, foi presidente da Codeplan, empresa de informática do governo Roriz
2 - Recursos eventualmente recebidos por nós do denunciante para ações sociais, nos anos de 2004, 2005 e 2006, entre os quais o que foi exibido pela TV, foram regularmente registrados ou contabilizados, como o foram todos os demais itens da campanha eleitoral
3 - Na montagem da equipe de governo, o denunciante desejou continuar na empresa de informática. Avisados de que ele respondia, como réu, a processos por condutas praticadas no governo anterior, não concordamos com sua permanência no mesmo posto, e o mantivemos no governo, em outro setor, meramente burocrático, já que não havia ainda nenhuma condenação
4 - Criamos uma Agência Técnica de Informática. Mais tarde, informados que na nova Agência de Informática ainda havia problemas, extinguimos a Agência, demitimos os servidores sob suspeita e descentralizamos todos os serviços (Decretos n.ºs 29.674 e 30.010, em anexo)
5 - O nosso governo reduziu os gastos de informática em mais de 50% em relação ao último ano do governo passado. Isto contrariou a muitos interesses políticos e empresariais que, agora fica claro, são ligados ao denunciante
6 - Quanto ao diálogo gravado no dia 21 de outubro, fica claro que foi conduzido para passar uma versão previamente estudada. A avaliação preliminar dos nossos advogados me alerta que os supostos ''defeitos'' ou ''aquecimento'' e ''resfriamento'' do aparelho de gravação, conforme consta dos autos, acabaram por truncar e comprometer o teor e o sentido da conversa, inclusive com a "desconfiguração dos dados armazenados". Os advogados estão estudando essa questão. O denunciante propunha, dias antes do encontro, a realização de pesquisas, conversas para acordos políticos e doações para campanha por empresários amigos dele. Deixamos claro que não aceitaríamos essas doações, pois só cuidaríamos de campanha no próximo ano, e sugerimos apoio às campanhas de deputados da base de apoio ao governo, na forma da lei
7 - Quanto a outras imagens e/ou outros informes inseridos no inquérito relativos a doações que ele teria feito a outros políticos, é preciso que haja uma análise cuidadosa dos advogados para esclarecer melhor as datas e as responsabilidades
8 - Finalmente, os nossos advogados estão analisando detalhadamente os autos para, no momento próprio, apresentar nossas posições. Além das investigações internas que determinei, com o apoio da Controladoria, da Procuradoria e da Polícia Civil, vamos colaborar com tudo que for necessário para as investigações do Ministério Público Federal e do Superior Tribunal de Justiça
9 - Confiamos na justiça e vamos continuar trabalhando no dia a dia do governo, agora livres dessa herança maldita do governo anterior
(Estadão)
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