Por Vladimir Safatle, na Folha.
(…)
Temer agora quer se apresentar como líder de um governo de “salvação
nacional”. Ele deveria começar por responder quem irá salvar o povo
brasileiro dos seus “salvadores”. Seu partido, uma verdadeira associação
de oligarquias locais corruptas, é o maior responsável pela miséria
política da Nova República, envolvendo-se até o pescoço nos piores casos
de corrupção destes últimos anos, obrigando o país a paralisar todo
avanço institucional que pudesse representar riscos aos seus interesses
locais.
Partido formado por “salvadores” do porte de Eduardo Cunha, Renan
Calheiros, José Sarney, Sérgio Cabral e, principalmente, o próprio
Temer. Pois nunca na história da República brasileira houve um
vice-presidente que conspirasse de maneira tão aberta e cínica para
derrubar o próprio presidente que o elegeu.
Em qualquer país do mundo, um político que tivesse “vazado” o
discurso no qual evidencia seu papel de chefe de conspiração seria
execrado publicamente como uma figura acostumada à lógica das sombras.
No Brasil de canais de televisão de longo histórico golpista, ele é
elevado à condição de grande enxadrista do poder.
Mas não havia outra chance para tal associação de oligarcas
conspiradores. Afinal, eles sabem muito bem que nunca chegariam ao poder
pela via das eleições.
Esta Folha publicou pesquisas no último domingo que demonstravam
como, se a eleição fosse hoje, Lula, apesar de tudo o que ocorreu nos
últimos meses, estaria à frente em vários cenários, Marina em outros. O
eixo central da oposição golpista, a saber, o PSDB, não estaria sequer
no segundo turno. Temer, que deveria também ser objeto de impeachment
para 58% da população, oscilaria entre fantásticos 1% e 2%.
Estes senhores, que serão encaminhados ao poder a partir de
segunda-feira, têm medo de eleições pois perderam todas desde o início
do século. Há de se perguntar, caso fiquem no poder, o que farão quando
perceberem que poderão perder também as eleições de 2018.
Os que querem comandar o país a partir de segunda-feira aproveitam-se
do fato de o país estar em uma divisão sem volta. Eles governarão
jogando uma parte da população contra a outra para que todos esqueçamos
que, na verdade, são eles a própria casta política corrompida contra a
qual todos lutamos.
Diante da crise de um governo Dilma moribundo, outras saídas, como
eleições gerais, eram possíveis. Elas poderiam reconstituir um pacto
mínimo de encaminhamento de antagonismos. Mas apelar ao poder
instituinte não passa pela cabeça de quem sempre sonhou em alcançar o
poder por usurpação.
Diante da nova realidade que se anuncia, só resta insistir que
simplesmente não há mais pacto no interior da sociedade brasileira e que
nada nos obriga à submissão a um governo ilegítimo. Nosso caminho é a
insubmissão a este falso governo, até que ele caia.
Este governo deve cair e todos os que realmente se indignam com a
corrupção e o desmando devem lutar sem trégua, a partir de
segunda-feira, para que o governo caia e para que o poder volte às mãos
da população brasileira.
Àqueles que estranham que um professor de universidade pública pregue
a insubmissão, que fiquem com as palavras de Condorcet: “A verdadeira
educação faz cidadãos indóceis e difíceis de governar”. Chega de farsa.
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