Hoje, pretendo comentar um texto publicado pelo jornalista Magno Martins.
Vejamos o que nos diz o caro e respeitado jornalista:
13/06/2008
Coluna de hoje na Folha
Pelo menos no futebol, Lula sabe o que é o sabor de uma derrota. Na final da Copa Brasil, quarta-feira, ele torceu tanto pelo Corinthians, derrotado pelo Sport, que ficou com torcicolo. Embora nascido em Pernambuco, o presidente esqueceu suas origens, não se contentou com a espetacular vitória de um time do Nordeste e foi para a cama com uma tremenda dor de cabeça.
Lula é um corintiano fanático e tem todo o direito de estar com dor de cotovelo. O que estranha é que não tenha tido nenhuma pontinha de orgulho por um time de Pernambuco ter dado um show de bola e entrado, definitivamente, para a elite do futebol nacional.
Perguntado, ontem, sobre o resultado do jogo, durante uma solenidade no Planalto, Lula baixou a crista e reconheceu a superioridade do Sport. Mas, da boca para fora. E pode anotar: ele deve receber em Palácio, nos próximos dias, a delegação do Sport para se redimir da torcida contra que fez.
A encenação faz parte do rito demagógico e oportunista da política. No fundo, Lula está doente e com ódio do Sport, porque o seu coração é corintiano e a sua alma paulistana. De nordestino, só lhe resta uma foto pendurada na sua parede quando garoto em Caetés. E nem dói, como a de Drummond de Andrade.
http://www.blogdomagno.com.br/
13/06/2008
Sexta-feira, 06:40h, manhã de um sol morno e uma temperatura amena, dirijo-me ao trabalho pensando na vida que me absorve neste momento: filhos, profissão, descanso, casa na praia, casa no campo, política, esporte. Escuto a Nova Brasil FM e meu olhar circunvaga pelo ambiente que se insurge por entre os vidros do veículo. Alguma coisa me inquieta. A razão de minha inquietude é a razão humana e os atos que dela emanam. Reporto-me ao texto lido meia hora antes: SÓ UM RETRATO NA PAREDE (assinado pelo jornalista Magno Martins, na FOLHA DE PERNAMBUCO, em 13/06/2008). Reflito e me pergunto: O que está havendo com este texto? Há algo que ensurdece o meu silêncio matinal. Passo a manhã com essa inquietação que me consome.
À tarde, não só acesso a internet para os meus afazeres profissionais, mas também para recuperar as informações e fazer uma releitura daquele texto que me fez inquieto durante toda a manhã. Descubro a razão do meu desassossego: a SUBSTÂNCIA. A SUBSTÂNCIA do texto a partir de um contexto político. Fiz tantas leituras quantas me foram possíveis e me perguntei: Onde está a SUBSTÂNCIA POLÍTICA do texto do jornalista Magno Martins?!?! Perguntei-me (e isso é sempre possível: perguntar a nós mesmos sobre as coisas que nos circundam) e respondi-me (e isso é sempre possível: responder a nós mesmos sobre as coisas que nos rodeiam). Deparei-me com respostas que considero dentro de uma perspectiva razoável (e isso é sempre possível: estar diante daquilo que consideramos razoável). Deste modo passo a discorrer sobre as perguntas e as respostas advindas do texto do nobre jornalista:
PERGUNTAS QUE ME FIZ:
Por que Luís Inácio LULA da Silva (Presidente reeleito com 58.295.042 de votos – equivalente a 60,83% dos votos válidos) deveria sofrer, “pelo menos”, o sabor de uma derrota num embate futebolístico? Por que um desejo mórbido e subliminar de que o Presidente Luís Inácio LULA da Silva venha a ser derrotado a todo custo (inclusive, num embate futebolístico que está circunscrito à paixão de um entretenimento)? A aludida derrota ocorrida, que causou “torcicolo” ao presidente, deve ser a derrota de seu governo? É um mal governo?!?! Nascer em Pernambuco e não se contentar “com a espetacular vitória de um time do Nordeste (o Sport Clube do Recife está de parabéns!!!) e , no campo das especulações somáticas de outrem, ir “para a cama com uma tremenda dor de cabeça” é sinal de esquecer as origens?
Por que LULA não pode ser um fanático corinthiano? Deveria ser, obrigatoriamente, rubro-negro, torcedor do Sport Clube do Recife? Por que o estranhamento pelo fato de LULA não ter tido, no campo da especulação psicológica, “nenhuma pontinha de orgulho por um time de Pernambuco ter dado um show de bola e entrado, definitivamente, para a elite do futebol nacional”?
Por que a expressão “LULA baixou a crista”? E por que a ilação de que ele, ainda no campo da especulação psicológica, falou “da boca para fora”? Por que LULA deve “se redimir da torcida (neste caso, a vitoriosa nação rubro-negra pernambucana) contra (o) que fez”?
Por que LULA, o Presidente reeleito pelo povo (inclusive, por muitos eleitores da nação rubro-negra pernambucana), estaria, mais uma vez o campo da especulação psicológica, “com ódio do Sport, porque o seu coração é corinthiano e a sua alma paulistana”? Como ter a certeza de que só resta ao presidente reeleito, Luiz Inácio LULA da Silva – representante maior da nação BRASILEIRA, “uma foto pendurada na sua parede quando era garoto em Caetés”? E por que a tal foto pendurada na parede não doeria como doeu nos versos de Drummond?
RESPOSTAS QUE ENCONTREI:
Ainda que sejamos livres para tomar posições, inclusive, políticas; ainda que tenhamos o livre-arbítrio de não comungar com determinadas ideologias; devemos nos contrapor com argumentos sólidos e não com uma simples vontade de que o outro perca. Desejar a derrota do Presidente LULA, mesmo que no âmbito de uma disputa de final de campeonato, parece-me uma predileção mesquinha e turvada pela miopia político-desportiva.
A simpatia pela derrota de LULA traz em seu bojo a derrota de um projeto político que, bem ou mal, está tornando o Brasil um país diferente. Diferente dos tempos em que as elites conservadoras (sobretudo, as de origem genuinamente sudestina) governavam este país. Diferença substancial e nunca antes vivenciada. Não devemos nos esquecer de que a derrota do LULA é a derrota do povo que o elegeu. Num sistema democrático, o desejo majoritário* deve ser respeitado (60,83% de votos válidos no segundo turno). Isso, evidente, não quer dizer que os que viram o seu projeto político ruir devam baixar a guarda e não lutar pelo poder perdido. Entretanto é preciso serenidade e não a gratuidade e a mesquinhez que os apequenem.
As origens não são esquecidas por uma opção futebolística. Aqui há uma flagrante e tresloucada “exegese” do que vai na alma do Presidente LULA. Ele, como qualquer um de nós, tem a liberdade de não torcer pelo Sport Club do Recife, pelo Clube Náutico Capibaribe ou mesmo pelo meu glorioso Tricolor do Arruda (as coisas não andam boas, mas vão melhorar); como também tem a liberdade de torcer pelo Corinthians. Isso o faz esquecer as origens? Não podemos especular de modo gratuito.
Reflitamos sobre os fatos: Aos sete anos, o menino Luiz Inácio e família migram de Caetés - PE para o litoral paulista. Viajando por treze dias num “pau de arara”, o moleque, que viria a ser um grande líder político (as elites e os analistas de plantão jamais apagarão esta condição que LULA encarna) e Presidente da nação brasileira, chega a Vicente de Carvalho, bairro pobre do Guarujá. Certamente deve ter se deslumbrado (aqui é ilação minha) com o que de diferente havia em relação a seu torrão natal: a miséria, naquelas terras, seria menos penosa. Estava ele em 1952. Um ano antes, o Corinthians havia conquistado o campeonato estadual e repetiria o feito no ano da chegada de LULA a São Paulo. No campo das conjecturas, nada mais natural que o garoto oriundo de Caetés (então distrito de Garanhuns – agreste pernambucano) se sentisse inclinado a torcer e se apaixonar por um time vitorioso (naquele período, o Náutico pernambucano fora campeão em 1950, 1951 e invicto em 1952). O que não é conjectura – mas estreiteza de análise política, social e psicológica – é a consideração de que deva ser natural que o hoje Presidente da República tenha que torcer desbragadamente pelo Sport Clube do Recife, Clube Náutico Capibaribe (é o seu time aqui em Pernambuco, dizem) ou mesmo o Santa Cruz Futebol Clube, apenas, por ter nascido e vivido sete anos em nosso admirável Estado. LULA não fez nada contra a torcida do Sport Clube do Recife e muito menos contra o povo pernambucano, pois o glorioso Leão da Ilha do Retiro não é o único time de Pernambuco. Há cidadãos da terra paranãpuka ou paranampuka (“o mar que bate nas pedras”) que torcem pelo Náutico, Santa Cruz, Central, Porto, Ypiranga, Salgueiro, Serrano e Íbis. Portanto, caro Magno Martins, o LULA não tem que se redimir de nada.
A alusão a Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987):
Confidência do Itabirano
Carlos Drummond de Andrade
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Permita-me, com todo respeito que tenho a seu trabalho, foi um despropósito relacionar a suposta indiferença do Presidente por sua origem ao texto de Dummond. Isso, a meu ver, só confirma a tresloucada “exegese” da alma de um homem, cujo posicionamento político não agrada a todos. A foto pendurada na parede, quando LULA era garoto em Caetés, não sei se existe. Não importa. Quem sabe exista, pendurada no coração do Presidente, uma foto indelével da vida de miséria que vivera em Pernambuco, durante sete anos?!?! E isso... Só ele pode nos dizer... Se desejar, claro.
Um detalhe: No blog não há nenhuma referência à frase de LULA a respeito da vitória merecedora do Sport Club do Recife. Esta informação aparece, apenas, na coluna FOLHA POLÍTICA do jornal FOLHA DE PERNAMBUCO. A frase é: “O Sport jogou melhor. Futebol é isso: quem joga melhor, ganha” (Presidente LULA)
Ademais, “ a encenação [não] faz parte [apenas] do rito demagógico e oportunista da política”, mas do jornalismo, da religião, dos diversos papéis sociais que encarnamos ou venhamos a encarnar. Isso, claro, se desejarmos encenar de modo demagógico e oportunista.
* Nascido na cidade de Afogados da Ingazeira – PE – BRASIL, foi secretário de imprensa do Governo Joaquim Francisco (1991) e possui extensa atuação jornalística (Correio Braziliense, Jornal de Brasília, O GLobo, Agência O Globo, Agência Meridional, Diário de Pernambuco). Presidiu, também, o Comitê de Imprensa da Câmara dos Deputados e fundou (1999) a Agência Nordeste, numa sociedade com o Grupo Folha de Pernambuco, do empresário Eduardo de Queiroz Monteiro. No mesmo grupo, assina a coluna Folha Política, no jornal Folha de Pernambuco.
** A 92ª edição da Pesquisa CNT/Sensus nos informa que o Governo do atual Presidente alcançou, em abril de 2008, uma taxa de aprovação de 57,5% - a mais alta desde que foi alçado ao poder, em2003, pelo voto popular. Já o desempenho pessoal do Presidente girou em torno de 69,3%.
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